Nildo Carlos Oliveira
A unidade em São Mateus do Sul (PR) é diferente de todas as demais que
ela opera no País. Ali, a estatal transforma-se em mineradora e processa 7.800 t/dia de xisto, numa reserva que pode ser explorada por mais 280 anos
A atividade da Petrobras na industrialização do xisto não é recente. Recente é o maior espaço que hoje ela está conquistando na empresa, em razão de um planejamento estratégico de médio e longo prazo. A imagem da estatal, historicamente associada à prospecção e exploração de petróleo, dilui-se na Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), em funcionamento desde 1972 naquele pequeno e tranquilo município paranaense, localizado a 140 km de Curitiba. Em seu lugar, surge a imagem da mineradora, literalmente instalada sobre uma das maiores reservas mundiais de xisto – a chamada Formação Irati, que avança no subsolo dos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Goiás, prolongando-se até o Rio Grande do Sul.
A prova de que a atividade mineradora, ao lado dos avanços de pesquisas para o desenvolvimento e usos futuros do minério, amplia seu espaço na estatal, torna-se evidente nos números deste ano do orçamento da empresa. Para 2010, o orçamento reserva R$ 68,1 milhões às tarefas de pesquisa e desenvolvimento, valores que correspondem a um acréscimo de 48% em relação ao orçamento do ano passado e a quase cinco vezes o valor que lhe fora destinado em 2005.
Ao expor esses números, o engenheiro químico e de processamento Hélio Sakurai, gerente de pesquisas da SIX, reconhece que as conquistas obtidas no parque tecnológico da unidade representam uma receita adicional, por ano, para a Petrobras, da ordem de US$ 462 milhões. As tarefas do parque tecnológico acabam complementando, na prática, o trabalho do Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes), com os testes que ali são realizados em protótipos e em escala real. No fundo, a SIX, simultaneamente às atividades de exploração e processamento do xisto, deu margem ao crescimento de um dos maiores parques tecnológicos da América Latina, tornando-se, no entendimento de sua diretoria, uma fonte geradora de conhecimento nessa área.
A mina
A Petrobras começou a trabalhar na pesquisa e nas atividades mineradoras do xisto, um ano depois de sua fundação em 1953. Detinha um amplo acervo de estudos a respeito desse material e, em 1954, iniciou os trabalhos de exploração do xisto no município paulista de Tremembé, no Vale do Paraíba. Os trabalhos de exploração evoluíram e, três anos mais tarde, a empresa realizava testes com aquele minério. A evolução dessa atividade levou a empresa a aprovar, em 1959, a construção de uma planta, em São Mateus do Sul, onde instalou a unidade industrializadora. Contudo, somente em dezembro de 1991 é que ela veio a consolidar a última etapa da tecnologia de extração e processamento do material, denominado Petrosix.
O xisto é uma pedra em cuja composição há o querogênio, complexo produtor de óleo e gás. A mina, em São Mateus do Sul, de onde a pedra é extraída, é operada em duas camadas: uma superior, com 6,4 m de espessura e 6,4% de teor de óleo, e outra inferior, com 3,2 m de espessura e teor de óleo de 9,1%. A unidade ocupa área de 7 milhões de m² e a reserva, em que a empresa hoje explora a segunda mina, tem potencial de exploração pelos próximos 280 anos. A primeira mina se encontra atualmente em processo de reabilitação para ser devolvida às suas origens, na natureza. Ao longo de suas bordas a paisagem se recompõe com a plantação das espécies nativas e veios d´água.
A exemplo da primeira, a mina atual é explorada a céu aberto segundo o método strip mining, com utilização de escavadeiras. Uma frota de 14 caminhões fora de estrada modelo Haulpak 120, com capacidade nominal de 120 t, vinha sendo usada no transporte do xisto, dos rejeitos e do material considerado estéril. Recentemente, essa frota foi substituída por caminhões de menor porte (cada um transporta cerca de 30 t), mas cuja velocidade e facilidade de movimentação são vantagens compensatórias
Pelo processo ali adotado, o xisto é levado a um britador, fragmentado e conduzido, por uma correia, a um reator cilíndrico vertical – a retorna – onde é aquecido a uma temperatura de aproximadamente 500ºC, liberando matéria orgânica sob a forma de óleo e gás. Na SIX são processados diariamente 7.800 t de xisto e, desse processamento, resultam, 3.800 barris de óleo combustível, 120 mil t de gás combustível, 90 t de nafta industrial, 45 t de gás liquefeito e 75 t de enxofre.
O gás combustível alimenta fornos da indústria de revestimentos cerâmicos da região e, além do nafta e do enxofre, o xisto gera subprodutos que são aproveitados em diversos segmentos industriais e na agricultura. Simultaneamente, essa unidade da Petrobras vem reaproveitando, no processamento do minério, pneus inservíveis. Desde 2001, ela reciclou mais de 11 milhões de pneus, conforme tem divulgado.
Área de expansão
A unidade de industrialização do xisto, que compreende a mina e o parque tecnológico, dispõe de uma área de 200 mil m² para expansão futura. Ali serão instaladas 18 novas plantas. Hoje, o parque abriga 19 protótipos que testam, entre outros, os processos de combustão, destilação e redução de emissões. Outros seis protótipos estão previstos para a unidade e, desses, três deverão ser utilizados até o primeiro semestre do ano que vem.
As novas plantas que ali deverão ser construídas incluem uma destinada à pesquisa da gasolina usada em carros da Fórmula 1; outra para abrigar novo laboratório de combustão; uma para diminuir a acidez dos petróleos pesados e outra que será utilizada no tratamento de águas de destilação. O engenheiro Hélio Sakurai adiantou que em futuro próximo a unidade deverá estudar questões relativas à fabricação de carbono a partir do piche, bem como a produ&cc
edil;ão de hidrogênio a partir de águas ácidas.
Os números do orçamento para este ano na SIX e os dados do processamento do xisto e as pesquisas realizadas no parque tecnológico, mostram a importância da mina e do conjunto das atividades da unidade no portfólio dos negócios e nos resultados dos dividendos da Petrobras. Apesar disso, a engenheira de processamento Elza Kallas, gerente geral da unidade de industrialização, diz que no local não se trabalha de olho em possível margem de lucratividade. Para ela, o que está acima desse propósito, é outra coisa: o futuro.