A Fibria – resultado da união de Votorantim Celulose e Papel e Aracruz– terá pela frente a missão de equacionar sua alavancagem e acompanhar o ritmo de recuperação da demanda por celulose para retomar ao menos cinco projetos de expansão que foram engavetados.
A maior produtora mundial de celulose de mercado encerrou junho com dívida líquida de 13,4 bilhões de reais, como resultado de perdas com derivativos e dispêndios para incorporação da Aracruz pela VCP.
A relação entre dívida líquida e geração de caixa medida pelo Ebitda, que estava em 7,3 vezes em junho, deverá subir para 7,7 vezes no fechamento de 2009, para então começar a cair, encerrando 2010 em 5,2 vezes.
“Os modelos (do mercado) mostram que a alavancagem cai no próximo ano”, afirmou o diretor financeiro da empresa, Marcos Grodetzky, que citou os números durante encontro com analistas e investidores nesta terça-feira.
De acordo com o executivo, o mercado de capitais está aberto e a companhia já poderia ter tomado alguma decisão no sentido de “acomodar” o vencimento de dívidas de 2010, cujo valor não foi revelado.
Em breve, segundo Grodetzky, a Fibria deve anunciar “novidades positivas” sobre o perfil de seu endividamento. Alongar a dívida é prioridade na área financeira.
Ele disse, ainda, que a empresa está empenhada em perseguir a classificação grau de investimento junto às agências de rating, nota que Aracruz e VCP perderam com a piora de seus indicadores financeiros em 2008.
Planos de Expansão
A Fibria nasceu com planos congelados de expansão da fábrica de Guaíba (RS), de instalação de unidade fabril em Rio Grande ou Arroio Grande (RS), de duplicação da fábrica de Três Lagoas (MS), de expansão em 700 mil toneladas da Veracel (BA) e de implantação de uma nova fábrica em local ainda não definido.
Sob o aspecto financeiro, disse Grodetzky, o ideal é que o nível de alavancagem da Fibria –pela relação entre dívida líquida e Ebitda– esteja em três vezes para a execução de novos investimentos.
O presidente da companhia, Carlos Aguiar, oriundo da Aracruz, disse não vê sinais de viabilidade de implantação de uma nova fábrica de celulose nos próximos 2,5 a 3 anos.
“São mais de 6,7 milhões de toneladas em nova capacidade (com os projetos paralisados). Mas não vamos fazer uma fábrica atrás da outra. Vamos disciplinar a entrada dos projetos”, comentou Aguiar.
Produção Vendida
Enquanto equaciona a linha financeira, a Fibria vem tendo sucesso em dispor das 5,8 milhões de toneladas de celulose que tem capacidade de produzir anualmente.
Neste momento, toda a produção da matéria-prima está contratada, conforme o diretor comercial da companhia, João Felipe Carsalade.
Em 12 meses terminados em junho, a Fibria vendeu no mercado 4,5 milhões de toneladas de celulose, considerando-se os números combinados de VCP e Aracruz, ante 4,12 milhões nos 12 meses anteriores. As vendas de papel, onde a empresa usa parte da celulose que produz, totalizaram 442 mil toneladas no intervalo, ante 448 mil toneladas na mesma base de comparação.
Consolidados os números, a Fibria responde por 37 por cento do mercado mundial de celulose de eucalipto e 22 por cento do mercado global de fibra curta, tipo de celulose no qual se insere a matéria-prima de eucalipto.
Embora a união tenha dado origem à maior produtora mundial de celulose de mercado, o negócio de papel seguirá estratégico no portfólio da nova companhia.
“Os negócios de papel seguem na estratégia, porque ele mitiga o risco em mercados cíclicos, como o de celulose”, afirmou o diretor da área de papel, Marcelo Castelli.
Carsalade disse que alguns mercados na Europa têm mostrado sinais de melhora mais consistente da demanda, mas ainda insuficientes para se falar em novo reajuste de preços, depois de quatro aumentos em 2009.
A Fibria mantém em 4,5 bilhões de reais previsão inicial de sinergias pela combinação dos ativos de Aracruz com VCP, embora o presidente da companhia não descarte que esse valor possa ser superado. Conforme Aguiar, 90 por cento das economias de custos deverão ser capturadas até 2012.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem participação de 34,9 por cento no capital da Fibria, enquanto o Grupo Votorantim detém fatia de 29,3 por cento. O restante está em circulação no mercado.