As distorções da renda sem desenvolvimento

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Volto ao tema do programa Bolsa-Família por conta das revelações do Índice de Desenvolvimento da Família (IDF), um indicador criado pelo governo para avaliar as condições da pobreza. Ele atesta o que já se sabe por ouvir dizer ou pela própria amostragem da realidade das ruas: renda sem saída para a educação e o emprego acaba sendo um fim em si mesmo. Resumindo: anda-se sem sair do lugar.

Os dados desse indicador, hoje divulgados, revelam que Bolsa-Família e os demais programas correlatos – o Brasil Carinhoso, por exemplo – ajudam as famílias a sair daquela tênue linha cinza da miséria na direção da pobreza. Mas, aí, para. É muito estreita a porta pela qual os beneficiários podem escapar para procurar trabalho e educação (não necessariamente nessa ordem) a fim de conquistar, lá adiante, a liberdade que esses direitos, que lhes são inerentes, ou pelo menos deveriam ser, poderiam lhes proporcionar.

Isso quer dizer simplesmente que não se acaba com a miséria somente distribuindo renda. Sobretudo, renda precária, retirada de quem tem pouco para quem não tem nada. O resultado disso é distorção.

Renda, queiramos ou não, rima com desenvolvimento. E, desenvolvimento, significa muitas outras coisas: acesso à melhoria da saúde, recorrendo a hospitais adequadamente equipados; ter creches e escolas; possuir meios para adquirir moradia decente, equidistante das áreas de risco; poder comprar alimentos e bens imprescindíveis ao dia a dia; ter cesso ao lazer e à cultura e poder contar com transporte público de qualidade. Mas, para a obtenção dessas conquistas, é preciso que o favorecido possa passar por aquela porta.

Sem infraestrutura, educação e trabalho, o beneficiário de programas daquele tipo torna-se apenas um refém da assistência social. E, assim, ele não tem saída.

Fonte: Padrão


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