Na região de Portland, capital do estado de Oregon, noroeste dos EUA, chove 100 dias por ano. Nas margens do rio Willamette, você encontra placas com avisos nada comuns em cidades brasileiras: “Cuidado! Esgoto! Evite contato com a água após as chuvas”. É que o sistema de esgotos daquela cidade transborda após chuvas pesadas e contamina o rio. Dois novos túneis-reservatórios em fase final de escavação prometem acabar com o problema
A primeira parte do projeto, chamado Combined Sewer Overflow, consiste de um túnel coletor de 5,7 km, que foi concluído em março de 2006 na margem ocidental por duas máquinas Mixshield Herrenknecht. Na margem oriental, a segunda parte do projeto emprega uma máquina similar, S-348, que escavou um túnel coletor de 6,2 km e outro de 2,7 k, com 7,7 m de diâmetro, ambos em fase de acabamento a partir de outubro de 2010.
Quando o sistema de túneis coletores for colocado em operação este ano, irá captar 94% da água contaminada que transbordaria do sistema antigo de esgotos, para ser bombeada em seguida, via túneis de conexão para as estações de tratamento.
A máquina Mixshield foi escolhida para superar as condições geológicas do terreno, onde ocorrem camadas variadas de areia, silte, cascalho, rocha e matacões. Na construção dos túneis de conexão entre os novos túneis coletores e a rede de esgotos existente, foi empregada a técnica de cravação de tubos por macacos hidráulicos. O equipamento Micromachine M-1122M, que mede 2,6 m de diâmetro, 10,5 m de comprimento e pesa 73,6 t, foi escolhido para executar nove túneis de conexão, somando no total 2,4 km.
O maior deles mede 938 m, em direção à saída 46, e foi executado numa só etapa por causa de restrições de espaço físico, além de um poço intermediário. É o maior túnel escavado num único avanço, por essa técnica, até hoje nos EUA. No seu trajeto, teve que superar estacas de madeira de um porto antigo no rio e pedaços de trilhos, no meio de areia e cascalho. O túnel foi terminado em 60 dias, utilizando seis estações de empuxo ao longo do traçado. O consórcio construtor desta etapa final de túneis na margem oriental foi formado pela KBB JV, Bilfinger Berger e Kiewit Construction.
Recuperar o rio Willamette
Portland, onde moram 570 mil habitantes, dá um exemplo de como enfrentar a contaminação do rio Willamette por esgoto, que envolve praticamente toda a região urbanizada da cidade, através de um conjunto de obras batizado de Cornerstone, que significa pilar, e cujo planejamento foi iniciado em 1991. As obras foram lançadas em 1993 e os custos chegaram a US$ 146 milhões.
O projeto previa a separação do esgoto doméstico da água pluvial, através de tubulações separadas; a captação das águas da chuva por três mil poços coletores e a absorção posterior, no solo; a vedação das saídas de água pluvial na rede de esgotos em cerca de 56 mil propriedades, desviando o fluxo para terrenos não pavimentados, com custos bancados pela prefeitura. Finalmente, em 2006, o rio Tanner Creek e outros cursos d´água foram canalizados, deixando de desaguar na rede de esgotos. Tudo isso eliminou cerca de 7,7 bilhões de litros de água pluvial por ano da rede de esgotos.
Com o avanço substancial do Cornerstone, foi iniciada a construção do túnel coletor na margem ocidental do rio Willamette, concluído em março de 2006, seguido pela escavação de dois túneis similares na outra margem, concluída em outubro de 2010.
Mas é importante anotar que os trabalhos de planejamento começaram em 1991, mais de 20 anos atrás, e esse processo atravessou diversas administrações municipais de Portland, que deram continuidade aos trabalhos. A população vai poder agora desfrutar de um rio limpo! Um exemplo singelo para os rios Pinheiros e Tietê, em São Paulo, e a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Fonte: Estadão