Apagão do gás ameaça a expansão industrial no País

Um "apagão" na oferta de gás natural na região Sudeste fez vários setores industriais, entre os quais químico, cerâmico, têxtil e de vidro, abandonarem parte dos projetos de investimento. As expansões que dependam de nova oferta de gás natural foram paralisadas. A Comgás, maior distribuidora do país, cancelou todas as negociações para vender mais gás.

A situação é a mesma no Rio de Janeiro. As concessionárias CEG e CEG-Rio, além de não negociarem expansões, discutem a mudança de contrato para combustíveis substitutos, como o GLP (gás liquefeito de petróleo) ou óleo combustível.

A Bayer, por exemplo, negocia um novo contrato que permitirá a substituição de até 50 mil metros cúbicos por dia de gás por óleo combustível. "Estamos discutindo com quem ficará essa conta", diz Roberto Salvador, gerente de energia da unidade de Belford Roxo (RJ).

A Comgás afirma que até 2010 não há como ofertar mais gás para a indústria. Enquanto o governo paulista tenta mensurar o investimento abortado, a Secretaria de Energia, a Fiesp e a Comgás preparam uma estratégia para pressionar a Petrobras a assinar um pré-contrato de oferta de gás. A idéia é que o documento sirva de lastro para negociar uma expansão de oferta à indústria.

Não há garantia de que haja resultado. O problema é o desconhecimento sobre os projetos do Plangás (Plano de Aceleração da Produção de Gás Natural). Lançado em 2006, no calor da crise provocada pela nacionalização promovida pelo presidente boliviano Evo Morales, o plano fixou metas para elevar até 2012 a produção nacional de gás natural. A previsão da Petrobras é alcançar, até o fim deste ano, 45,7 milhões de metros cúbicos.

Para o Sudeste, base do parque industrial brasileiro, a promessa da Petrobras é elevar a produção a 40 milhões de m3/ dia até o fim do ano. Segundo a secretária de Energia de São Paulo, Dilma Pena, não há por enquanto qualquer expectativa de que essa meta seja alcançada. Acompanhamento da Comgás demonstra que dos sete projetos previstos para 2008 nenhum entrou em operação.

Entre eles está a produção em campos de gás não associado (apenas gás sem petróleo) da bacia do Espírito Santo (Camarupim e Canapu). Entre os poços de gás associado (com petróleo) estão Jabuti, as plataformas P-51 e P-53 (Marlim Sul Módulo 2 e Marlim Leste, respectivamente) e o campo de Lagosta, este da bacia de Santos, que produzirá com o declinante campo de Merluza. "Tudo o que está ofertado da Petrobras às três concessionárias paulistas foi contratado. A situação é de empate entre oferta e demanda", diz Pena.

Pé no freio
Companhias enfrentam neste momento restrições de investimento ante a falta de perspectiva de oferta segura de gás. Na renegociação assinada em dezembro do ano passado, a Comgás fechou contratos para 6 milhões de metros cúbicos de gás por dia. O problema é que 1,5 milhão de metros cúbicos desse gás nacional está na modalidade de contrato interruptível. "Ninguém vai assinar um contrato de suprimento de gás com uma cláusula dessa", diz Lucien Bernard Mulder Belmonte, superintendente da Abividro (Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro).

Uma das indústrias de vidro, diz Belmonte, tem neste momento 30 milhões de investimento em expansão parados por falta de 10 mil m3/dia. "É um volume ínfimo. Pois nem isso tem sido atendido", afirma Belmonte. Não é o único setor. A direção da Bayer engavetou projetos de expansão da produção de poliuretano na unidade petroquímica de Belford Roxo (RJ). "Não sabemos qual seria o investimento, mas diante da situação atual não há como discutir ampliações de consumo", diz o gerente Roberto Salvador.

A indústria do pólo de Santa Gertrudes (SP), que responde por 67% do revestimento cerâmico consumido no Brasil, vive sua maior restrição de crescimento. Com cinco linhas, a Cecafi Revestimento Cerâmico enfrenta o problema. Neste mês, recebeu da Comgás o aviso de que teria o fornecimento reduzido para os níveis do contrato original. Os 6% de demanda adicional foram cortados com medidas operacionais nas linhas, o que incluiu a redução da produtividade.

A preocupação agora é com a impossibilidade de crescimento. A expansão da construção civil, que neste momento impulsionou a compra de material básico de construção, deverá alcançar a fase de acabamento. "Justamente no momento em que o setor pode aproveitar a maior demanda não teremos como crescer", diz Valdir Júnior, diretor da Cecafi.

Fonte: Estadão

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