Atualmente em construção, com previsão de entrega total em maio de 2026, a Comunidade do Aço é um empreendimento de habitação de interesse social no Rio de Janeiro com impactos expressivos relacionados ao uso dos recursos naturais. Desenvolvido pela Dimensional Engenharia, o projeto compreende 44 prédios de quatro andares e apartamentos de 50 m², somando 704 unidades. Cerca de quatro mil pessoas serão beneficiadas diretamente com as novas moradias construídas em uma comunidade na zona oeste com o menor índice de desenvolvimento humano do município.
Além dos apartamentos, o projeto contempla a construção de uma ampla infraestrutura urbana que inclui reservatório de 3,3 milhões de litros de água potável, mais de 9 km de redes de água potável, 8 km de redes de drenagem, 2 km de ciclovias, 37 mil m² de calçadas e o plantio de 16 mil mudas de árvores. O empreendimento conta, ainda, com mais de 28 mil m² de área de lazer, composta por praças, playgrounds, quadras esportivas, pista de skate, entre outros equipamentos.
Mas isso não é tudo. A Comunidade do Aço é um case de sustentabilidade que derruba o mito de que eficiência e qualidade ambiental se viabilizam apenas em empreendimentos de alto padrão. Os edifícios que compõem o complexo conquistaram a certificação preliminar EDGE (Excellence in Design for Greater Efficiencies) no nível Advanced. O mega empreendimento habitacional também busca outras certificações, como o GBC Brasil Condomínio, o LEED ND e LEED for Communities, as duas últimas voltadas à urbanização.
O selo EDGE confirma a alta eficiência do projeto criado pela IFC (International Finance Corporation), órgão do Banco Mundial. O EDGE é um sistema de certificação que visa ampliar o acesso à eficiência e à sustentabilidade, estimulando a descarbonização da construção. O processo se diferencia por sua acessibilidade e objetividade, focando em três categorias — energia, água e materiais. A certificação adota benchmarks locais como referência. Isso significa que o empreendimento certificado é comparado com outros edifícios da sua região.
Há, também, a exigência de uma auditoria presencial que confere ainda mais governança ao processo de certificação. Outra característica do processo de certificação EDGE é sua calculadora web gratuita que funciona de modo semelhante a um software de simulação para mensurar os benefícios gerados por cada ação de sustentabilidade incorporada ao projeto. Por meio dessa plataforma é possível comparar o desempenho de diferentes estratégias, obter indicadores de consumo e identificar o percentual de economia proporcionado por cada intervenção.
Na Comunidade do Aço, a aplicação do processo EDGE constatou índices importantes de eficiência, com destaque para a redução de 64% no consumo de energia, 37% na demanda por água e 39% de carbono incorporado aos materiais de construção. Um conjunto de estratégias contribuiu para a conquista de tal resultado. “Com relação à energia, por exemplo, destacam-se as janelas bem dimensionadas e portas das varandas sombreadas, que favorecem a ventilação e a iluminação natural, sem ocasionar radiação solar excessiva”, diz Gabriela Gomide, consultora de sustentabilidade no CTE.
Ela conta que as coberturas dos edifícios da Comunidade do Aço possuem telhas com isolamento térmico e pintura externa na cor branca, que também colaboram para a redução da carga térmica. Há, ainda, o uso de iluminação eficiente em LED e a geração de energia renovável com a instalação de placas fotovoltaicas nos telhados. Para cumprir com as exigências do EDGE no quesito água, os prédios no conjunto habitacional carioca contam com dispositivos sanitários de baixa vazão, que diminuem o consumo de água e o volume dos efluentes a serem tratados.
Outro ponto de destaque do projeto é a especificação de materiais e sistemas construtivos com menor emissão de carbono incorporado e, portanto, com menos impacto ambiental. Um exemplo disso são as lajes de concreto armado moldadas in loco adequadamente dimensionadas, com baixa taxa de armação.
“A Comunidade do Aço é um projeto de vanguarda na implantação de soluções de sustentabilidade. Além de buscar diferentes certificações ambientais, o empreendimento tem sua pegada de carbono inventariada, o que mostra o comprometimento de seus desenvolvedores com as mudanças climáticas”, avalia Adriana Hansen, diretora técnica de sustentabilidade no CTE.
CERTIFICAÇÃO DE HABITAÇÃO POPULAR É POSSÍVEL
À frente da construção da Comunidade do Aço, a Dimensional Engenharia tem a busca por certificações ambientais como uma diretriz corporativa há mais de dez anos. “Os selos verdes comprovam que vamos além da adoção de algumas práticas sustentáveis isoladas. Eles dão a real proporção dos impactos gerados por cada estratégia incorporada, assim como mostram a nossa aderência aos preceitos ESG”, explica Vinícius Benevides, diretor operacional da Dimensional e vice-presidente do Sinduscon-RJ. Ele lembra que as certificações ambientais comprovam, com a credibilidade de uma avaliação de terceira parte, que a construção é totalmente aderente às leis, resguarda o meio ambiente e cuida de sua força de trabalho. “Ativos imobiliários certificados são genuinamente ESG. No caso de empreendimentos de habitação popular, a busca por eficiência no uso de recursos naturais faz todo o sentido, uma vez que garante, aos usuários, acesso a imóveis com custo de operação e manutenção muito mais baixos”, complementa Benevides.
Na avaliação do executivo da Dimensional, o processo de certificação EDGE oferece um caminho bastante viável em direção à sustentabilidade. “As medidas que precisam ser adotadas são de fácil implantação e o incremento no custo de construção é muito baixo perto dos benefícios ambientais e sociais proporcionados, como a redução na conta de luz dos moradores”, analisa ele. Segundo cálculos da Dimensional, nesse empreendimento em especial, todas as ações necessárias para obter a certificação EDGE no nível Advanced implicaram em um aumento de custo em torno de 3%. A maior parte desse valor está associada à implantação de uma ampla estrutura para captação de energia fotovoltaica capaz de suprir em mais de 40% a demanda de energia da Comunidade do Aço.
“É um acréscimo de custo muito pequeno diante dos benefícios sociais e econômicos proporcionados”, analisa Benevides. “Sobretudo nas habitações de interesse social, é fundamental construirmos visando garantir o menor custo de operação possível. Afinal, reduções nas contas de água e de energia significam mais margem no orçamento dessas famílias”, diz o diretor da Dimensional.
Construtoras como a Dimensional estão conquistando uma importante fatia de mercado ao se posicionarem como líderes na construção sustentável, analisa Hansen. “Construir verde não é uma tendência, mas uma transformação de mercado vivenciada em todo o mundo. Para serem competitivas, as empresas precisam construir verde agora”, conclui a diretora.