MRS Logística vai aplicar cerca de R$ 2 bilhões nos projetos de segregação Sudeste e Noroeste, que têm como escopo principal a separação das operações dos trens de carga e de passageiros na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). A proposta é uma contrapartida pela renovação antecipada da concessão da MRS acertada com o governo federal. Serão construídos cerca de 90 km de linhas férreas em dois trechos – Brás-Rio Grande da Serra e Jundiaí-Barra Funda –, que vão permitir o tráfego das composições de carga em linhas exclusivas. Hoje as cargas que partem do interior paulista para o Porto de Santos precisam passar pela região mais populosa do País, o que acaba sendo um gargalo, pois é justamente o local em que há um fluxo intenso de trens de passageiros circulando.
A segregação permitirá que as composições, com origem ou destino no Porto de Santos, entre outros trechos, possam circular sem restrições de horário e dimensões, ao contrário do que ocorre atualmente. As segregações também permitirão a liberação de espaço na faixa de domínio para implantação do Trem Intercidades, projeto de mobilidade urbana considerado prioritário pelo governo do Estado de São Paulo. “O empreendimento tem como objetivo o aumento da capacidade do transporte de cargas sobre trilhos na região, por meio da redução das atuais restrições impostas pela operação compartilhada com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM)”, afirma Rômulo Alves, gerente de Planejamento e Controle de Obras da MRS.
As restrições envolvem número restrito de faixas de circulação, janelas horárias específicas, limitação do tamanho das composições e menor carga por eixo. “A via segregada proverá uma rota alternativa de conexão entre a Baixada Santista e o interior paulista, sem as interferências atuais com o transporte de passageiros”, frisa. “Vale observar que o projeto vai gerar melhorias ao usuário do transporte metropolitano, que atualmente convive com impactos operacionais durante a circulação compartilhada com o trem de carga”, acrescenta Alves. O projeto prevê também a implantação de dois terminais intermodais na região da Lapa e da Mooca na capital, possibilitando uma melhor integração com importantes polos de recebimento e distribuição de cargas conteinerizadas.
A MRS construirá as novas linhas férreas paralelas às atuais da CPTM – a segregação Sudeste ocorrerá pela linha 10 e a segregação Noroeste ao longo da linha 7. A nova configuração do trecho fará com que as duas linhas fiquem dedicadas exclusivamente ao transporte de passageiros pela CPTM, e a empresa vai construir a sua ferrovia para operação dos trens de carga. A segregação Sudeste vai ter 35 km de extensão entre Brás e Rio Grande da Serra, com seis pátios de cruzamento e prevê a intervenção e melhorias em dez das 13 estações existentes na linha 10 da CPTM, incluindo a construção de três novas estações. Já a segregação Noroeste envolve o trecho Jundiaí-Barra Funda e terá 56 km de extensão, seis pátios de cruzamento e um novo túnel, com aproximadamente 2 km de extensão, exclusivo para os trens de carga da MRS, que será executado na região de Botujuru.
Nesse trecho haverá melhorias em 11 das 17 estações da linha 7, incluindo a construção de três novas estações (Água Branca, Lapa e Caieiras). O novo túnel será construído usando as tecnologias mais avançadas para esse tipo de obra, promete a MRS. Mesmo assim, segundo a companhia, a obra vai representar um enorme desafio para logística de equipamentos e materiais, tendo em vista as condições difíceis de acesso rodoviário e ao elevado volume de material que será escavado. São cerca de 400 mil m3 de terra, o equivalente a mais de 360 piscinas olímpicas cheias. No total, o projeto vai contar também com mais de 60 obras de muros de contenção. Além disso, para viabilizar o espaço físico para construção da nova linha, será necessário remanejar diversos segmentos das linhas atuais da CPTM, incluindo quase 20 km de linhas da rede aérea e sistemas de sinalização existentes nas linhas 7 e 10. “O maior desafio do empreendimento será a realização das obras simultaneamente à operação dos trens de passageiros da CPTM.
Há trechos em que haverá a necessidade de remanejamento da infraestrutura atual do serviço de trens metropolitanos e, para mitigar os impactos aos passageiros que fazem uso do serviço de transporte, o trabalho será executado em períodos curtos de intervalo durante a madrugada e nos finais de semana. Além disso, o projeto prevê interferências com terceiros, por exemplo, a rede de dutos de gás e combustível na região do trecho Sudeste”, explica Alves.
De acordo com o gerente de Planejamento, o empreendimento encontra-se na fase final de contratação do projeto básico, com estudos diversos em campo, para o levantamento de dados de engenharia. “Estão em desenvolvimento, ainda, os estudos de impacto ambiental para obtenção da licença prévia. Paralelamente a isso, estão sendo realizados mapeamentos das necessidades fundiárias para a compatibilização do empreendimento. As obras têm previsão de início em 2025, sendo que as entregas, em fases, começam a partir de 2027, com a sua conclusão total em 2034”, revela.