É voz geral na consultoria de engenharia, especialmente na área de estudos e projetos, que a pandemia acelerou o que já estava a caminho: a disseminação do teletrabalho a partir da adoção dos ambientes digitais de colaboração.
A operação, no caso, pode envolver pessoas vivendo em países diferentes ou simplesmente separadas por uma parede, quem sabe trabalhando na mesma sala. O que importa é estar colaborando em equipe, via rede.
Meu exemplo preferido é o de um time que por orientação do cliente foi reunido em um escritório e, poucas semanas depois, decretado o salve-se quem puder, estava espalhado por seis cidades, dois continentes diferentes, e performando muito bem. Uma empresa que funciona assim, portanto, pode hoje recrutar gente em qualquer lugar,
uma vantagem e tanto. Isso tudo só se tornou viável através das inovações que assumimos nos últimos anos.
A pandemia mostrou que o mundo se divide em dois grandes blocos, o dos negócios que só sobrevivem presencialmente e aqueles que vivem tão bem, ou melhor, no teletrabalho ou home office. É como se cogitássemos viver num regime em que alguns são obrigados a sair de casa e outros têm a opção de só sair se quiserem. Você fica
em casa, projeta um sistema de abastecimento d’água, alguém sai de casa, faz o levantamento topográfico, outros saem de casa, instalam o sistema, fazem a supervisão, o comissionamento, e a água chega na torneira de sua casa, onde você continua projetando outras coisas, esperando o iFood chegar.
Uma imagem mais radical é a da nave espacial. O ambiente ao redor não permite a sobrevivência de humanos. Você fica morando lá dentro, e se há necessidade de um reparo externo, alguém veste um traje de sobrevivência, sai, executa o que for, e volta ao ambiente protegido.
Algumas resistências oferecidas à novidade não vão se sustentar. A ideia de que equipes de engenharia se forjam debruçadas em volta de plantas espalhadas sobre uma mesa e que a cultura da empresa não se firma se as pessoas não convivem presencialmente, está fadada a ser arquivada na mesma pasta da memória onde se encontram a régua de cálculo e a prancheta. Uma reunião semanal ou quinzenal pode ser suficiente. Os softwares de comunicação via tela ainda vão progredir muito. Aquela mania do engenheiro de dar suporte à fala riscando um papel tem sobrevida garantida. O whiteboard está aí para provar. O desafio é aprender a usar bem estas ferramentas.
Para muita gente, é difícil aceitar que reuniões virtuais sejam mais eficientes do que as presenciais, mas em geral, são.
Os desafios, porém, existem. Um dos principais deles diz respeito à qualidade de vida de quem vai ficar trabalhando em casa. Monotonia, falta de convivência social, horas e horas sem intervalo para distração e exercício corporal, enfim, riscos não faltam para ocupar a gerência de recursos humanos.
E para falar a verdade, devemos ressalvar que o homem é um animal social e que apesar de todas as vantagens é possível que vencida a pandemia a turma prefira voltar ao que era antes, gastar umas duas horas por dia no trânsito, e ser feliz, tomando o cafezinho insubstituível que só a presença dos colegas de corredor é capaz de providenciar. Não há outra máquina de café expresso que distribua tanto prazer.