É preciso ter a coragem política de executar soluções visionárias.” A frase é de Michael Robert Markus, gerente-geral de água no distrito de Orange County, um dos 28 condados da Califórnia (EUA), localizado na região sul do Estado. De certo modo, a frase sintetiza a disposição e o modo de atuação local no enfrentamento da baixa disponibilidade de recursos hídricos.
Um dos palestrantes de destaque do I Fórum Técnico Internacional “Reúso Direto e Indireto de Efluentes para Potabilização”, em São Paulo, Markus compartilhou a experiência de reabastecimento de águas subterrâneas conduzida pelo Orange County Water District. O distrito de água do condado de Orange é a autoridade criada em 1933 para gerir as águas subterrâneas locais e proteger os direitos da municipalidade à água do rio Santa Ana, uma das principais fontes primárias. A bacia local responde por 72% do suprimento de água das áreas norte e central do condado, num total de 2,4 milhões de consumidores.
O reabastecimento subterrâneo, ou recarga de lençol freático, é mais um projeto de reúso em andamento na Califórnia para combater a escassez de água característica da geografia regional e acentuada ainda mais nos últimos anos – ano passado, por exemplo, o Estado registrou a pior seca da história. O caso californiano se complica ainda mais, quando se considera que a chuva se concentra mais ao norte e a população, mais ao sul. Daí os famosos extensos canais construídos para aduzir água de norte a sul, obviamente a custos elevados.
Em operação desde janeiro de 2008, o Groundwater Replenishment System (sistema de reabastecimento de água subterrânea), maior planta no mundo de reúso potável indireto planejado, utiliza esgoto tratado para transformá-lo em água potável de qualidade, que será injetada, ao final do processo, na bacia, no subsolo, por meio de poços. O sistema produz hoje 265 mil m3 de água pura por dia.
Basicamente, o processo de purificação da água é o que segue. Começa com o esgoto tratado (efluente secundário), que é submetido a processo de microfiltração com sistema Siemens CMF-S, capaz de reter sólidos e bactérias de até 0,2 mícron (medida que equivale à milésima parte do milímetro). Depois, a água segue para o tratamento por osmose reversa (quando se faz com que o líquido mais concentrado migre para o menos concentrado) e, em seguida, para o processo de oxidação avançado, com irradiação ultravioleta.
O trabalho conduzido ali soma bons resultados, segundo Markus: criou uma nova fonte local de água, mais barata que a água importada; e utiliza metade da energia utilizada para importar água e um terço da energia empregada para dessalinizar a água do mar. A injeção de água tratada no subsolo também criou uma barreira natural às águas do Oceano Pacífico, preservando a água-doce dos lençóis freáticos.
Questionado pelo público se o uso de efluentes para recarga e futuro consumo humano havia gerado reação contrária da população, o diretor-geral do distrito de água do condado de Orange foi direto: quanto mais transparente você for com a população, maior será a aceitação. #ficaadica (Guilherme Azevedo)
Custos médios da água na Califórnia (EUA)
Água subterrânea |
US$ 370,00 por acre-pé (medida equivalente a 1.233,48 m3) |
US$ 0,30 por m3 |
Água de reúso tratada |
US$ 850,00 por acre-pé |
US$ 0,70 por m3 |
Água importada |
US$ 970,00 por acre-pé |
US$ 0,78 por m3 |
Fonte: Orange County Water District. Valores para compra no condado
Fonte: Revista O Empreiteiro