A construção se ajusta às mudanças macroeconômicas, decorrentes da nova fase das circunstâncias internacionais, e empresários prosseguem otimistas, embora sabendo que o País precisa atualizar sua infraestrutura, se quiser garantir resultados
Nildo Carlos Oliveira – Brasília (DF)
O encontro que o empresário Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), manteve com a imprensa, dia 8 de dezembro, em Brasília (DF), contribuiu para desenhar um cenário que, a serem mantidos os números expostos pelos economistas da entidade, é de confiança na continuidade do crescimento setorial ao longo de 2012. A perspectiva é de que a construção civil consolide um crescimento de 5,2%, índice acima dos 4,8% de expansão que vêm sendo calculados para aquele período.
O ambiente macroeconômico ficou sinalizado, em 2011, pelo aumento dos riscos à estabilidade financeira nos Estados Unidos e na Europa. Houve elevação dos problemas fiscais; foi detectado perigo inflacionário nas economias emergentes, incluindo na economia brasileira, o que se refletiu no aumento do preço de commodities; registraram-se instabilidades no Norte da África e no Oriente Médio e agravou-se a situação na chamada Zona do Euro. Houve até pânico em algumas bolsas.
No Brasil, o governo agiu com alguma rapidez. Resumidamente, ele fez o seguinte, segundo os dados coligidos e estudados pela CBIC: aumentou os juros para desacelerar a economia e reduzir o fôlego da inflação; já a partir do final de agosto, reduziu os juros e adotou medidas de estímulo ao consumo interno, desonerando tributos incidentes sobre os produtos da linha branca e sobre o crédito ao consumidor; e incentivou a construção civil, ampliando o teto do imóvel sobre o qual incidia a alíquota de 1% do Regime Especial de Tributação (RET), que subiu de R$ 75 mil para R$ 85 mil, o que alentou o programa Minha Casa, Minha Vida.
Segundo o presidente da CBIC, as medidas que o governo resolveu adotar, incluindo o aumento dos juros, responderam positivamente às expectativas de um crescimento considerado “bem mais moderado da economia nacional em 2011”.
Independentemente dos fatores da crise internacional e das possibilidades de alguma vulnerabilidade brasileira por conta disso, a construção civil seguiu registrando “incremento consistente em suas atividades”. Em 2010, ela obteve desempenho considerado recorde e, em 2011, os números alcançara um patamar de maior equilíbrio e sustentabilidade. Portanto, aquele círculo virtuoso que se iniciou em 2004, continuou. E, por que ela obteve resultados julgados muito significativos? A CBIC explicou:
“Houve maior oferta de crédito imobiliário, dado que se aliou às medidas de redução da taxa de juros dos financiamentos e do alongamento dos prazos para pagamento; registrou-se aumento do emprego formal, do crescimento da renda familiar e a macroeconomia ficou estável. Registraram-se também alterações no marco regulatório. Haja vista, o advento da Lei 10.931, de 2004, que instituiu o chamado “patrimônio de afetação”, estabeleceu requisitos para demanda sobre contratos de comercialização de imóveis, tratou da atualização monetária desses contratos e criou novos títulos de créditos para incentivar o mercado imobiliário. Além disso, começaram a ser executados os projetos das obras do Programa de Aceleração do Crescimento e do programa Minha Casa, Minha Vida.
Por conta dessas providências, o crescimento da construção civil, no período de 2004 a 2010, foi da ordem de 42,41%, estabelecendo uma taxa anual de 5,6%. Nesse cenário, o PIB da construção, em 2010, foi da ordem de R$ 165 bilhões, correspondente a 5,3% do PIB total do País.
RAZÕES PARA MANTER O OTIMISMO
Paulo Simão disse que o incremento de atividades previsto para 2011 é de 4% a 5%, índices que, confirmados, mostrarão um crescimento inferior ao de 2010, quando a maior elevação registrada chegou a 11,63%.
Ele considera importante ver as coisas sob o aspecto de sua relevância. Quer dizer com isso que o incremento esperado para este ano (2011) ocorrerá em relação a uma base bastante elevada. Assim, mesmo que os indicadores, para a construção civil, se revelem moderados, eles não deixarão de ser expressivos.
Dificuldades há e continuarão a haver. Mas o segmento vem procurando ajustar-se às suas próprias exigências e às exigências do País. Os empresários da construção sabem que a continuidade do ritmo de expansão de 4% a 5% não dependerá unicamente dela, mas de outros fatores, tais como maior volume disponível de crédito imobiliário; execução de obras nesse segmento; prosseguimento da contratação de empresas de engenharia para elaboração de projetos e execução de obras de infraestrutura; aumento da construção industrial; expansão da construção comercial e habitacional e aumento de investimentos privados, sem contar, claro, com aquelas obras estimuladas pelos dois eventos esportivos próximos – a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.
A construção, afirmou o presidente da CBIC, “é a grande protagonista do desenvolvimento brasileiro. E o crédito imobiliário tem papel importante no avanço setorial. É que o desenvolvimento da construção civil – e da Engenharia como um todo – impulsiona o desenvolvimento em função de suas peculiaridades: ampla cadeia produtiva (8,1% do PIB); grande capacidade de absorção de mão de obra e capacidade de gerar renda no conjunto da economia.”
