Nildo Carlos Oliveira
Difícil não estabelecer uma correlação entre os escândalos que vão pelo país, notadamente em São Paulo, com a análise, cuidadosa e abrangente, feita pelo Nobel Mario Vargas Llosa, em seu livro A civilização do espetáculo, publicado pela Objetiva.
O mundo, o vasto mundo, é este: a imagem, o supérfluo, o consumismo, prevalecem sobre os valores que deveriam ser permanentes e que hoje estão solapados, jogados ao rés do chão.
O caso do que a imprensa vem chamando de “a máfia do ISS”, investigado pela Controladoria Geral do Município de São Paulo, não se distancia da análise dos resultados gerados por conta de uma civilização que se molda na pirotecnia, onde o que parece importante é a aparência, a gastança, o ganho fácil e sem escrúpulo.
Há muito tempo, aqui e alhures, a política deixou ser uma arte de esgrimir e aprofundar pensamentos, para tornar-se um meio de burla, um embuste. E, os exemplos proliferam. Diz o escritor: “Nada desmoraliza tanto uma sociedade, nem desacredita tanto as instituições, como o fato de seus governantes, eleitos em eleições mais ou menos limpas, aproveitarem o poder para enriquecer, burlando a confiança pública neles depositada”.
E vai além, o ensaísta: “Para que uma democracia funcione perfeitamente, é indispensável uma burocracia capaz e honesta, como as que, no passado, fizeram a grandeza da França, da Inglaterra ou do Japão…”
De repente, outro dado chama a atenção. Parece até que Llosa andou por aqui, vendo o que se passa em relação ao IPTU e a outras coisas mais. É que ele coloca o dedo no cerne de nossa realidade: “… se um governante sobrecarregar os contribuintes abusivamente de impostos, estes se verão tentados a fugir de suas obrigações tributárias. As más leis não contrariam apenas os interesses dos cidadãos comuns, mas desprestigiam o sistema legal e fomentam esse desapego à lei que, como um veneno, corrói o Estado de direito”.
É isso. Não deixar de correlacionar os fatos que estão aos nossos olhos seria deixar de enxergar a mediocridade dessa civilização da pirotecnia.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira