Nildo Carlos Oliveira
O projeto, elaborado segundo os parâmetros de qualidade do escritório Edo Rocha Arquiteturas, tinha em vista edifício comercial multiuso constituído de seis subsolos, dois pavimentos com lojas e salas de prestação de serviço, 16 pavimentos de escritórios, dois pavimentos técnicos e heliponto. A obra, iniciada em janeiro de 2013, foi concluída em maio deste ano e, segundo a Bueno Netto Engenharia, incorpora diversas inovações.
O engenheiro Marcos Aurélio Silva, gerente de obra, diz que o cuidadoso planejamento prévio, seguido em cada fase, aliado à facilidade logística, contribuiu para o bom resultado final. Não se tratava de uma área situada em área urbana problemática, ou exígua, conforme costuma ocorrer nas construções projetadas em centro urbano. Ali, em Barueri, foi possível o recebimento de materiais e equipamentos ao longo do dia, durante todo o tempo. De modo que os ciclos de trabalhos puderam ser favoravelmente dimensionados.
Embora tudo tenha decorrido dentro da logística e do planejamento meticuloso, o prédio não ficou imune, como é natural, à necessidade de alterações construtivas. Haja vista a mudança no projeto de fundação, que previa a construção de blocos apoiados em estacas-raiz. A construtora começou a estudar, em conjunto com a empresa Damasco Pena Engenharia Geotécnica, a possibilidade de tornar viável uma fundação direta.
A substituição resultou em dois grandes benefícios, segundo Marcos Aurélio. Primeiro, na economia – algo em torno de R$ 1,5 milhão em relação ao valor que seria dispendido caso a solução continuasse a ser a inicialmente prevista. E, segundo, a redução do prazo. O engenheiro diz que estaca-raiz pode ser trabalhosa, mas a produção é baixa.
Em contrapartida – por conta da mudança no projeto de fundação – surgiram algumas dificuldades técnicas. Por exemplo: três grandes blocos de sapata tiveram de ser concretados em três etapas diferentes cada um. Eram blocos com volumes superiores a 1.200 m³ para os quais, em função da temperatura no núcleo, se exigiu traço específico do concreto. Consultores experientes, dentre eles o professor Alexandre Tomazeli, da Toten – Tomazeli Tecnologia e Engenharia – acompanharam o processo de concretagem.
“Tivemos de desenvolver traço especial”, explica o engenheiro, “para manter a temperatura em até 16°C no momento do lançamento do concreto. Houve controle na usina, para assegurar a precisão da dosagem, e controle no canteiro, que obrigava a leitura não só do slump, mas da temperatura, durante todo o tempo”. Inicialmente planejou-se a concretagem em etapa única. Os consultores ponderaram, no entanto, que o melhor seria fazê-la em três fases.
Marcos Aurélio lembra que a decisão para mudar o projeto de fundação resultou de diálogo tecnicamente enriquecedor, que requereu novos estudos, cálculo e intercâmbio de experiências entre os consultores e a construtora.
Outra mudança diz respeito aos subsolos. Inicialmente seriam cinco. Contudo, em função da quantidade de usuários que ocupariam a área construída – no pico deverá ocorrer uma demanda permanente de 6 mil pessoas – decidiu-se criar mais um. Essa alteração, porém, foi definida durante a aprovação da planta pela prefeitura.
A concretagem
O planejamento considerou o lastro de concretagem que abrangeria os seis subsolos, o térreo, os 18 pavimentos e as áreas técnicas. A estrutura foi dimensionada com lajes planas do 6° subsolo ao 1° subsolo; já do térreo ao 21° pavimento, seriam executadas lajes nervuradas unidirecionais, obtidas por meio de cubetas, vigas de borda e, em alguns trechos, com laje protendida; da fundação ao 2° pavimento foi utilizado concreto FCK-50 MPA para os pilares e 40 MPA para lajes, vigas e blocos. Mas, a partir do 3° pavimento, foi utilizado concreto FCK=40 em todas as peças (pilares, vigas e lajes).
Mudança no projeto de fundação proporcionou economia de R$ 1,5 milhão no custo e redução no prazo
“Nós tínhamos, portanto, um misto de laje nervurada e laje convencional”, conta. Em alguns trechos, a laje é protendida. Nos subsolos as lajes são do tipo plana, ou seja: não há viga em nenhum ponto delas. Há, apenas, os capitéis, de onde afloram os pilares. Tal solução implicou aumento da taxa de aço, mas permitiu melhorar a questão do pé direito e facilitar as instalações, onde há um grande volume no teto.
Para executar a estrutura a construtora operou com duas torres dotadas de cremalheiras duplas de 2.000 kg e velocidade da ordem de 50 m/min; mastro de concretagem e duas gruas com 48 m de lança e 2000 kg na ponta.
Um destaque, na concepção e construção da estrutura, é a fachada ventilada. Marcos Aurélio chama a atenção para esse fato, informando que foi feita uma divisão no processo executivo. “Quando fizemos a concretagem do 9° pavimento”, disse ele, “montamos uma bandeja de proteção em torno de todo o perímetro e começamos a instalação dos balancins posicionados a partir do 8° pavimento. Isso foi feito para que pudéssemos atender do 7° ao 2° andares e iniciássemos a execução da fachada concomitantemente à da estrutura”.
Ele diz que o mesmo procedimento foi adotado em relação à colocação da pele de vidro, fixada no sistema unitizado. A simultaneidade das tarefas possibilitou atender ao prazo conforme o planejamento.
