A delícia de Extrema

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A nova fábrica de chocolates do grupo CRM, em Extrema (MG),

ingressa no portfólio de obras industriais da Serpal

Há algum tempo, a fábrica de chocolates e doces Kopenhagen procurava um espaço para unificar as 8 ou 9 unidades de produção e centros de distribuição, espalhados por Barueri e Tamboré, numa planta única. A empresa havia aumentado o faturamento em seis vezes desde que o empresário de Campinas radicado em São Paulo, Celso Ricardo de Moraes, havia comprado a marca em 1996. Foi Moraes, um músico nas horas vagas, que transferiu a indústria do galpão inaugurado em 1943 pela família fundadora da Kopenhagen, do bairro Itaim Bibi, para o município de Barueri, na Grande São Paulo. Foi ele também quem trouxe o café espresso para dentro das lojas e resgatou a imagem de elegância da empresa que existia desde 1928 quando um casal de imigrantes da Letônia começou a vender marzipãs de porta em porta.

Como, na região metropolitana de São Paulo, qualquer atividade produtiva se tornou quase inviável pelo custo dos terrenos, congestionamentos, saturação do pólo industrial do ABC e a necessidade imperiosa de estar próxima ao Rodoanel, a empresa optou por Extrema, no sul de Minas Gerais. Além disso, outras indústrias do ramo alimentício como a Bauducco e a franco-belga (baseada na Suíça) Barry Callebaut, uma fornecedora de insumos para a indústria de derivados de cacau, já estavam naquela cidade.

A própria prefeitura reconhece que a mão de obra em Extrema é escassa e pouco especializada.

Muitas nhás bentas e línguas de gatos depois, entre maio e junho do ano passado, a empresa de terraplenagem Massoco começou o corte-aterro e a formação de taludes da movimentação de terra numa área de quase 80 mil m2, próxima à rodovia Fernão Dias. (Terreno total: 217 mil m2). Na parte final da terraplenagem, a Serpal assumiu os trabalhos e, em 15 meses, a linha de produção de doces e chocolates começou a funcionar.

O processo mecânico de produção da chocolataria inclui esteiras e máquinas importadas da Alemanha e Itália que trabalham em precisa sincronia, mas o acabamento é manual. “O traço artesanal da produção implica grande número de colaboradores trabalhando nas linhas. Desta forma, para que as características do produto – como o figo com cobertura – fossem garantidas e para que se pudesse proporcionar um ambiente de trabalho confortável, foi muito importante o projeto de climatização”, explica Afonso Martins, diretor de contrato da Serpal.

O complexo fabril de 31 mil m2, inaugurado dia 31 de agosto passado, com corredores de visitação e algumas salas fechadas, tem espaço para futuras novas linhas de produção. “Existem muitas máquinas elétricas funcionando, mas, como sempre, o ar-condicionado é o que mais consome energia elétrica”, explica Martins. Para abastecer a ventilação forçada porque não podem entrar insetos ou folhas e precisa atender às normas de higiene da Anvisa, três subestações garantem a climatização a 22º C com um anel de água resfriada pelo chiller a 6º C. Dentro, existem as evaporadoras. “Em todo o processo, a pasta de chocolate está quente, mas a massa de ar a ser refrigerada é imensa. Só no Centro de Distribuição (CD), o pé-direito chega a 8 m”, avalia Martins.

Os empresários do grupo CRM (de Celso Ricardo de Moraes), a holding que controla a Kopenhagen, a Cacau Brasil e a Dan Top, já estão pensando em construir mais um CD. Mais uma oportunidade de negócio para a Serpal, que carrega no portfólio um amplo leque de construções industriais que inclui fábricas de cimento, siderúrgica, produtoras de papel e celulose, indústria automobilística e farmacêutica, além de projetos de mineração com a Vale e a obra recente do auditório do hospital Albert Einstein.

Obra de “peso médio”

“Se a gente considerar que uma farmacêutica

representa uma obra leve e uma siderúrgica uma construção pesada, a Kopenhagen é uma indústria de ‘peso’ médio”, diz Martins. O desafio tecnológico foi a instalação de 16 as bases de concreto das conchas (refinador-conche) de até 3,5 t para refinar a gramatura dos blends, liberar os aromas e realçar o sabor do chocolate, durante 72 horas. “A gente tinha de desligar a linha de produção, transportar e pôr para funcionar, sem comprometer o fornecimento das lojas”, lembra Fernando Vichi. Casado com a vice-presidente e filha do empresário Celso Ricardo de Moraes, Renata Figueiredo de Moraes, o diretor de TI, Fernando Vichi, fez o papel de porta-voz entre a fábrica e a construtora.

