https://www.equipmentworld.com/2016-2017-trench-collapse-fatalities-the-victims/
Recentemente, tomei conhecimento de mais uma fatalidade em abertura de valas no país (este ano já vamos lá pelas 20). É um problema de gestão de obras, pois não há outra explicação para o descaso e falta de planejamento nesse tipo de acidente. Sempre somos tentados como brasileiros, devido ao nosso atraso a debitar esses descasos ao nosso atraso, mas hoje, escrevo para reportar o problema nos Estados Unidos, uma sociedade que investe trilhões de dólares em infraestrutura – isso mesmo, trilhões.
O link que abre esta coluna, dá conta das 50 fatalidades em valas a céu aberto nos últimos 2 anos. A foto ao lado, dá bem uma ideia de como cavar uma sepultura ao invés de uma vala – máquina pesada na borda da vala; material escavado deveria estar a pelo menos 1 m da borda; operário sem capacete; vala com mais de 1,5 m de profundidade sem escoramento; observador na borda da vala; e nenhum dispositivo para entrar e sair da vala. Pronto, do jeitinho que o diabo quer e gosta.
Assim, 50 vidas foram encerradas com idade média de 40 anos, nos EUA. Só uma medida pode por fim a esse descaso: cadeia. Isso mesmo, cadeia. Estamos levando para cadeia corruptos e corruptores, e deixamos fora os responsáveis por obras que ceifaram vidas com seu descaso e falta de planejamento.
Agora vem a parte mais chocante da matéria. No Brasil, não há um acompanhamento com registros (Sindicatos da Construção deveriam promover esse tipo de registro para melhorar). Morrem o dobro, pasmem – numa mesma empreiteira (um consórcio) dois acidentes, um deles fatal, e a família do operário se quer foi avisada. Aí é demais não?
Os relatos mais imediatos, aqueles tomados nos primeiros instantes após o socorro, são um show de horror; e, assim, prosseguirá, até o fim deste ano, mais umas vinte ou 30 vidas serão ceifadas pela falta de responsabilidade, planejamento e gestão de obras.
Os relatos oficiais, depoimentos são mais chocantes. Encarregados que nunca fizeram cursos de escoramento de valas, operários que entram porque são mandados e não têm estrutura pessoal para se recusar. Enfim, como já disse nesta coluna, um trem fantasma, cada curva um susto. A coleção de fotos é chocante, dão bem uma ideia do que aconteceu um pouco antes da vala se transformar numa sepultura.
Os que me conhecem sabem que milito na área do MND, portanto, não posso deixar de fazer uma recomendação: se der para abrir vala, faça, mas com responsabilidade, mas não deixe de considerar a possibilidade de fazer por MND, e uma vida, somente, justificará sua decisão.
Sérgio Palazzo