Dizer que era um desbravador não é dizer tudo. O perfil era o de um líder acostumado ao exercício das maiores ousadias. Se vivo fosse, esse carioca, nascido na Tijuca, teria completado, no dia 18 de junho último, 111 anos. Contudo, morreu cedo, aos 57 anos, ao final de uma trajetória identificada com uma das fases mais importantes da chamada “interiorização” do País.
Bernardo Sayão não fez engenharia civil. Fez agronomia. Cursou a Escola de Agronomia de Piracicaba, em São Paulo, e também a Escola de Agronomia de Viçosa, Minas Gerais. Curiosamente, ao longo de toda a sua breve existência, a região central do Brasil exerceu sobre ele um irresistível fascínio. Isso explica porque, no final dos anos 1930, ele se empenhou tanto em participar da construção de Goiânia e, também, da criação de núcleos agrícolas no interior de Goiás.
A idéia de transferir a capital daquele estado para uma cidade nova, planejada, inspirou-se na política do presidente Getúlio Vargas, que estimulou o movimento Marcha para o Oeste. A finalidade era usar todos os meios para ocupar a região Centro-Oeste. Essa ideia começou a ser colocada em prática por Pedro Ludovico, interventor federal em Goiás, que coordenou investimentos destinados à construção de estradas para favorecer a indução ao chamado “Brasil profundo”.
Os trabalhos de Sayão, àquela época, chamaram a atenção de Getúlio Vargas, que em 1941 o escolheu para dirigir o programa de implantação de uma colônia agrícola no interior goiano. Um dos trabalhos que ele realizou, naquela ocasião, foi a estrada de 142 km ligando a colônia agrícola, hoje município de Ceres, à cidade de Anápolis.
Falar, hoje, em estrada de 142 km, pode sugerir algo simples, com as condições de que se dispõe atualmente para construir uma rodovia. Na época, esse tipo de trabalho significava desbravar, apalpar o terreno, improvisar condições para transpor rios, às vezes aguardando, durante semanas, que mantimentos chegassem até aos canteiros lançados por via aérea.
A identificação de Sayão com o povo e com o ambiente de Goiás levou-o a ser eleito vice-governador do estado. Em 1956 foi nomeado para integrar a equipe, formada por Israel Pinheiros, Ernesto Silva e Iris Meinberg, que organizou os trabalhos para a construção de Brasília, uma promessa que Juscelino Kubitschek fizera ao País, na época da campanha à Presidência da República.
Simultaneamente às obras de Brasília, JK precisava de uma liderança para dirigir a construção da rodovia Transbrasiliana, a Belém-Brasília. Era um audacioso projeto para ligar o Norte ao resto do País, resgatando a cidade de Belém de um isolamento secular, uma vez que só era possível chegar-se àquela capital por via aérea ou marítima. E a estrada, com 2.772 km de extensão, avançou 450 km dentro de mata fechada, cortando os estados de Goiás, Tocantins (que não existia na época), Maranhão e do Pará.
Sayão conduziu a construção da estrada até o dia 15 de janeiro de 1959. Nesse dia, a queda de uma árvore de grande porte sobre o alojamento que ele ocupava provocou-lhe a morte. E ele foi sepultado em Brasília. O seu enterro inaugurou o Cemitério da Esperança, que ele mandara construir. Bernardo Sayão, o “Desbravador de Floresta”, dá nome ao diploma com o qual a revista O Empreiteiro homenageou este mês as empresas do Ranking da Engenharia Brasileira.
Salão de Arte de São Paulo
Ficou aberta ao público, de 20 a 26 deste mês, no clube A Hebraica, a 19ª edição do Salão de Arte de São Paulo. Intelectuais, empresários das mais diversas áreas e outros visitantes puderam ver uma megaexposição de obras recentes e de artistas consagrados, tais como as de Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Volpi, Carlos Vergara e Frans Kracjberg. A renda da bilheteria foi revertida em favor da Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração (ACTC).
Frase da coluna
“Embora considerando os investimentos previstos pelas grandes companhias, como Petrobras e Vale, nota-se uma seleção mais criteriosa do período em que tais investimentos são feitos, sempre de olho no mercado internacional de commodities, preço do petróleo etc.”
De Márcio Alberto Cancellara, presidente da Projectus Consultoria.
Fonte: Padrão