As novas gerações nunca nos perdoarão pelas decisões não tomadas

A imprensa brasileira destacou, neste mês de julho, a notícia de que a agência de rating Standard & Poors estaria considerando a possibilidade de conceder aos papéis da dívida do País o sonhado investment grade. Depois que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva venceu a primeira eleição presidencial, o mercado custou a acreditar na manutenção da política econômica e na estabilidade da moeda. Como a estabilidade foi mantida, o fluxo de investimentos diretos externos cresceu e a economia se fortaleceu.
Vieram depois, e por conta disso, a auto-suficiência no abastecimento do petróleo; o superciclo de alta dos minerais e metais e dos commodities agrícolas e o anúncio dos depósitos do pré-sal na plataforma continental, com potencial suficiente para colocar o Brasil na categoria dos países exportadores de petróleo.
Contudo, eclodiu a crise global e a economia das nações ricas entrou em declínio. China, Índia e Brasil resistiram formidavelmente à tormenta mundial, lançando programas de estímulo econômico. Agora, estão credenciando-se para puxar a retomada da economia global ainda em 2010.
O cenário, portanto, mudou. E, desde que saibamos articular competentemente um projeto de Nação, o Brasil poderá aproveitar essa nova janela de oportunidade para deixar de ser o eterno "País do Futuro" de que falava Stefan Zweig, para tornar-se uma potência efetiva.
A sociedade, até agora silenciosa, precisa se manifestar para destituir dos cargos públicos os responsáveis por essa enxurrada sem fim de bandalheira em todos os níveis de governo – executivo, legislativo e judiciário – e submetê-los ao rigor da lei. E outra medida saneadora seria impedi-los de concorrer a novas eleições, abrindo espaços ao surgimento de novas lideranças. Outras providências que julgamos transformadoras:

  • Implementar as reformas estruturais que todos acham imprescindíveis, mas que ninguém quer pagar o preço político de colocá-las em prática.
  • Reduzir a carga tributária que atingiu no ano passado o nível estratosférico de 35,8% do Produto Interno Bruto (comparável à dos países ricos) sem a contrapartida correspondente do ponto de vista de serviços públicos de qualidade.
  • Tornar permanente o programa de manutenção e modernização de nossa infraestrutura.
  • Adotar sistema preventivos para proteger a população em caso de catástrofes, a exemplo do que ocorreu em Santa Catarina em fins do ano passado e, mais recentemente, em vários estados do Norte e Nordeste.
  • Articular a inteligência nos meios universitários, intelectuais e empresariais para reunir propostas e elaborar, com amplo alcance de todos os segmentos da sociedade, um projeto de Nação.
  • A partir desse projeto, que deve conter a resposta para o que pretendemos ser no contexto da futura economia mundial do conhecimento, discutir a modernização de nosso sistema educacional; preparar as condições para que o País dê um salto de qualidade, a exemplo do que fez o Japão no imediato pós-guerra, e a Coréia do Sul repetiu depois, em outro cenário e em outras circunstâncias políticas e econômicas; estabelecer laços sólidos de parceria com a China – a nova locomotiva da economia mundial, cujas prioridades atuais incluem apenas os EUA e, depois, a Europa; e recolocar nossa política de Terceiro Mundo numa escala apropriada, sem exageros nem ufanismo, investindo, nela, apenas o esforço e o tempo apropriados. A prioridade deve ser as relações com os outros membros do BRIC – o resto é perfumaria e diplomacia para registro da História, sem efeitos práticos maiores. Um projeto de Nação passa obrigatoriamente pelo crescimento sustentável e não pode limitar-se ao horizonte medíocre de uma administração, mesmo que ela dure oito anos. Os homens passam e o País fica. E, se não agirmos de imediato, as novas gerações nunca nos perdoarão. Vão nos responsabilizar pelas decisões que não tomamos no tempo certo.

Fonte: Estadão

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