Instalações
O engenheiro Ricardo do Amaral Barcia, também gerente de obra da Bueno Netto, informa que a edificação conta com uma estação de tratamento de águas cinzas (ETAC), onde são aproveitadas água de chuva, dreno de ar condicionado, e drenagem do solo. Depois de tratadas na estação, as águas cinzas são reutilizadas nas bacias sanitárias e no sistema de irrigação.
Quanto à instalação elétrica, originalmente foi projetada uma central de cogeração para uso no consumo de ponta, gerando energia para todo o edifício. Mas, em março de 2013, houve queda considerável no valor da energia elétrica no País, e o gás, que seria usado pela central de cogeração, registrou acentuada elevação de preço. Em consequência os empreendedores, em consonância com a construtora, concordaram em mudar o projeto, instalando somente os geradores a diesel e adequando os outros sistemas. Apesar disso, o prédio não deixa de ser autossuficiente do ponto de vista do abastecimento de energia. Ele conseguirá atender 100% da carga com a solução adotada. O edifício possui cinco geradores a diesel de 1000 KVA, mais um gerador de 180 KVA destinado à rede jan. O sistema, como um todo, dispõe de uma reserva de óleo diesel de 30 m³. Com esse volume, ele conta com uma autonomia de 22 horas sem a necessidade de reabastecimento. A fachada, paginada segundo a concepção arquitetônica, atrai pela simetria. Foi executada com material importado de Portugal e da Alemanha e contribuiu para personalizar a edificação, em relação aos demais edifícios corporativos que sobressaem no desenho urbano de Alphaville.
Os espaços internos são amplos e, no hall, o pé-direito de 6,5 m harmoniza-se com o piso elevado. É por ali que é disposta toda a infraestrutura elétrica e de TI, sistema que interligado ao conjunto das demais instalações proporciona lógica operacional ao prédio. Tudo passa pelo piso.
O sistema de ar condicionado é composto por quatro chillers de 334 TR. Estes foram fabricados nos EUA. Ele inclui bombas de água gelada, torres de resfriamento etc. Foram selecionados de modo a atender à performance prevista no padrão LEED como referência. A base-line de um prédio dessa ordem é referência na operação para reduzir o consumo e aumentar a eficiência de sua vida útil.
Ao longo de todo o perímetro da fachada estão fixados os termostatos inteligentes que controlam o VAV (Variable Air Volume), de modo a manter uma temperatura baixa ao longo da periferia dos pavimentos. O VAV possui um sistema com damper motorizado que é controlado pelos termostatos.
Em razão das compartimentações e da certificação LEED, os pavimentos, as salas e o open space, possuem controle de CO2. Os wi-fi detêm a função de medir a concentração do gás carbônico e, através da automação, aumentar a vazão de ar externo para a renovação do ar nos ambientes. O edifício possui automação completa, com mais de 500 câmeras de megapixel e autonomia de gravação de três meses, além de outros sistemas de segurança. Por exemplo: o sistema de proteção contra incêndio foi instalado com equipamentos dotados da certificação internacional UL/FM.
Circulação vertical
Projetado com 980 vagas de garagem, o edifício está bem equipado, do ponto de vista de circulação vertical. Tendo em conta aquelas 980 vagas, disponíveis no subsolo, foram instalados dois elevadores de garagem que atendem desde o 6° subsolo, até o primeiro e o segundo pavimentos, correspondentes às áreas de lojas e de empresas prestadoras de serviços.
Além disso há, no 1° subsolo, duas escadas rolantes que atendem ao fluxo de pessoas para o térreo e, do térreo, até o segundo pavimento. Para a galeria dispõem-se de elevadores e escadas rolantes. Já para atendimento do fluxo do prédio e o número eventualmente maior de usuários, foram previstas duas zonas: zona baixa e zona alta. A baixa compreende nove andares – do térreo ao 9° com seis elevadores, cada um com capacidade para 24 pessoas, o mesmo ocorrendo para o atendimento da zona alta. Seis elevadores atendem do 9º, que é o pavimento de transição, até o 18° andar. No conjunto operam 17 elevadores. E conta-se com um elevador de emergência para caso de sinistro.
Os elevadores possuem sistema de antecipação de chamada, o que aumenta a capacidade de transporte e economiza até 30% de energia. Contam com frenagem regenerativa, permitindo o uso de parte da energia devolvida por eles, durante o funcionamento, para a rede elétrica interna da edificação.
Até três meses antes da entrega do prédio, em maio último, havia ainda no local, distribuídos em diversas atividades de acabamento, perto de 700 trabalhadores. No pico houve o registro, em média, de 800 trabalhadores.
No fundo, não se trata de mais um prédio corporativo. É uma edificação com vida operacional autônoma, concebido pela moderna arquitetura, pela inovação dos equipamentos atuais e pela moderna engenharia.
Ficha Técnica – Bradesco Alpha Building em Barueri (SP)
– Área construída: 74.099,63 m²
– Construtora: Bueno Netto
– Projeto de arquitetura: Edo Rocha Arquiteturas
– Projeto estrutural: ETCPL – Escritório Técnico Cesar Pereira Lopes
– Projeto de instalações hidráulicas: Ametista
– Projeto de instalações elétricas: Técnica Engenharia de Projetos
– Projeto paisagístico: EKF Associados
– Principais fornecedores: Ar condicionado – Isolev; Aço – ArcelorMitall; Concreto – Pollimix e Concreserv; Elevadores – Thyssenkrup; Fachada ventilada – Hunter Douglas; Gôndolas para manutenção e limpeza da fachada – Gondomatic; Geradores – Stemac; Impermeabilização – Unimper; Instalações – Eiko; Mármore e granito – Dimármore; Piso elevado – Caviglia; Vidros – Glassec
Fonte: Revista O Empreiteiro