Após meses de retração, setores industriais ensaiam alta de preços

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Depois de meses de retração nas vendas, alguns setores da indústria estão sendo beneficiados pela retomada da economia mundial e pela redução gradual dos estoques, e já ensaiam aumentos nos preços dos seus produtos em busca de recomposição de margens. Os setores de plásticos, produtos siderúrgicos e materiais para construção estão obtendo sucesso nesta estratégia, embora os preços ainda estejam muito abaixo dos níveis anteriores à crise, no primeiro semestre do ano passado.

O aumento de preços das resinas para produção de plásticos chegou a 20% entre julho e agosto deste ano devido ao movimento de volta às compras, após a redução dos estoques. Na siderurgia, a alta ainda é restrita ao segmento de chapas grossas, usadas pela indústria naval e tubos de petróleo e gás, mas os outros tipos de aços planos, utilizados no setor automotivo e na linha branca, também devem seguir esta tendência até o final do ano, sustentados pela alta dos preços no exterior. Dentre os materiais de construção, o produto que já apresentou altas foi o de louças sanitárias, que deve ser acompanhado por reajustes também em metais sanitários.

No setor de transformados plásticos, a elevação das cotações no exterior e a expansão da demanda doméstica permitiram que as fabricantes de resinas termoplásticas promovessem dois reajustes consecutivos em julho e agosto. Esses resinas são usadas na fabricação de plásticos em geral, inclusive para embalagens. Os mais de 11 mil transformadores de plástico, que compõem a terceira geração da cadeia petroquímica, não têm condições de absorver a alta de quase 20% e, por isso, devem repassar grande parte do aumento para seus clientes.

O momento para os reajustes da indústria petroquímica não poderia ser mais propício. Diante da ainda escassa oferta de linhas de crédito para empresas de menor porte, os transformadores se viram obrigados a consumir seus estoques. Com isso, ingressaram no segundo semestre com a necessidade de manter um ritmo acelerado de compras. “Registramos recuperação da demanda mês a mês. Julho está melhor do que junho, que havia sido melhor do que maio”, destacou na semana passada o presidente da Braskem, Bernardo Gradin, referindo-se à venda de resinas usadas na produção de itens da cadeia plástica.

O volume de vendas de resinas do setor no segundo trimestre deste ano foi 18% superior aos três primeiros meses de 2009, segundo estimativas da Braskem, a maior fabricante do setor na América Latina.

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A previsão para o terceiro trimestre é de nova alta nas vendas, puxada pela recuperação da economia brasileira e pelo aumento da demanda oriunda das festividades de final de ano, concentrada principalmente no terceiro trimestre.

Diante desse cenário, os transformadores devem encontrar menor dificuldade para repassar aos clientes os aumentos das petroquímicas. Essas, por sua vez, prometem manter a política de ajustar os preços internos às cotações praticadas no exterior. Desde março, informou na semana passada a Braskem, a alta nos preços de polietilenos, polipropileno e PVC varia entre 18% e 19%.

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Essa recuperação, no entanto, não repõe metade da queda dos preços registrada entre setembro de 2008 e março passado. Por isso, sinaliza a companhia, ainda há espaço para novos reajustes.

Outro setor que começou a articular uma recuperação nos preços foi o de siderurgia. Além de reduzir os descontos que eram concedidos, esta indústria já fala na possibilidade de praticar aumentos de preço até o final do ano. Em entrevista recente, o presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, disse que os preços dos aços planos no mercado interno podem reagir no final deste ano. “Se o mercado interno continuar firme, vamos ter alguma recuperação nos preços no quarto trimestre”.



Segundo fontes do mercado e distribuidores de aço, a Usiminas elevou o preço da chapa grossa, material usado pela indústria naval e de tubos para petróleo e gás, em 10% neste mês, depois de reduzir o preço do produto em 35% neste ano, e deve ser seguida por outras empresas. A informação não foi confirmada nem negada pela empresa quando procurada pela Agência Estado.

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A tendência de alta se sustenta principalmente na recuperação do preço do aço no exterior, que deve proteger as siderúrgicas brasileiras da concorrência dos importados. Do lado da demanda interna, a retomada ainda é tímida e seria insuficiente para justificar aumentos, embora os estoques estejam caindo. No mês passado, os estoques finalmente voltaram ao nível considerado normal, equivalente a 2,6 meses de consumo, depois de terem atingido seis meses de consumo, segundo dados mais recentes do Instituto Nacional de Distribuidores de Aço (Inda).

De acordo com Christiano da Cunha Freire, presidente da Frefer, segunda maior distribuidora independente de aço do Brasil, o mercado espera uma alta de cerca de 10% no preço dos aços planos para os próximos meses. Este tipo de produto é usado pela indústria automotiva e pela linha branca. Desde o início do ano, os preços dos aços planos caíram em média 22,9% no mercado interno.

O setor de materiais para construção também ensaia alguns reajustes no segmento de louças e metais sanitários. Neste mês, a Duratex elevou os preços da linha de louças sanitárias da Deca em 6%. No segundo trimestre, os volumes expedidos pela divisão Deca, da Duratex, cresceram 13,6% em relação ao mesmo período do ano passado e 12,6% ante o primeiro trimestre.

Durante a divulgação dos resultados do segundo trimestre, o diretor de Relações com Investidores da Duratex, Plínio do Amaral Pinheiro, informou que a companhia está estudando a reativação de dois fornos de louças sanitárias que pertenciam à Ideal Standard. A empresa avalia a possibilidade de também aumentar os preços da linha de metais sanitários da Deca.

O cenário de retomada da atividade econômica e de aumento da demanda de materiais de construção pelas incorporadoras e construtoras em função do programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida” devem permitir um aumento no uso da capacidade instalada das indústrias do setor no segundo semestre, segundo a consultora da FGV Projetos, Ana Maria Castelo. Ela destacou, no entanto, que justamente porque ainda existe capacidade ociosa, não necessariamente haverá aumentos de preços generalizados de materiais.

Dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) apontam que, em agosto, o uso da capacidade instalada do setor era de 83%. Em outubro do ano passado, a utilização da capacidade atingiu o máximo, de 88%. “O uso da capacidade instalada caiu até chegar a 78% em junho, mas agora voltou a subir”, afirma a consultora da FGV Projetos.

Esse movimento de recomposição de margens das empresas, no entanto, está longe de significar uma ameaça de alta da inflação Segundo economistas, o aumento nos preços destes setores da indústria não é suficiente para gerar pressões inflacionárias porque trata-se apenas de uma pequena recomposição parcial de rentabilidade que não será acompanhada por um expressivo aumento da demanda interna. “Do ponto de vista dos custos também não há pressão porque o câmbio se apreciou”, afirmou o economista da RC Consultores, Fábio Silveira.

O coordenador da Pesquisa de Preços da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Antonio Evaldo Comune, destacou que o aumento dos preços só deve se traduzir em inflação ao consumidor caso ocorra de forma mais acentuada e atinja também outros setores da economia. “Teria de ser um movimento mais generalizado para repercutir nas cadeias produtivas e atingir o consumo das empresas e famílias”, afirmou.
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Para agosto, Comune prevê uma alta de 0,42% no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, impulsionado principalmente pela alta de energia elétrica, reflexo do reajuste médio de 14% praticado pela Eletropaulo no início de julho. No mês passado, a inflação ao consumidor em São Paulo subiu 0,33%, após alta de 0,13% em junho.

Fonte: Estadão


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