A realidade nos grotões: outro Brasil além do oficial

Compartilhe esse conteúdo

Os dados oficiais do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) espelham um Brasil que ainda está longe de obter a meta prevista.
Pelo que vem sendo divulgado, há avanços no ensino fundamental,
mas o ensino médio estaciona

Nos grotões, a realidade tropeça na distância que as crianças têm de percorrer, em lombo de burro, em veículos sem condições mínimas de segurança ou em barcos para fazer enormes travessias até chegar ao ambiente escolar, que invariavelmente não oferece qualquer comodidade. Faltam instalações, carteiras, bancos e merenda.

Às vezes, nem sequer é preciso ir muito longe para ver a situação em que crianças estão estudando. Basta caminhar pelas periferias das cidades, independentemente de se observar se as escolas são municipais ou estaduais.

Para o governo federal, há um notável esforço visando a equalizar "as oportunidades educacionais e a relação entre o investimento por aluno na educação básica e na educação superior", conforme assinala o ministro Fernando Haddad, da Educação. Recentemente ele divulgou que o investimento público direto em educação atingiu a média de 4,5% do PIB no período de 2006 a 2008 e que, avaliando os anos de 2000 e 2008, "saltamos de 3,9% para 4,7%".

Ele assegura que o esforço em favor da equalização de oportunidades pode ser medido pela complementação da União aos fundos de financiamento educacional dos estados e municípios, inicialmente focado no ensino fundamental e, posteriormente, expandido para toda a educação básica. Em 2010, a complementação a que ele se referiu chegou a R$ 6,8 bilhões, contra os R$ 421 milhões de 2002.

Em balanço divulgado pela imprensa, o ministro diz que a escolaridade média tem evoluído. Na faixa etária de 15 a 17 anos, de uma média de 6,8 para 7,5 anos e, na faixa etária de 18 a 24, de 8,2 para 9,4 anos de estudos. Ele salienta também que uma boa nova veio com o Ideb, que combina os indicadores de proficiência nos exames nacionais de leitura e matemática e as taxas de aprovação/repetência.

Os dados do Ideb

Pelos dados do Ideb, todos os níveis de educação superaram, em média, as metas estabelecidas. A faixa que teve o melhor desempenho foi a dos anos iniciais do ensino fundamental (da 1.ª a 4.ª série), com índice de 4,6 – um crescimento de 0,4 ponto em relação ao desempenho de 2007. O índice superou a meta para o ano, que era 4,2.

Da 5ª a 8.ª série, o Ideb foi de 4,0 – que é 0,2 ponto melhor que o desempenho de 2007 e supera a meta em 0,3 ponto. O ensino médio foi que registrou menor evolução: ficou em 3,6 pontos – apenas 0,1 ponto maior que a meta.

"O que temos pela frente é muito difícil. Estamos distantes do nosso objetivo que é a nota 6, apesar de termos superado as metas que foram estabelecidas", disse ministro Fernando Hadad. "Não é hora de esmorecer, é de tentar acelerar o ritmo das mudanças para conseguir melhorar os resultados."

O ministro diz que não faltam razões para comemorar, mas sempre fazendo ressalvas sobre o longo caminho que o País ainda tem de percorrer. "Quando um país se propõe, como o Brasil, a fixar metas de qualidade de educação – e eu não conheço nenhum outro que tenha feito isso – penso que, já por si, é algo para celebrar. Quando cumpre, melhor ainda. Mas a distância que nos separa de um sistema educacional desenvolvido ainda requer as cautelas devidas."

Até 2021 o MEC pretende alcançar a meta de 6,0 pontos, a média dos países desenvolvidos da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Organizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), o Ideb foi criado em 2005.

"Muito dificilmente nos próximos 4 anos o Ideb dos anos iniciais vai aumentar 0,8 – e isso não é ruim. Já no Ensino Médio, vai acontecer o contrário: ele começa mais modestamente e aí colhe os resultados, o beneficio do esforço que foi feito no Ensino Fundamental", explica Fernando Hadad.

Fluxo escolar x Desempenho

O Ideb é o indicador que o MEC leva em consideração para verificar o cumprimento das metas fixadas no Compromisso Todos pela Educação. Há indicadores por redes de ensino referentes a 1.ª e 2.ª fases do ensino fundamental e para o ensino médio. O MEC colocou à disposição consultas às projeções do indicador ao longo dos anos, com metas bienais estipuladas para cada Estado e município.

Ele avalia dois fatores que interferem na qualidade do ensino: rendimento escolar, por meio das taxas de aprovação, reprovação e abandono, e as médias de desempenho dos alunos nas avaliações nacionais – Saeb e Prova Brasil. A combinação entre fluxo e aprendizagem resulta em uma média para cada Estado, município e País que varia de 0 a 10.

Escolas particulares pioram no ensino

Reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo mostra, amparada em dados divulgados pelo MEC, que em 2005 as escolas particulares paulistas tinham obtido nota 5,8 no ensino médio.Quatro anos mais tarde, o Ideb caiu para 5,3, ficando, portanto, abaixo da meta fixada pelo Ministério da Educação que era de 5,9. No mesmo período, a média dos colégios privados no País se manteve na patamar de 5,6, não alcançando, portanto, a meta estipulada para 2009.

Os dados significaram um sinal de alerta para os especialistas, sobretudo para aqueles que apostam no ensino particular. É que tem havido um consenso, entre eles, de que a rede privada de ensino detém melhores condições para avançar mais do que a rede pública.

Não é de estranhar, em conseqüência dos dados difundidos pelo Ideb, que alguns educadores hajam se manifestado criticamente em relação à educação brasileira. Ilona Becskeházy, diretora executiva da Fundação Leman, diz, em artigo publicado naquele jornal edição de 8 de junho: "Não nos enganemos. Sem uma análise dura sobre nossa realidade educacional, dificilmente sairemos do lugar. Pior. Ficaremos para trás, porque outros países, que já estão anos-luz na nossa frente, continuam insatisfeitos com a educação que oferecem à sua população e fazem enormes esforços para continuar melhorando".

Fonte: Estadão


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário