Em 28 anos de atividades, o Complexo Portuário de Suape, em Pernambuco, deixou para trás um perfil tímido para transformar-se no segundo porto do Nordeste, logo depois do porto de Salvador (BA). Mas, o objetivo é mesmo chegar à primeira colocação, meta que tem no governo estadual de Pernambuco o principal aliado. Em agosto passado, o Porto de Suape atingiu a marca de 181 mil t de carga conteneirizada, volume nunca antes alcançado. No ano passado, o porto teve crescimento de 30% na movimentação de cargas em relação a 2004. Tal desempenho tornou-se realidade em pouco mais de dois anos, a partir de um choque de gestão que focou a área de negócios, meio ambiente e relacionamento com a comunidade. Ao mesmo tempo foram realizadas melhorias na infra-estrutura portuária, a partir da implantação da Central de Facilitação Portuária e do Terminal de Contêineres (Tecon), que opera os dois maiores portêineres do Brasil, de 65 t. Pernambuco quer consolidar-se como o principal pólo de logística do Nordeste, a partir da integração entre o Complexo de Suape, a rodovia BR-232 e os aeroportos de Guararapes e de Petrolina. Suape é a âncora desse pólo tirando proveito da operação modernizada e da posição estratégica em relação ao mercado nordestino, norte-americano e europeu. O complexo tem 73 empreendimentos atuando na área industrial, de logística e de operação de serviços portuários. Juntos, eles geraram investimentos de US$ 1,7 bilhão até 2003. Para o futuro, a trajetória de crescimento já está traçada: empreendimentos de grande porte, que reúnem investimentos estaduais, federal e capital privado, focados nas indústrias naval, de petróleo e petroquímica. Eles ainda estão no papel, ou em fase de viabilização econômica, licenciamento ambiental, negociações comerciais. Mas já movimentam cursos de qualificação de mão-de-obra em diversos níveis e a atenção de outras empresas, que vislumbram fortes oportunidades de negócios pela frente.
Empreendimentos de porte à vista
Atualmente, o complexo gera mais de 5,5 mil empregos diretos, mas a expectativa é de que a implantação de diversos empreendimentos de grande porte eleve esse patamar numa escala imediata de mais de 30 mil postos. Um dos mais relevantes será a construção do Estaleiro Atlântico Sul, o maior do Hemisfério Sul, com investimentos previstos de US$ 170 milhões, a cargo do consórcio formado pelas empresas Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Promar, com tecnologia Samsung. Calcula-se que durante as obras serão gerados 25 mil empregos, entre diretos e indiretos. O estaleiro é uma das principais empresas envolvidas nas licitações dos navios da Transpetro, tendo vencido a licitação para a construção de dez navios Suezmax. Está prevista também a implantação de um pólo de poliéster, do grupo italiano Mossi & Ghisolfi (M&G), que já construiu em Suape uma fábrica de polietileno tereftalato, a matéria-prima básica das garrafas PET. Na esteira desse pólo, deverá vir outro, o de tecelagem, aproveitando a abundância de matéria-prima para fabricação de poliéster. Outro forte vetor que está mobilizando todo o Estado e principalmente Suape, é a refinaria de petróleo Abreu Lima, parceria entre a Petrobras e a Petroleos da Venezuela S.A. (PDVSA), com investimentos estimados em US$ 2,8 bilhões. A previsão é de que as obras da refinaria iniciem-se no começo de 2008, quando estará concluído o projeto básico com os detalhamentos. A refinaria irá processar 200 mil barris de petróleo por dia, atendendo ao Norte e Nordeste. Ao longo dos cinco anos de sua construção, calcula-se a criação de 23 mil postos de trabalho em todo Estado, sendo 1.500 somente na operação. Para a construção, foram doados à Petrobras 420 há do Complexo e 210 ha da Usina Salgado, além da Isenção do Imposto de Transmissão e Doação (ICD). Existem ainda outros projetos de menor porte em andamento, como um hotel três estrelas, com 45 leitos. E estuda-se a construção de um centro de negócios, o Suape Business Center. Tudo isso não é por acaso. Como numa órbita solar, um empreendimento atrai outro.
De olho na mineração
Dentre os fatores de atração de Suape, está a construção do primeiro ramal da ferrovia Transnordestina, que permitirá ao porto regionalizar sua atuação, atendendo, por exemplo, aos segmentos como suinocultura e avicultura, praticados no interior de Pernambuco. A linha transportará grãos do sul do Piauí e do Maranhão, tanto para Suape como para Pecém (CE), e será um importante indutor de desenvolvimento do cerrado nordestino. Disputando diretamente com Pecém, cujo ramal será mais longo, Suape prepara-se para receber cargas de minério de ferro, retornando os vagões com óleo diesel. Segundo Matheus Antunes, presidente de Suape, a área de mineração foi uma surpresa, mas resultou de um forte trabalho da Secretaria de Desenvolvimento Econômico a fim de atrair o transporte do produto para o Nordeste. Atrelado ao transporte do minério, prevê-se outros empreendimentos, como coque de refinaria, usinas de pelotização ao longo da estrada de ferro e até mesmo um pólo siderúrgico. Uma grande conquista nesse sentido foi o início de operação da Mhag Minerações, que tem minas de minério de ferro na região de Jucurutu, no Rio Grande do Norte. A empresa está exportando seu minério para a China via Porto de Suape, e implantou-se em uma área de 15 mil m² do antigo Cais Público de Múltiplos Usos de Suape, arrendado por dez anos.
Ponto de transferência
Localizado no litoral sul do Estado de Pernambuco, próximo à foz dos Rios Tatuoca e Massangana, entre o Cabo de Santo Agostinho e o Pontal do Cupe, distante 40 km ao sul da cidade do Recife, o Porto de Suape acabou mudando de vocação. Sua operação inicial, na década de 1970, destinava-se à operação de combustíveis e cereais a granel, em substituição ao porto da capital pernambucana. Mas com o tempo passou a ser visto pelos armadores internacionais como porto ideal para realizar, na Costa Atlântica da América do Sul, as operações de transhipment, ou seja, seja transferência de cargas de navios de grande porte (full-containers de 4a geração) para as instalações portuárias e reembarcando-as em navios de menor porte. Tal combinação de fatores explica sua rápida transformação em um dos portos mais importantes do Brasil, focado principalmente no transporte de cargas conteinerizadas e com capacidade de atração de navios de grande porte. Possui um cais acostável (industrial) com dois berços para múltiplos usos, uma plataforma de 343 m de extens&atil
de;o, 39 m de largura e profundidades, no lado leste, de 15 m, e, no oeste, de 10 m. Apresenta um píer de dois berços, para granéis líquidos, de 84 m de comprimento, 25 m de largura e profundidade de 12 m em ambos os lados, além de uma rampa para operações ro-ro com 15 m de profundidade. A armazenagem junto aos cais industriais consiste em dois pátios cobertos destinados a contêineres, de área total de 25 mil m², para 1.642 TEU. Há dois armazéns de carga geral de uso particular – um deles com quatro câmaras frigoríficas –, somando 3.533m² com 3.200 t de capacidade, um pátio de contêineres de 14 mil m², para 1.400 TEU e 45 tanques (Tequimar, Petrobras e Sanbra) de derivados de petróleo, produtos químicos e óleo de soja, totalizando 161 mil t.
Quatro novos terminais
Ao colocar em operação o novo terminal de contêineres, em 2002, capaz de receber e carregar 40 contêineres por hora, a capacidade do terminal de Suape cresceu seis vezes. Agora, planeja-se a execução de quatro novos terminais marítimos, dois deles voltados à indústria de grãos e os outros dois destinados à demanda gerada com as operações de exportação e importação de granéis sólidos em geral, como o minério de ferro e o clínquer. Os novos terminais ocuparão o Cais 7, 8 e a ilha da Cocaia. Enquanto esses projetos são desenvolvidos, Suape procura concluir a construção do Cais 4, o primeiro destinado a granéis sólidos no porto. Iniciada em 2001, a obra foi paralisada três vezes, a última em 2003, devido ao contingenciamento de verbas federais. Quando estiver pronto, terá área de atracamento com 330 m de comprimento, 15,5 m de profundidade e capacidade para receber navios de até 14,5 m de calado e de 100 mil t de porte bruto (TPB). Já as obras na Ilha de Tatuoca incluem a dragagem do acesso e a construção de uma via rodoferroviária de 4,5 km de extensão, orçadas em R$ 90 milhões. Com término previsto para junho, o cais deverá ser licitado por meio de concorrência pública para a construção de um terminal graneleiro.
Choque de gestão
Para atender aos padrões internacionais de segurança e agilidade aduaneira, o Complexo Portuário de Suape investiu fortemente na melhoria da gestão interna. Ele foi o primeiro do País a buscar o certificado de Segurança Internacional ISPS-CODE, instituído pela Organização Marítima Internacional (IMO), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). Trata-se de importante conjunto de procedimentos exigidos, principalmente, após o ataque terrorista de 11 de setembro. Outra inovação ficou por conta do prédio de facilitação portuária, localizado ao lado do terminal do Tecon, que reduziu em 44,21% o tempo de exportação, em relação ao que era praticado em 2004. Com sua construção, Suape passou a agrupar todos os órgãos necessários para as operações portuárias, como a Polícia Federal, Ministério da Saúde, corretores de navios, despachantes aduaneiros, receita federal, entre outros. A Alfândega de Suape já chegou a liberar um contêiner em 2h15, contra a média de 16h54 do porto de Salvador e 12h05 do porto de Fortaleza, no período de 2005. Outra medida que implicará na rápida modernização do porto é formação de mão-de-obra. Numa parceria inédita no País, que envolve o Complexo Industrial de Suape, o governo do Estado e a STC Group. A STC Group é subsidiada pelo Ministério da Educação do Reino dos Países Baixos e especializada na capacitação e educação de jovens nos setores logístico e naval. A parceria será incorporada ao Programa de Ensino Médio Integrado de Educação Profissional, permitindo treinamento técnico nas funções ligadas à atividade portuária, como direção naval para diversos tipos de embarcação, simulação de navegação, transporte, distribuição, manuseio, armazenamento e controle de cargas.
Fonte: Estadão