Complexo dará independência ao País em hemoderivados

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Hoje, obras civis se realizam conjuntamente com a instalação da linha de processos; a unidade trará autonomia ao Brasil na produção de medicamentos destinados ao SUS

Augusto Diniz

O Brasil dará grande passo na saúde quando colocar em operação, no final de 2014, a sua primeira fábrica de hemoderivados, em Goiana, a cerca de 75 km do Recife (PE). É que lá se processará 500 mil l de plasma por ano, matéria-prima essencial para produção de medicamentos que irão atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

Poucos países produzem hemoderivados – produção de medicamentos a partir do plasma sanguíneo ou obtidos por meio de engenharia genética. O Brasil importa o produto, mas pretende diminuir muito essa prática com a produção na planta em Pernambuco dos seis hemoderivados mais consumidos: albumina (para pacientes com queimadura, cirrose e em cirurgias de grande porte), imunoglobulina (anticorpo para pessoas com organismo sem defesa imunológica), fatores de coagulação VIII e IX plasmáticos, complexo protrombínico e fator de von Willebrand (destinado a pessoas com hemofilia).

O local onde está sendo instalada a fábrica – com investimento na ordem de R$ 700 milhões – será um futuro polo farmacoquímico com 25 ha, sendo que seis outras indústrias já estão se estabelecendo na área. A unidade da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) será âncora do polo.

Para desenvolver a sua unidade industrial (a maior desse tipo na América Latina), o País firmou uma parceria com o Laboratório Francês de Biotecnologia (LFB), para aquisição da tecnologia industrial em um contrato de € 150 milhões. A fábrica é constituída de diferentes blocos de atividades que se diferenciam pela complexidade de construção e montagem pouco comum. Serão 42 mil m² de área construída, em uma área total de aproximadamente 250 mil m².

O projeto da unidade industrial foi desenvolvido pelos franceses. A ­Concremat, contratada pela estatal Hemobrás para gerenciamento do lote 1 do empreendimento, fez análise de consistência do projeto e compatibilização – tendo iniciado os trabalhos no projeto em janeiro de 2012.

O lote 1 – com 40% dos trabalhos executados – envolve também a construção civil e instalações elétricas, hidráulicas e refrigeração de 17 blocos da unidade industrial, sendo seis principais (câmara fria a -35°C para recepção e armazenamento de plasma humano, cujo prédio já está em operação; fracionamento; fabricação; liofilização e envase; armazenagem de produto acabado; e laboratório de controle de qualidade) e outros de utilidades (caldeiras para produção de vapor, subestação de 69 kV, estocagem de químicos, reservatório, manutenção etc.). Os blocos serão entregues na medida em que forem sendo finalizados, até o fim de 2014. Umpipe rackde 2 km foi montado para passagem de utilidades.

Dentro ainda desse pacote do lote 1, está um trabalho que é também considerado crítico. Trata-se da refrigeração. O ar-condicionado tem filtragem especial e não pode emitir impurezas nem partículas. Atualmente, processa-se a instalação dos dutos para passagem do ar. Cada bloco deverá ter sua central de ar-condicionado.

Quatro equipes de gestão

A Concremat lembra que, na época da proposta, já começou a buscar proficiência na área, principalmente engenheiros em diferentes disciplinas. A construção diferenciada, com especificação farmacoquímica e normativa exclusiva, exigiu isso.

A gerenciadora formou quatro equipes (projeto, planejamento, fiscalização e comissionamento de campo) para cuidar dos trabalhos, sendo que o engenheiro Carlos Ximenes faz a coordenação geral das equipes. “Tem que cuidar de cada passo. Qualquer alteração de projeto tem interferência no empreendimento”, ressalta o profissional da Concremat.

O consórcio construtor da fábrica é composto pela Mendes Júnior (líder), Tep e Squadro. O sistema construtivo dos blocos é de estrutura de concreto convencional moldadoin loco, com estruturas metálicas e cobertura especial para evitar aquecimento interno. A estrutura de alvenaria dos blocos do empreendimento já está quase pronta.

A montagem da fábrica começou a ser feita este mês (outubro) e está a cargo do laboratório estatal francês LFB, que também fornecerá os equipamentos, de acordo com o contrato firmado com a Hemobrás – são cerca de 1 mil equipamentos e sistemas. Esta etapa, também chamada de processo, envolve o lote 2 do projeto, que inclui a instalação de sofisticados equipamentos. Os lotes 3, 4 e 5 envolvem a implantação de outras atividades essencialmente industriais ainda a ser feitas na fábrica de hemoderivados.

Assim, com o processo iniciado, a Concremat irá trabalhar integrada ao laboratório francês. “Teremos que ter cuidado redobrado para não interferir na fase de processo, já que as obras civis continuam. É importante gerir as interfaces”, afirma Carlos Ximenes.

Entre os equipamentos a ser instalados, incluem-se filtros, supercentrífugas industriais e colunas de cromatrografia, além de sistemas de purificação e destilação de água; de produção de vapor puro e de ar comprimido; de tratamento de efluentes e processos; de limpeza e esterilização; dentre outros. O LFB fará também a qualificação da instalação e validação dos medicamentos.

O projeto da unidade industrial teve um aditivo. É que mudou a tecnologia do processo de imunoglobulina liofilizada para imunoglobulina líquida, considerada mais moderna e atual. A mudança exigiu que o projeto fosse alterado logo no começo dos trabalhos.

Há 40 pessoas da Concremat no projeto hoje, sendo 38 engenheiros. Do consórcio, são mais 600 pessoas. Com o início da montagem, o empreendimento deverá ter 1 mil trabalhadores (o pico perdurará até março de 2014).

Ficha técnica –
Fábrica de hemoderivados da Hemobrás

• Local: Goiana (PE)

• Projeto básico e montagem: Laboratório Franc&eci
rc;s de Biotecnologia (LFB)

• Gerenciamento e análise de consistência de projeto: Concremat

• Projeto detalhado: Pharmako Consultoria

• Consórcio construtor: Mendes Júnior (líder), Tep e Squadro

Fonte: Revista O Empreiteiro


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