Constato, no dia a dia do meu trabalho de jornalista e escritor, direcionado para a área da engenharia, uma carência extrema de biografias. Há fragmentos biográficos, dados esparsos aqui e ali juntados segundo as conveniências de estudos e pesquisas, mas biografia mesmo, com começo, meio e fim contextualizados no cenário urbano, político, social e profissional, não há. O que existe é um deserto, um Saara a perder de vista.
E são muitos os profissionais que desde sempre mereceriam ter a história de sua vida contada em prosa – ou verso -, se possível, sem o carimbo autoritário da “autorização” prévia. Eles se tornaram de tal modo importantes, pela criatividade, conhecimento e ampla experiência em obras de que participaram, que se tornaram figuras públicas de relevo, cuja história precisa e deve ser esquadrinhada e difundida.
Alguns, cujas biografias estão por aí, encolhidas, esquecidas, invariavelmente escondidas no fundo do baú de alguma livraria, ou na estante de bibliotecas de universidades e entidades, sequer são divulgados. Então, temos o seguinte: profissionais notáveis sem biografia; ou alguns notáveis cujas biografias estão abandonadas na poeira, sem qualquer divulgação. É a miséria de nossa anticultura.
Há empresas que se apoiam em lei federal para patrocinar livros pesados, publicados com finalidade mais institucional do que cultural, que se inviabilizam como material permanente de consulta. Como carregar esses monstrengos de feitura desconfortável, difícil de carregar sob o braço pra cima e pra baixo? Melhor deixá-los nas antessalas dos escritórios como objetos apropriados para decoração; jamais para uma leitura atenta. Sobretudo porque, no geral, não biografam; limitam-se a relacionar obras. O valor humano de quem as fez fica para depois. Ou nunca ficam.
E, no entanto, se quisermos saber do espírito, da formação, do meio social e familiar em que se deu o desenvolvimento de um Sérgio Marques de Souza, Milton Vargas, Maria Aparecida Noronha, Figueiredo Ferraz, André Jules Balança, Fernando Lobo Carneiro, Aldo Rebouças, Bernardo Sayão, Emílio Baumgart e por aí afora, que contribuíram sozinhos, em grupos ou como lideranças setoriais, para o aperfeiçoamento da engenharia, a gente tem de ralar.
Poderíamos falar também de outras categorias profissionais. Por exemplo, os arquitetos. Só comprovaríamos a ausência de uma cultura voltada para pesquisar e mostrar o que esses profissionais representaram e representam do ponto de vista do conhecimento, ensino, desenho e realização do espaço construído.
Quem sabe algum dia as coisas mudem e consigamos romper essa barreira da mediocridade que leva à preferência pelo supérfluo e inócuo, em detrimento da cultura, da experiência e de seus valores permanentes.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira