Gostaria de dizer, no começo dessa nossa conversa, que nasci em Viterbo, na Itália. Viterbo fica ali, na região do Lazio. Nasci há 59 anos. Pode parecer alguma coisa insólita, mas desde os meus tempos de criança tive uma inclinação que diria natural, para brincar com máquinas, precisamente, com tratores. Poderia ter em mãos os carros mais diferentes, pequenos modelos de automóveis, mas o meu forte mesmo eram os tratores e seu curioso mecanismo. Passei a infância e a adolescência como todos os amigos daquela época, até que ingressei nessa vida profissional que vocês, de O Empreiteiro, conhecem.
Mas vocês querem saber como cheguei aqui, porque cheguei. Havia ingressado na Fiatallis, quando a empresa, no Brasil, funcionava na via Anchieta. Isso já faz um tempo enorme: 38 anos. Claro que naquele começo tive de superar uma série de dificuldades. Uma delas era a língua. O meu português era pobre e não foi fácil entender muita coisa. Mas fui me acostumando. De qualquer modo, achava engraçada essa relação de componentes de máquinas com o nome de alguns bichos. Veja só: cilindros hidráulicos eram chamados de macacos e alavancas de embreagem, de cachorrinhos.
Nesse trabalho com máquinas, a minha evolução ocorreu naturalmente. Quando nos iniciamos em um novo empreendimento, a tendência é nos sentimos uma parte importante do processo. E isso faz com que a gente se sinta mais atraído pela empresa e pelo grupo. O fato de termos chegado ao Brasil antes que outros italianos de outras empresas, fez com que nos sentíssemos até mais brasileiros do que os que chegaram depois. E o sucesso obtido pela Fiatallis primeiro, e em seguida, pela New Holland Construction, estreitou ainda mais esse relacionamento entre o profissional e a empresa.
Mercado e evolução
Derivando um pouco do campo pessoal para o profissional, sobretudo para o mercado, que é o meu forte, gostaria de lembrar que naqueles tempos da Fiatallis na Anchieta, as primeiras máquinas produzidas eram tratores de esteira que tinham muita procura, devido à necessidade de abrir fronteiras agrícolas, “interiorizar o desenvolvimento”, como se dizia na época, preparar a infra-estrutura das fazendas e construir estradas para a ligação entre municípios. A primeira grande venda de 500 tratores de esteira foi feita em Minas Gerais, Estado que, coincidentemente, dentre todos os demais, possui o maior número de municípios. Foi natural, portanto, a abertura e manutenção da filial em Belo Horizonte. E o que me impressionava foi a vinda de quase todos os prefeitos, pessoalmente, para adquirir peças para manutenção, devido à importância que a máquina assumia para cada município.
Mas a evolução é inevitável. A New Holland, a mais antiga fábrica do Grupo Fiat no Brasil, passou por mudanças muito fortes que hoje a colocam entre os centros industriais mais modernos do mundo. Em junho deste ano, por exemplo, nossa planta mineira ultrapassou em mais de 40% a capacidade concebida anteriormente. Produziu quase 1.500 equipamentos.
“Manufatura enxuta”
Ah, sim, vocês querem algum dado dessa fase. Vou explicar: Em razão o crescimento a que me referi, há aproximadamente três anos a configuração de nossa unidade industrial caminhou para o que o é conhecido mundialmente como “manufatura enxuta”. Como não dispúnhamos de espaço físico suficiente para o volume de produção, resolvemos modificar a forma de produzir. De que maneira? Ora, otimizando cada espaço interno. Com essa orientação, a unidade focou em seu core-business e muitos componentes, antes produzidos em Contagem, tais como tubos e peças de caldeiraria, foram terceirizados. Estabelecemos um cronograma rígido com toda rede de fornecedores e, hoje, todos eles se pautam até com seis meses de antecedência.
Nas linhas de montagem, também houve muitas melhorias. Os tradicionais compartimentos de peças foram substituídos por carrinhos e cada montador, ao invés de pegar peças em boxes, leva-as consigo em seu próprio equipamento de transporte. É um procedimento que aumenta muito a concentração do operador na montagem. E previne erros. Além disso, o parque de máquinas industriais foi reformulado, com três novos centros de usinagem, que são máquinas muito avançadas para a produção de chassis, braços e outros conjuntos dos equipamentos. Para lhe dar uma noção prática dessas melhorias, lembro que há três anos, para se produzir uma motoniveladora, levava-se mais de 30 dias entre a primeira compra junto aos fornecedores, até a expedição do produto. Com as mudanças, o tempo caiu para nove dias.
Os efeitos da globalização nas mudanças
Sobre isso – os efeitos de que O Empreiteiro fala – posso dizer o seguinte: tudo foi muito positivo. Hoje as máquinas são as mesmas – e as melhores disponíveis – em qualquer lugar do mundo. Facilitam a execução de obras das grandes construtoras, independentemente de onde estejam localizadas.
Contudo, devido a algumas necessidades e às condições climáticas brasileiras, as máquinas que trabalham aqui em diferentes segmentos de mercado, operam duas a quatro vezes mais do que nos Estados Unidos e na Europa. Isto dá a impressão de que as máquinas no Brasil dão mais problema do que em outros países. É ilusão. Elas têm a mesma qualidade e performance que os mais avançados equipamentos de construção ofertados em qualquer outra região do mundo.
O Brasil, um país já desenvolvido
Vocês têm chamado a atenção para uma frase minha segundo a qual o Brasil, para nós, não é um país em fase de desenvolvimento, mas um país já desenvolvido. É assim mesmo que encaramos o Brasil. Imaginamos o Brasil já desenvolvido naquilo que se refere a máquinas e tipos de obras. Sob esse aspecto, a New Holland tem condições de suprir a demanda de qualquer segmento de mercado que precise de equipamentos. E com os recentes lançamentos, mais que qualquer outro fabricante.
Acreditamos que a nossa ampla gama de máquinas, muitas especializadas, terão cada vez maior possibilidade de aplicação, “ nesse país desenvolvido”.
Outro dado que quero deixar explícito: o mercado brasileiro deve fechar acima de 10 mil máquinas. É um recorde nos últimos 20 anos. E estamos projetando um crescimento em 2008 entre 15% e 20%.
E quanto ao profissional Gino Cucchiari? O que mudou?
Quanto a isso, tud
o está ótimo e em ordem. Estou com a mesma garra que tinha quando me iniciei nessa atividade, nessa familiaridade com máquinas e equipamentos, há 38 anos. O que me distingue hoje, em relação àquele tempo da Anchieta e a outros tempos – é que agora tenho a grande vantagem de conhecer com maior profundidade a realidade brasileira. Além disso, tenho a alegria de me considerar amigo pessoal de grande parte dos nossos clientes. Anote aí: o profissional Gino está melhor do que nunca.
Fonte: Estadão