Famílias moradoras de cidades situadas em áreas do entorno das represas que formam o Sistema Cantareira, que abastece a Região Metropolitana de São Paulo, estão com medo. Estão de olho nas tarefas diárias da sobrevivência e nas informações sobre a elevação do nível dos reservatórios, por causa das chuvas. Há informações de que técnicos já haviam alertado a Sabesp para uma abertura segura e gradual das comportas, para atenuar o perigo que o aumento do volume de água poderia desencadear.
A rigor, não seria para ninguém ter medo. Barragens são projetadas – teoricamente – considerando probabilidades até inusitadas de regime de cheias. Simulações são feitas considerando as condições mais extremas. E são analisados até o limite mais imponderável os riscos de eventual rompimento.
Contudo, há ações externas que têm afetado o ambiente em que os reservatórios do sistema estão localizados. As cidades, entre as serras da Cantareira e Mantiqueira, cresceram. E condomínios fechados, hotéis e indústrias passaram, depois da década de 1980, a ocupar áreas cada vez maiores do entorno, sacrificando a mata ciliar, sobretudo ao longo do rio Atibaia. Ninguém pode se considerar inocente nessa história. Prefeituras foram liberando sítios ribeirinhos para a urbanização contínua.
Além desse aspecto – a urbanização que vai devorando mata e negligenciando o meio ambiente – há outro dado para o qual uma das prefeituras da região, a de Piracaia, chama a atenção. Ela deu conta a um jornal que, quando o Sistema Cantareira foi construído, lá no começo dos anos 1970, a vazão de um dos rios que escoam as águas do reservatório, registrava vazão de 30 m³/s. Atualmente, a vazão é da ordem de 7 m³/s. O leito está comprometido pelo assoreamento e o trabalho para desassoreá-lo é tarefa do Estado. Mas, segundo a prefeitura, desde 2004 o Estado não arregaça as mangas para fazer esse serviço.
O medo, a levar-se em conta a denúncia de urbanistas, resulta da irresponsabilidade com que o meio ambiente continua a ser tratado.
Fonte: Estadão