A outra face do Brasil que cresce

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Camaçari, Suape, Pecém e Caxias do Sul. Cada um em uma localidade específica, cada um com sua vocação, mas todos comprovam que a vida industrial do País está pujante. Um movimento que não cessa e só faz crescer afeta nos últimos tempos a todos eles. O Complexo Industrial Portuário Suape, em Pernambuco, por exemplo, surgido na década de 1970, está recebendo novas indústrias em suas instalações e passa por reformas internas, com a criação de novos acessos e anel viário. Uma das novidades é o seu fortalecimento como pólo automotivo: a General Motors anunciou a instalação de um centro logístico de distribuição de veículos, com investimentos de R$ 30 milhões em área de 60 mil m2, que deve operar ainda em dezembro deste ano. E a Volkswagen não ficou atrás: anunciou seu interesse em criar lá uma central de distribuição, com aplicação de R$ 12 milhões, com área construída de 30 mil m2 em terreno de 70 mil m2.

Mas outras indústrias têm pensado em ir para lá: é o caso da Tecsis, a segunda maior fabricante de pás para geradores eólicos em âmbito mundial, com sede em Sorocaba (SP), que analisa a possibilidade de ter uma unidade em Suape. Também é o caso da Arclima Engenharia, que trabalha na área de engenharia de climatização, que concentrará em Suape a produção para atender à demanda gerada por empreendimentos como a Refinaria do Nordeste (Abreu e Lima) e o Estaleiro Atlântico Sul, que está sendo instalado para a construção de embarcações de grande porte e plataformas offshore para a Transpetro, orçado em R$ 1,2 bilhão e que tem a Camargo Corrêa como uma das controladoras. A previsão é que na primeira etapa de funcionamento, a ser concluída em junho de 2009, a Arclima produza 2.600/ano de dutos, 600 ventiladores industriais e 500 trocadores de calor para o parque industrial de Supae e pólos petroquímicos e mercado sucroalcooleiro de outros estados nordestinos.

Por sua vez, a Bunge Alimentos já iniciou as obras de seu moinho no porto de Suape e planeja a construção de um terminal de grãos no local, aguardando a definição do cronograma de obras da ferrovia Transnordestina para dar andamento ao seu projeto. O moinho está sendo construído ao custo de R$ 126 milhões e produzirá 825 mil t/ano de farinha de trigo e pré-misturas e substituirá, quando pronto, a unidade do Porto do Recife, de 1914.

Planta petroquímica

A Companhia Petroquímica de Pernambuco (Petroquímica Suape) está executando as obras de terraplenagem de uma planta de ácido tereftálico purificado (PTA), no complexo de Suape. Com capacidade de produção de 640 mil t/ano, demandará recursos de US$ 632 milhões e entrará em operação no segundo semestre de 2009. Essa planta integra um conjunto de investimentos feitos pela Petrobras Química (Petroquisa) e pela Companhia Integrada Têxtil do Nordeste (Citene) para estruturar uma cadeia de produção que enfrente a concorrência externa, especialmente dos países asiáticos. O PTA é a principal matéria-prima para fabricação de poliéster. Uma planta de POY – fios de poliéster e polímeros– está a cargo da Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe), ao custo de R$ 240 milhões, para produzir 215 mil t/ano de polímeros e filamentos de poliéster.

As duas unidades serão instaladas em terrenos vizinhos à Refinaria do Nordeste (Abreu e Lima), da Petrobras, cujas obras também estão na fase de terraplenagem, no complexo de Suape. Os investimentos – US$ 2,5 bilhões – estão a cargo da Petrobras e da estatal venezuelana de petróleo PDVSA. Com 1.800 operários, esta etapa está para ser encerrada em fevereiro de 2009. Antes disso, no final de 2008, será iniciada a construção dos prédios administrativos e de suporte da refinaria. Essa refinaria processará 200 mil barris/dia de óleo pesado, para produção de óleo diesel.

Novo ciclo de expansão

Aos 30 anos, o Pólo de Camaçari (BA) destaca-se por suprir 50% da demanda nacional por produtos químicos e petroquímicos, graças à capacidade instalada superior a 11,5 milhões t/ano de produtos básicos, fabricados na unidade de insumos básicos da Brasken, e de produtos intermediários, fabricados pelas indústrias de segunda geração. “Com a incorporação de empresas de ramos diferentes, o complexo iniciou um novo ciclo de expansão, na perspectiva de integração do segmento petroquímico com a indústria de transformação, gerando novos empreendimentos industriais e mais riqueza, pela incorporação de maior valor agregado aos produtos”, informa Mauro Pereira, superintendente-geral do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic).

Entre os mais novos empreendimentos lá instalados destacam-se o da Oleoquímica, pertencente à Oxiteno (Grupo Ultra), que recebeu investimentos de US$ 220 milhões e empregará matéria-prima renovável (óleo de palmiste, extraído da amêndoa do dendê) para a produção de ácidos e álcoois graxos usados para fabricar detergentes, cosméticos, produtos alimentícios, etc.; e o da Columbian, para produzir negro de fumo usado pelos fabricantes de pneus. A Bahia Pulp está com um projeto para ampliar a produção de celulose solúvel, de 115 mil para 360 mil t/ano, aplicando para isso US$ 400 milhões.