Contudo, para a garantia de que as coisas continuem sob tais cores, há muito chão pela frente. Algumas das condições para que isso continue a acontecer: o financiamento imobiliário precisa continuar crescendo e ajudando as atividades setoriais. (Nesse sentido, a Associação Brasileira de Poupança e Empréstimo está prevendo, para 2014, que o crédito imobiliário representará 11% do PIB nacional); a política habitacional tem de continuar na agenda de prioridades, removendo os gargalos que ainda dificultam o avanço da segunda etapa do programa Minha Casa, Minha Vida; resolver a questão do preço das unidades, nos grandes centros urbanos, uma vez que ele é um obstáculo para grande parte dos interessados potenciais. E fazer obras nas áreas da infraestrutura, sobretudo no saneamento básico, transportes (rodovias, ferrovias e hidrovias), portos, aeroportos, energia e em outras.
O avanço necessário, para isso, requer o encontro de novas fontes de financiamento; soluções para a contratação de mão de obra qualificada; aumento da produtividade via industrialização da construção, e elaborar programação de inovação tecnológica.
SANEAMENTO
No encontro com a imprensa, e em especia l dirigindo-se à revista O Empreiteiro, Paulo Simão criticou a situação, hoje, do saneamento no País. Disse que, para esse fim, o governo tem até recursos robustos, mas a aplicação é “zero” e que isto é inaceitável para um país que, segundo estimativas, já seria a 7ª maior economia mundial. Ele criticou a falta de gestão, a carência de estruturas regionais para colocar os planos de saneamento em execução e que não há planejamento, até do ponto de vista dos Estados.
CONSTRUÇÃO CIVIL – RESUMO DOS PRINCIPAIS INDICADORES – BRASIL
INDICADORES
Prognósticos do Sinduscon-SP
Joás Ferreira
A evolução do Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil, esperada para 2011, é de 4,8%.
Já para 2012, os prognósticos de crescimento são de 5,2%. Mesmo com números positivos, que ultrapassam os índices esperados para o PIB do País (cerca de 3,0% e 3,5%, respectivamente), o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) prefere manter um otimismo moderado em relação ao desempenho do setor.
De acordo com Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, os resultados de um período só são sentidos pelo mercado da indústria da construção no longo prazo. Assim, os índices apresentados ainda são, de alguma forma, reflexos do período excepcional vivido pelo setor, em 2009 (crescimento de 8,3%) e 2010 (15,2%).
Entre os indicadores mais expressivos, dentro do panorama divulgado no início de dezembro, pelo Sinduscon-SP, está o do nível de emprego formal da construção brasileira, que cresceu 9,2% no período janeiro-setembro de 2011, comparado ao mesmo período de 2010. Em setembro, o setor empregava 3 milhões 128 mil trabalhadores (de janeiro a setembro, 298,5 mil trabalhadores ingressaram no setor). O custo de mão de obra, entretanto, também figura como o principal ingrediente na composição do Índice Nacional de Custo da Construção do Mercado (INCC-M), da Fundação Getúlio Vargas, representando 11,39%, em novembro deste ano. Seguido por serviços (6,03%) e materiais e equipamentos (4,10%).
A reavaliação do PIB de 2009 trouxe uma importante mudança, segundo a direção do Sinduscon-SP. A entidade trabalhava com a previsão de que a construção havia crescido 1% naquele ano, quando na verdade o índice foi de 8,3%. Com isso, a expectativa teve de ser revista para os anos seguintes, estimando-se que a construção tenha crescido 15,2%, em 2010, e, neste ano, deverá atingir 4,8%.
O Sinduscon-SP acredita também que a previsão para 2012 deverá se concretizar, desde que o governo continue tomando medidas econômicas para assegurar o crescimento do PIB. A entidade vê como positivas essas medidas e considera que elas devem ser aprofundadas, com o prosseguimento da desoneração da produção, o estímulo à produtividade na iniciativa privada e o aumento da eficiência da administração pública.
Espera-se muito do programa Minha Casa, Minha Vida. Ele caminhou mais lentamente em 2011. A segunda fase do programa entregou, até outubro, 118.085 unidades, tendo outras 199.226 unidades em execução. Já até o fim de 2010, último ano da primeira fase, haviam sido entregues 338.055 unidades e mais de 667 mil estavam em andamento, totalizando cerca de um milhão de unidades. Em 2012, segundo o sindicato, o programa deve progredir mais rapidamente, assim como as obras para os eventos esportivos de 2014 e 2016.
O crédito para habitação e infraestrutura também deverá continuar se expandindo em 2012.
No município de São Paulo, até setembro de 2011, as vendas de imóveis novos atingiram 19.873 unidades. Em 2010 foram 24.605 unidades vendidas. Já com relação aos lançamentos, até outubro de 2011 foram lançadas 26.365 unidades. Em 2010 esse número alcançou a marca de 25.818.