Além dos bancos.

Em visita a Israel, fui bombardeado com perguntas de israelenses e palestinos sobre onde entra o processo de paz deles nas prioridades do Presidente Barack Obama.
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A meu ver, respondi, Obama tem três prioridades imediatas: bancos, bancos e bancos – ou seja, em nenhuma delas se vê a Cisjordânia.

Em vista disto, assim que Obama puder pensar com calma a respeito do Oriente Médio, ele descobrirá que a equipe de Bush deixou um legado interessante lá: 140.000 soltados norte-americanos na re-construção do Iraque e um soldado americano – para ser mais exato, um general de três estrelas do exército – envolvido na reconstrução da Cisjordânia.
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É necessário uma melhor distribuição.

Aqueles soldados americanos no Iraque podem se orgulhar das recentes eleições iraquianas, que fortaleceram os partidos mais seculares e centristas.

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Mas ainda precisamos esperar para ver se os vencidos nesta eleição aceitarão sua derrota pacificamente e se os vencedores irão de fato fazer um governo melhor. As eleições iraquianas, no entanto, são um exemplo raro de árabes que tiveram uma chance de construir seu futuro da estaca zero, e eu continuo a torcer por eles.

Os palestinos precisam da mesma chance. Não se pode ter uma solução binacional sem duas nações, e hoje em dia a Autoridade Palestina na Cisjordânia, que apóia o acordo binacional, não possui as instituições de um estado, em especial uma força policial efetiva.
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Portanto, a minha esperança é de que o presidente Obama concentre-se não apenas em planos de paz de cima para baixo, mas também na construção de instituições de base. A melhor forma de isolar o Hamas em Gaza é transformar a Autoridade Palestina na Cisjordânia em um governo decente, com um controle crescente e constante sobre seu território.

É exatamente isto que planeja aquele solitário soldado americano na Cisjordânia, o tenente-general Keith Dayton. Eu o acompanhei com sua pequena divisão a Jenin – outrora a cidade mais violenta da Cisjordânia – para ver o trabalho deles. Foi uma cena e tanto: Assisti a uma companhia das tropas da Autoridade Palestina, recém treinada, orgulhosa e com uma aparência profissional, em posição de sentido, com rifles AK-47 a seu lado, ouvido com muito respeito às palavras do general americano: “O que vocês fizeram contribuiu mais para o avanço do projeto nacionalista palestino do que qualquer coisa… Vocês cuidaram do seu povo num momento de crise. É assim que devem se comportar as forças de segurança de um país.”

Esta é uma cena que não se vê todos os dias.

Dayton estava falando com o 2º Batalhão Especial da Força de Segurança Nacional Palestina, ou NSF. Foi treinado pela polícia jordaniana num programa supervisionado pelo Coordenador de Segurança dos Estados Unidos – mais conhecido como Dayton. Ele foi designado originalmente para auxiliar na reforma da segurança palestina pela administração Bush em 2005, mas só conseguiu o financiamento para tal depois que o Hamas tomou Gaza em 2007. Desde então, 1.600 tropas palestinas já se formaram e 500 estão em treinamento atualmente. Treinados em todas as disciplinas, desde controle de tumultos a direitos humanos, a NSF é a única força realmente profissional controlada pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas.

O exército israelense, que questionava a missão de Dayton, passou a respeitá-la e agora está permitindo que ela se expanda para Hebron. O que chamou a atenção de Israel foi que durante a guerra de três semanas entre Israel e o Hamas em Gaza, a Cisjordânia nunca foi atacada, em grande parte porque as tropas da NSF permitiram vários protestos, mas impediram que os protestantes se chocassem com os soldados israelenses.
“O general Dayton é nosso amigo”, disse o coronel Radi Abu Asida da NSF. “Agora temos um treinamento excelente. Agora temos profissionalismo na nossa segurança. Dissemos ao povo durante os protestos de Gaza, ‘Vocês podem protestar, mas devem fazê-lo de uma forma moderna’.”

Infelizmente, o financiamento para o trabalho de Dayton – assegurado por dois membros visionários do Congresso americano, Nita Lowey e Gary Ackerman – está para se esgotar em breve.

Isto seria uma tragédia. Antes da formação da NSF, “era o caos aqui”, disse Mohammed Abu Bakr, proprietário de uma loja de artigos para casamentos, referindo-se ao vácuo de segurança depois da queda do regime Arafat. “Todos queriam brigar com todo mundo. Agora está tudo organizado.”

A missão de Dayton – um raro ponto de luz numa paisagem arruinada – é o ponto de partida que necessitávamos. “A questão não é só territorial, mas devemos pensar em como preencher este território”, disse Gidi Grinstein, presidente da agência de pesquisas Reut Institute. “Jenin é importante. Este é o começo da formação de capacidades, que leva à formação de instituições, que leva à formação de um estado, que leva à independência. Mas a legitimidade da polícia palestina depende da evolução do processo de paz e dos palestinos receberem de Israel o controle de um território maior, conforme eles forem provando sua capacidade, acrescentou.

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“Caso contrário, eles serão vistos como uma ferramenta para promover a ocupação e serão ilegitimados e atacados.”

Por isso, é importante que George Mitchell, o enviado especial dos Estados Unidos ao Oriente Médio, imponha a diplomacia de cima, mas nada irá acontecer sem aumentar consideravelmente os esforços de base dos Estados Unidos para ajudar os cisjordanianos a construir uma instituição do governo com credibilidade. Fazendo isto, todo o resto será possível. Do contrário, será tudo impossível.
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Fonte: Estadão

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