Uma vez tomada a decisão chave – o cálculo das cargas horizontais –, a Serpal partiu para definir os sistemas de fundação: hélice contínua com trado operado por computação, tubulão e sapata onde foi encontada rocha sã. “Como o cliente exigiu um rígido cronograma, o escritório LLAD (do arquiteto Ladislau Latos) e a construtora Serpal optaram por desenvolver a obra dentro do modelo chamado fast-track”, relembra o diretor de contrato. Pelo modelo, o detalhamento dos projetos, executados em conjunto com o andamento dos trabalhos no canteiro e com a participação das empresas subcontratadas, foi possível mensurar um importante ganho nos prazos de execução.

Antes de criar o projeto de arquitetura da fábrica – um pavimento único, dividido entre a produção e a área administrativa, encimado por uma faixa marrom de telha de alumínio que contorna a fachada – a LLAD havia criado e uniformizado o layout das lojas que, até 2005, possuíam diferentes designs de mobiliários.

“O cronograma de sobreposição de fases ficou mais ágil porque a construtora e as empresas de instalações pertencem ao mesmo grupo empresarial, a Advento, o que agilizou a comunicação e as tomadas de decisão”. O custo predial (civil e instalações) ficou em R$ 60 milhões com o preço total na casa dos R$ 100 milhões, o grupo optou por comprar materiais, direto dos fornecedores para evitar bitributação. Segundo Martins, a Serpal tem a meta de conquistar perto de R$ 1 bilhão em contratos em carteira, este ano, sendo que mais de R$ 700 milhões já estão garantidos.

Se uma caixa com 610 g de bombons sortidos premium Privilège pode ser vendida por R$ 234,00, em uma das 238 lojas franquedas e 31 da própria Kopenhagen, cada detalhe construtivo foi tratado com cautela. Com projeto estrutural da Serpal, o complexo foi contruído em concreto armado, com vigas e pilares pré-moldados da Munte, cobertura com estrutura metálica e telha zipada da Medabil (com apoios sobre uma malha de 25 m por 20 m), fechamento com placas pré-moldadas com medidas entre 7 e 8 m (com 30 Mpa de resistência), piso em concreto armado aparente e, em algumas áreas, full flex em epoxi. O complexo inclui vestiários, sanitários, o setor administrativo e o CD mais as docas de caminhões também em pré-moldado. A “cara” da fábrica, vista da rodovia, ficou definida por uma entrada revestida de granito, pisos de mármore e interiores com escadarias e balaustre.

A nova fábrica do grupo CRM incorporou uma estação de tratamento de efluentes, o que permite o reúso tanto das águas pluviais quanto da água utilizada nos processos de fabricação. “Como o principal resíduo advém das inúmeras áreas de lavagem e da cozinha do refeitório, o reúso é um elemento importante do projeto”, explica Martins. No período diurno, a iluminação natural zenital em grande escala deixa passar a luz natural por meio de lanternins da cobertura, o que minimiza o uso de energia elétrica. “Esse recurso ajuda a economizar, mas traz a desvantagem de aquecer o ambiente”, avalia o diretor da Serpal.

Desde 2006, a empresa do grupo Advento, passou a executar obras com certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), para atestar os padrões de sustentabilidade e preservação ambiental. “Não temos mais dúvidas de que no local onde se instala uma obra LEED isso interfere no entorno com aspectos como limpeza, qualidade e educação. ‘Encarece’ para a indústria e o governo, mas traz um retorno positivo e se supera a ideia de ‘explorar’ uma área”, exemplifica Luiz Roberto Campanhã, gerente de projetos do Grupo Advento.

Ficha técnica

Cliente: Grupo CRM
Local: Rodovia Fernão Dias, km 925,6, Roseiras, Extrema, sul de Minas Gerais
Área construída: 31.743,40 m²
Área total: 201 mil m²
Volume de concreto: 11.025 m³
Construção e gerenciamento: Serpal (grupo Advento)

Projeto de arquitetura: LLAD

Elétrica, hidráulica, HVAC e iluminação: MHA

Projeto estrutural: Calculum

Projeto de fundações: Geobrax

Projeto de topografia e terraplenagem: Kazutoshi Sibuya

Instalações elétricas e mecânicas: Vox (grupo Advento)

Estrutura e painéis pré-fabricados: Munte

Estruturas metálicas e cobertura: Medabil

Controle de qualidade: Concre-Test

Concreto estrutural: Jofegê

Aço estrutural: Arcelor Mittal

Fôrmas e escoramentos: Pashal

Ventilação: Projelmec

Ar-condicionado: Carrier

Equipamentos elétricos: Zilmer Ineltec e Novemp

Forros: Gyprex

Revestimento de fachada: granito Capão Bonito

Paisagismo: Caza

Fonte: Estadão


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