A perspectiva é virar pólo industrial

O complexo portuário do Pecém pode ganhar um novo destino, com a implementação de seu pólo industrial em São Gonçalo do Amarante (Ceará). O anúncio da chegada de projetos de grande porte, como a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) – antiga Ceará Steel – em uma nova área com 1.000 ha, com previsão para 2012, a Votorantim Cimentos N/NE, a Tortuga Companhia Zootécnica Agrária e a Thermes Participações, confirmam que a perspectiva já se transforma em realidade. Entre as empresas recentemente instaladas e em fase de instalação estão a Jota Dois, de pré-moldados, a Wobben Windpower, de energia eólica, a MPX – Termoceará, a Central Geradora Termoelétrica Fortaleza, a CTO e a Tecer. A Petrobras está desenvolvendo os projetos para transferir as bases de armazenagem de derivados de petróleo existentes na área do Mucuripe, em Fortaleza, para o complexo.

Para receber as novas empresas, diversas melhorias têm sido feitas, como a execução de blocos de utilidade e serviços (BUS), terminal intermodal de cargas (TIC), terminal de gás natural liquefeito (Tgan), terminal de múltiplo uso (Tmut), instalação de duas novas balanças rodoviárias, adaptação do gate, scanne e ampliação de tomadas frigoríficas.

Raimundo Vieira Neto, secret&

aacute;rio de Desenvolvimento Econômico e de Turismo de São Gonçalo do Amarante, revela preocupação com os impactos ambientais e sociais decorrentes da nova configuração do pólo. “Dentro de dez anos, teremos uma outra história por aqui. A vinda desses empreendimentos vai impactar, acredito que num raio de uns 60 km. É difícil até mensurar o que irá acontecer”. Para ele, embora importantes por serem instrumentos do progresso as indústrias podem encarecer as contas públicas do município, que atualmente arrecada cerca de R$ 2 milhões/mês. E explica: “Teremos que gastar mais com saneamento básico, coleta de lixo, saúde, educação”.

Só trabalho

Caxias do Sul, na serra gaúcha, é considerada o segundo maior pólo metal-mecânico do País, atrás apenas de São Paulo, reunindo importantes indústrias e sua cadeia de fornecedores e suprimentos. Os imigrantes pautaram as suas características de cidade empreendedora. “O primeiro produto fabricado foi o vinho, que forçou a fabricação de equipamentos próprios. Esta característica Caxias tem até hoje. Aqui se fabrica de tudo, há grande diversificação industrial”, conta Carlos Heinen, diretor da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços e da Ventoforte, empresa que fabrica parábrisas para ônibus.

Ele lembra que há aproximadamente 50 anos foram criadas empresas que se tornaram com o tempo grandes indústrias – caso da Randon, Marcopolo, Agrale e Fras-le. Nos últimos cinco anos, o crescimento da cidade tornou-se espantoso. “Caxias tem hoje 32 mil CNPJs e 450 mil habitantes. Para cada oito habitantes há um CNPJ, uma empresa”, informa Heinen. Por isso, destaca que o sentimento de empreendedorismo é grande. “A cidade é rica, geradora de riquezas. As pessoas dizem que aqui não há lazer, só trabalho”, brinca.

Heinen explica que há grande fluxo de migrantes, sendo que 65% dos moradores são de outras regiões do Rio Grande do Sul e de outros estados. “As empresas exigem pessoal e executivos altamente qualificados. É alta a demanda de emprego”. Em sua análise de Caxias do Sul, ele diz que é interessante verificar que o mercado é repartido e que gera competitividade. As concorrentes instalam-se por causa da cadeia de suprimentos já estabelecida. “Todas as empresas são obrigadas a fazer ampliações. Seja a pequena, a grande e a média”, ressalta.

Atraindo tanta gente de fora e movimentando tanto a cidade, o setor industrial faz a infra-estrutura da cidade crescer. Isso é visível em relação à construção imobiliária local. De 10 a 12 mil unidades estão sendo construídas hoje para as classes de A a D. Empresas de Porto Alegre e São Paulo entraram no mercado, como Rossi, Abyara, Goldsztein.

No centro, duas empresas

O coração do setor industrial de Caxias do Sul são duas empresas: a Randon e a Marcopolo, que fizeram com que em volta delas fossem se estruturando indústrias de peças, equipamentos e insumos para a produção de carrocerias para ônibus, caminhões e outros veículos comerciais. A Randon é uma holding mista, líder de um conjunto de nove empresas, com aproximadamente 9 mil funcionários, respondendo por uma receita bruta total de R$ 3,6 bilhões em 2007, ano em que as exportações consolidadas foram de US$ 235 milhões. As empresas do grupo atuam nas áreas de implementos rodoviários, ferroviários e veículos especiais, autopeças, sistemas automotivos e serviços, respondendo por uma completa linha de produtos para o transporte terrestre de cargas. Em 2007, foi concluído um programa de investimentos, com aplicação de R$ 100 milhões na planta de implementos rodoviários e ferroviários, que foi expandida e recebeu novos equipamentos.

A outra empresa é a Marcopolo, considerada a maior produtora de carrocerias para ônibus do Brasil, com duas fábricas na região, que ocupam área total de 369 mill m2 e têm capacidade instalada de 10 mil ônibus/ano. Emprega 10 mil pessoas e, em 2007, registrou receita líquida de R$ 2,129 bilhões. Recentemente, anunciou investimento de R$ 50 milhões para ampliar as unidades de Ana Rech e Planalto, em Caxias do Sul, para aumentar a capacidade produtiva.

Fonte: Estadão


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