América Latina busca saída para crise com críticas aos EUA.

Líderes dos países latino-americanos e do Caribe buscaram ampliar os laços políticos e econômicos como solução para a crise financeira internacional durante encontros de cúpula realizados nesta terça-feira.

Sem a presença de representante dos Estados Unidos, eles ficaram à vontade para apontar a política econômica conduzida pelos países ricos como principal responsável pela turbulência e incluíram Cuba nas discussões.

“Temos de aprofundar nossas propostas para enfrentar a grave crise da economia global. Nossa resposta coletiva deve ser dobrar a aposta em nosso bloco numa integração voltada para o desenvolvimento e a superação das desigualdades regionais”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da cúpula dos países do Mercosul, a primeira das quarto que se realizam nesta terça e quarta-feira.

Lula, anfitrião da série de encontros de líderes latino-americanos e do Caribe, defendeu um papel ativo da região para solucionar as consequências da crise.

“O Mercosul, juntamente com nossos amigos da América Latina e Caribe, não assistirá passivamente ao debate sobre a crise mundial. Teremos papel importante a jogar na construção de uma nova arquitetura política e econômica internacional multipolar e multilateral”, acrescentou.

Reparo

Vinte presidentes e chefes de Estado e de governo e representantes de outros 13 países da região reuniram-se em seguida na Cúpula da América Latina e do Caribe, a primeira realizada sem a presença dos Estados Unidos e da União Européia e com a participação de Cuba. As cúpulas foram abrigadas no complexo turístico da Costa do Sauípe, no norte da Bahia, a 100 quilômetros de Salvador.
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“Só há soluções regionais. Não esperemos nada senão de nós mesmos”, afirmou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez , resumindo o espírito da cúpula.

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Raúl Castro, presidente de Cuba, em sua primeira visita ao Brasil, classificou de injusto o sistema econômico que levou à crise. “Acompanhamos de perto os esforços do Mercosul para a integração.

Mas, entre os obstáculos, estão os efeitos de uma ordem econômica internacional injusta e egoísta que favorece os países desenvolvidos e os interesses das grandes corporações internacionais.

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A crise econômica internacional atual é sua manifestação mais grave e verdadeira”, disse Castro, que substituiu Fidel Castro à frente do país comunista.

O país caribenho, que sofre embargo econômico por parte dos Estados Unidos há quase 50 anos, foi incluído no Grupo do Rio, mecanismo regional de consultas diplomáticas com cerca de 20 membros. “Trata-se de uma reparação”, disse Lula.

De seu lado, o presidente do Equador, Rafael Correa, não deixou de demonstrar suas preocupações com o financiamento da economia. Defendeu a criação de um fundo de reservas regional e o prosseguimento das discussões sobre um Banco do Sul, aprovado há cerca de um ano e ainda não implementado.

Corrêa tenta evitar o pagamento ao Brasil de um empréstimo para a construção de uma hidrelétrica que apresentou defeito e suspendeu o pagamento de dívida de 60 milhões de dólares do país com credores internacionais.

“A crise não foi causada pelos emergentes, mas provavelmente teremos que pagar um alto custo por ela”, criticou Correa. Fernando Lugo, presidente do Paraguai, disse que muitos países da América Latina enfrentam problemas semelhantes e que está estudando a legalidade da dívida de seu país.

Sapataço

Muitos líderes mandaram recados para o presidente norte-americano George W. Bush fazendo ironias com o incidente em que um jornalista iraquiano tentou acertar um par de sapatos no dirigente na semana passada.

Lula e Castro fizeram comentários logo que se encontraram, pela manhã, e Chávez falou em “sapataço” durante entrevista. Em direção inversa, houve chamamentos a que o presidente eleito Barack Obama altere a política dos EUA para a América Latina.

“Agora que vem um novo presidente dos EUA, é propício que a América do Sul fale com sua própria voz e peçamos respeito ao novo governo dos EUA. Viram o sapataço que atiraram no Bush?”, disse Chávez.

Em uma demonstração de entendimento, os países do fórum da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) aprovaram a criação de um conselho de defesa, composto pelos ministros da área. Terá a missão de realizar uma colaboração no setor industrial de defesa, cujos detalhes ainda não estão definidos.

O chamado Conselho de Defesa Sul-Americano, “não é um instrumento de operações militares”, disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao anunciar a decisão.

Na véspera, foi anunciada a intenção de criar um fundo de garantia para empréstimos, mas apenas dos países que compõem o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) no valor de 100 milhões de dólares. O bloco fracassou, no entanto, em concluir as negociações para eliminar a dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC).



Lula ainda terá a missão de convencer com Correa e Lugo, que pediram audiências bilaterais e serão atendidos na quarta-feira, último dia dos encontros. Enquanto Correa tratará do empréstimo, o Paraguai tentará resolver a dívida de usina hidrelétrica de Itaipu.

Segurança


Com tantas autoridades, o balneário de Sauípe, que reúne um conjunto de hotéis de lazer à beira-mar, transformou-se em fortaleza para abrigar as cúpulas. Fala-se em 2.000 seguranças, sem confirmação oficial.

Soldados do Exército estão em toda parte, realizando várias atividades, inclusive algumas bizarras como orientar o trânsito ou mesmo policiar a areia da praia.

Do mar, a vigilância é feita por um navio de guerra e, no amplo complexo, só se circula com o uso de crachás de identificação, atentamente checados pelos seguranças.

Fonte: Estadão

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