Brasil perde o encanto de "economia estável"

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Joseph Young – Munique (Alemanha)

Depois do Plano Real, que ajudou o Brasil a construir, em cerca de duas décadas, a imagem de um país com uma economia com regras e moeda estáveis, algo muito grave aconteceu. Ele trincou essa imagem com o aumento do imposto de importação sobre equipamentos rodoviários decretado em outubro do ano passado – medida que veio acompanhada pelos retoques nos números das contas públicas no final de 2012 e pelos altos índices de inflação.

Ao conversar com executivos das marcas globais que estão, em fases variadas, instalando fábricas próprias em diversas regiões brasileiras, e com outros que vislumbram essa possibilidade a curto e médio prazo, durante a Bauma 2013 realizada este mês (abril) nesta cidade alemã, a revista O Empreiteiro identificou uma frustração entre eles. Tal sentimento foi provocado pela medida do governo, que aumentou inesperadamente o imposto de importação sobre alguns equipamentos rodoviários.

Um daqueles executivos relatou que a direção da matriz acionou o embaixador do seu país em Brasília para “confirmar se a medida, adotada sem consulta prévia com a indústria de equipamentos” era verídica. Outro fabricante, com planos iminentes de se instalar no País, revelou-se surpreso e disse que “sua empresa, assim como alguns concorrentes, estavam com o pé atrás”.

O dirigente de uma importante marca global lamentou “que o Brasil tenha levado décadas para eliminar a inflação crônica e constituir uma economia estável – “imagem que agora vai por água abaixo por conta do crescimento medíocre do PIB em 2012, da alta da inflação e desse aumento de imposto sobre a importação de máquinas rodoviárias”.

“O que o presidente Collor conseguiu com a liberalização da economia brasileira, o governo atual parece decidido a reverter ao erguer novas barreiras, começando um novo ciclo de protecionismo que vai gerar a estagnação tecnológica dos produtos industriais produzidos no País”, disse ele.

Outra crítica recorrente desta vez entre fabricantes brasileiros que visitavam a Bauma se refere ao “estado morno do mercado de obras públicas no País. O governo lança obras novas todo dia, mas o mercado de máquinas ainda não sentiu maiores reflexos”. O diretor de uma conhecida marca indagava por que aparentemente “o mercado de pavimentação no Brasil estava encolhendo, ao invés de se expandir – um absurdo diante da extensão das estradas com pavimento deteriorado que se estendem pelo Brasil”, afirma ele. Outro executivo que atua há longo tempo no setor comentou que o mercado em São Paulo está estagnado, com muita frota parada; ao contrário do Nordeste, onde as obras que contam com recursos federais prosseguem.

Comentou-se entre os fabricantes brasileiros que as marcas chinesas, após a verdadeira invasão no mercado nacional há alguns anos, parecem estar menos agressivas. Credita-se essa mudança ao início da fabricação local dos seus modelos, sujeitos agora ao mesmo regime de custos e carga fiscal dos demais equipamentos de construção produzidos no País.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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