Em abril deste ano, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), do Ministério da Justiça, bateu o martelo favoravelmente à Petrobras e à White Martins para o início das operações do Consórcio Gemini, com a participação de ambas. O mais promissor resultado dessa união foi inaugurado em agosto, a empresa GásLocal, que integra o Projeto Gemini e é detentora da primeira planta de gás natural liquefeito (GNL) do País, localizada no município de Paulínia (SP). Trata-se de uma planta de liquefação de pequena escala chamada Gemini, que produz GNL a um custo de 10 a 15% do preço do gás liquefeito de petróleo (GLP). Investimentos de US$ 50 milhões fazem dessa planta uma nova modalidade para a inserção do gás natural na matriz energética brasileira e a interiorização do produto. A planta terá capacidade de liquefazer 380 mil m3 de gás natural/dia, por meio de tecnologia de criogenia, que permite transformar o gás natural do estado gasoso para o estado líquido. Uma vez dentro da planta, o gás natural é resfriado a temperaturas inferiores a 160º, alcançando então o estado líquido, o que permite a redução do seu volume em 600 vezes. Nesse momento, o gás já poderá ser armazenado, transportado em caminhões-tanque com capacidade para 28 mil m3 de gás natural, e levado até os clientes. O Projeto Gemini está sendo classificado pela Petrobras como “a primeira incursão na produção e distribuição de gás natural liquefeito (GNL) a granel”. O gás natural é entregue pela Petrobras para liquefação na planta da White Martins e transportado e comercializado pela GásLocal em carretas. Com 72% de nacionalização dos equipamentos, coube à White Martins a responsabilidade da construção, do projeto e do detalhamento, por seu grupo de engenharia, com a utilização de tecnologia licenciada da companhia norte-americana Black & Veatch. A planta de GNL tem 95 mil m2 de área total e 11 mil m2 de área construída. Além da estrutura metálica, a parte mais pesada da construção, ou seja, o tanque de estocagem de GNL, demandou estaqueamento a cerca de 19 m de profundidade. A base de equipamentos da primeira planta de liquefação do País, também primeira do gênero do Grupo Praxair – controlador da White Martins – compõe-se de compressores de grande porte de 8 mil hp, trocadores de calor de alumínio brazado, trocadores de casco e tubo, trocadores de calor a ar, sistema de amina, vasos secadores (dessecantes), caldeira, além de aquecedores a gás e elétricos. Para a montagem da planta, a White Martins utilizou diversos materiais resistentes à baixa temperatura e também instrumentação redundante, sistema de automação avançado, já que a planta de GNL é 100% automatizada, subestação de rebaixamento de energia, tanques e vasos conforme padrão da NR13, caminhões-tanques criogênicos com alta capacidade de transporte, instalações de tanques criogênicos em clientes, sistema de vaporização e odorização de produto, analisadores diversos com cromatógrafos a gás e tanque de estocagem padrão API. “A White Martins investe e acredita nesta nova fonte energética. O GNL é um produto inédito no Brasil e está sendo visto por especialistas como alternativa para diminuir a dependência de fornecimento de outros países”, afirma o diretor administrativo da GásLocal, Sérgio Soriano. No planejamento da empresa, foi prevista uma área para a duplicação da planta. A iniciativa reproduz um modelo de transporte amplamente utilizado na movimentação de gás natural em outros países, como Japão, Espanha, Portugal e Estados Unidos. No caso do Brasil, onde a Petrobras detém 40% do capital da GásLocal, enquanto a White Martins possui os demais 60%, as atividades do consórcio permitirão que o gás natural sob a forma liquefeita abasteça áreas ainda não alcançadas por gasodutos e redes de distribuição. Nesse perfil, encaixam-se consumidores no interior do estado de São Paulo, norte do Paraná, sul de Minas Gerais, Goiás e no Distrito Federal. “Já temos contratos firmados com diversos clientes industriais e três concessionárias públicas de gás natural: a Gasmig, Goiasgás e a Cebgás”, afirmou Sérgio Soriano. Segundo a White Martins, o GNL deve custar entre 25% e 30% a mais que o gás boliviano entregue via gasodutos e não compete diretamente com o gás natural distribuído por meio de dutos. Os preços poderão variar de acordo com a distância e em razão do capital investido, mas mesmo considerando o custo adicional, o GNL permanece competitivo diante de outras fontes energéticas, como a gasolina, o diesel, o gás liquefeito de petróleo (GLP).
Fonte: Estadão