Caminhos cruzados

Mariano Procópio Ferreira Lage, político e empresário empreendedor, nasceu em Barbacena, Minas Gerais, em 1821. Já Antônio Maria de Oliveira Bulhões, engenheiro, nasceu no Rio de Janeiro em 1828. Embora nada tivessem um com o outro, e quilômetros de distância os separassem do ponto de vista de idéias, afinidades e atividades diferentes, um dia eles se encontraram. Desse encontro ocorreu um dos fatos mais auspiciosos para a história da malha rodoviária brasileira.

Mariano Procópio era um obcecado pelo desenvolvimento do País. Viveu a época de ouro de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. Um dia, por conta de suas atividades empresariais, imaginou que Petrópolis (RJ) e Juiz de Fora (MG), teriam de se aproximar. Essa aproximação, que na época era feita mediante o transporte de toda sorte de mercadorias em lombo de muares, poderia estreitar-se, caso, em vez de caminhos tortuosos, percorridos durante dias a fio, vencendo montanhas e planícies, houvesse uma estrada menos sinuosa e mais moderna entre as duas cidades.

Foi aí que os dois se encontraram. O empresário obteve, do Imperador D. Pedro II, contrato de concessão pelo qual construiria e exploraria, por 50 anos, a rota que, saindo de Petrópolis, avançaria para as margens do rio Paraíba, possibilitando maior facilidade no transporte de pessoas e produtos. Seus planos eram arrojados para aqueles tempos. Mas ele em nenhum momento revelou qualquer hesitação. Criou a Companhia União e Indústria e contratou a equipe para construir a estrada.

Antônio Maria de Oliveira Bulhões, que se diplomara em engenharia em 1849 pela Escola Militar, e que cursou a École des Ponts et Chaussées, na França, já havia se engajado em outros projetos do empresário. Ele assumiu a responsabilidade técnica do projeto e da construção da estrada que passaria a chamar-se União e Indústria, o nome da empresa de Mariano Procópio.

As obras começaram no dia 12 de abril de 1856. Presentes, nada mais e nada menos que o próprio D. Pedro II e os principais membros da família imperial. O primeiro trecho foi inaugurado em 18 de abril de 1858, ligando Vila Teresa a Pedro do Rio, com 30 km de extensão. A partir de Pedro do Rio, a estrada avançou mais 14 km, até a localidade de Posse. Foram necessários mais dois anos de obras para a conclusão desses 14 km. Os serviços prosseguiram.

No dia 23 de junho de 1861, o objetivo do empreendedor Mariano Procópio foi finalmente alcançado: estavam prontos e em funcionamento os 144 km da primeira rodovia macadamizada brasileira. A União e Indústria estabelecia uma ligação, para sempre, entre Petrópolis e Juiz de Fora.

A inauguração dessa rodovia, que entrou definitivamente para os anais das grandes realizações da engenharia brasileira, inaugurava também outro ato pioneiro: a cobrança de pedágio.

Com aquela estrada, Petrópolis e Juiz de Fora assistiram à chegada de novos tempos de desenvolvimento. E este se refletiu ao longo do traçado. Foi seguindo esse traçado, um dos mais belos pela descoberta da paisagem que a estrada vinha ensejando, que o alemão Revert Henrique Klumb, fotógrafo de D. Pedro II, escreveu o primeiro guia de viagens brasileiro, com o seguinte título: “Doze horas em diligência – guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Fora”.

Mariano Procópio e Antônio Maria Bulhões nem de longe imaginariam que, naquela época onde tudo era difícil, acabassem entrando para a história da engenharia brasileira, um, impulsionado pela ambição empresarial e, o outro, pela capacidade de elaborar projetos e construir estradas.
Fonte: Estadão

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