Continua a merecer rigoroso questionamento a assertiva, do governo federal, de que o País encontrou, enfim, o caminho do desenvolvimento e que a máquina do crescimento nunca esteve antes nos trilhos como hoje está. Queiram ou não os responsáveis pelas regras do jogo político e econômico e pela estratégia de marketing dos programas de obras e assistenciais em curso, o fato é que há lições, lastimavelmente ignoradas, de que solução pontual não resolve problemas gerais; às vezes apenas mascaram a realidade empurrando-a para diante, podendo até agravá-la no futuro.
Por mais que pretendam convencer-nos do contrário – de que o País está na rota do crescimento – temos a convicção de que às vezes o governo acerta no varejo, equivoca-se no atacado e que ele ainda não regulou a velocidade necessária para que a locomotiva chegue aonde precisa chegar.
Ela vacila nos trilhos e, em alguns trechos da marcha, perde força e resfolega como se lhe faltasse combustível.
Não deve ainda estar bem um país cuja população vem assistindo cotidianamente a cenas públicas que carecem de reflexão. Há alguns dias, no lançamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento, nas favelas do Complexo do Alemão (R$ 493 milhões), Manguinhos (R$ 232 milhões) e Rocinha (R$ 176 milhões), os responsáveis pela segurança da comitiva presidencial tiveram de ocupar previamente aquelas áreas e todos os caminhos de acesso. Homens do Exército e da Força de Segurança Nacional colocaram atiradores de elite postados em pontos-chaves para prevenir riscos à integridade do presidente.
Um aparato compreensível, mas revelador de uma realidade que não pode ser camuflada, vista, aliás, no dia-a-dia dos centros urbanos.
E, nessa mesma ocasião, em situações seqüenciadas, grupos representativos de movimentos sociais investiram contra áreas de multinacionais, destruindo centros de pesquisa e praticando outros atos de vandalismo inadequados em um país que deseja atrair investimentos. Grupos com motivações semelhantes ocuparam faixas de domínio e os trilhos de estradas de ferro da Companhia Vale do Rio Doce – além de instalações da empresa – provocando prejuízos consideráveis às suas operações de exportação de minério de ferro.
Além disso, invadiram também canteiros de obras de hidrelétricas, impondo atrasos em cronogramas importantes nos programas de geração de energia.
Conquanto as justificativas apresentadas por esses grupos possam e devam ser analisados sob a ótica do diálogo, os atos anulam os argumentos.
Além disso, não pode ainda estar nos trilhos um país que tem a saúde da população comprometida por doenças, muitas delas julgadas erradicadas desde a época saneadora de Oswaldo Cruz. A educação e outras prioridades também mostram distorções que, se não começarem a ser corrigidas, serão vulnerabilidades de difícil solução no futuro E as dificuldades em acelerar investimentos em infra-estrutura são notórias, a despeito do PAC.
Além disso, a atração do capital privado ainda não é uma questão resolvida dentro do governo, a exemplo do que acontece nas licitações de obras de geração elétrica.
É com otimismo, no entanto, que vimos as autoridades econômicas anunciarem crescimento do PIB, ao longo de 2007, de 5,4%. Em valores, o PIB brasileiro atingiu R$ 2,55 trilhões naquele ano, enquanto o PIB per capita cresceu, em termos reais, 4% acima da inflação, chegando a R$ 13.515,00 no período.
Um dado, no entanto, chama a atenção na análise dos economistas. Pesou muito nos bons números do PIB, o consumo das famílias. Este representou 60,9%. É necessário ter-se em conta que o consumo foi teleguiado pela disponibilidade farta do crédito. O aumento dos prazos de pagamento das prestações – porque tudo virou motivo para ser pago a crédito – pode ser uma faca de dois gumes no futuro para a população de baixa renda.
Crescimento não se dá em cima das facilidades para comprar, mas em cima do aumento do poder aquisitivo efetivo. Crescimento que se dá a partir de políticas compensatórias emergenciais e a partir do crédito a perder de vista pode futuramente transformar os atuais beneficiários em reféns dessas facilidades.
Por isso, defendemos uma rota de crescimento de longo prazo, com bases firmadas em um Projeto de Nação.