A lei que deixaria a cidade limpa entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2007. Chegou tarde para uma metrópole – São Paulo – acostumada à sujidade de toda ordem em suas ruas, avenidas e fachadas. Produziu efeitos midiáticos e imediatos, a partir do momento em que reduziu a poluição visual, mandando para o espaço outdoors e painéis – aquela parafernália toda que atordoava a visão e provocava frisson de angústia na consciência.
Com ela, edifícios que representavam antigas tendências da arquitetura e da construção, documentando a passagem do tempo em sua beleza ostensiva ou esquiva, voltaram a aparecer, como se ressuscitassem em meio aos escombros de uma cidade devastada pela insensatez dos responsáveis pela poluição visual.
Mas vieram as enchentes. E se descobriu, com as chuvas, que cidade limpa não é apenas a face. Haveria necessidade de limpeza ainda maior e muito mais cuidadosa em suas entranhas. Limpar o rosto pode até ser fácil, desde que não se tenha as mãos amarradas pela falta de agilidade nos trabalhos de varrição e pela fiscalização deficiente dos contratos firmados pelo poder público para a coleta e correta destinação final do lixo urbano.
Teoricamente São Paulo produz mais de 15 mil toneladas de lixo por dia. Uma porção considerável, quando os números mostram que no Brasil todo mais de 220 mil toneladas de lixo são deixadas esparramadas pelas ruas das cidades. Destes, segundo estatísticas possivelmente desatualizadas, 90% são abandonados a céu aberto.
Mas, retornando às ruas de São Paulo, vimos que as chuvas desnudaram o marketing. Não será qualquer força-tarefa que terá capacidade de limpar 397 mil bueiros – número oficial – entupidos de sujeira. Por isso, e pelos demais fatores cotidianamente apontados, tais como a impermeabilização do solo urbano, galerias obsoletas, maior velocidade das águas dos córregos que chegam às águas paradas do Tietê e a carência de obras para acabar com os pontos tradicionais de alagamento, a cidade patinou no lixo.
Os piscinões, secos, também ajudaram a mostrar a face oculta da cidade. Imundos, tornam-se são terreno fértil para a proliferação de todos males.
Cidade limpa. Ainda não chegamos a esse estágio. Nem sob o aspecto ambiental, nem sob os demais aspectos, todos eles, que nos levem a pensar na cidade que queremos.
Fonte: Estadão