Tido como uma alternativa de implantação rápida, de custo inferior e sem gerar tantas desapropriações quanto o metropolitano, e ainda ser mais rápido e confortável que um ônibus trafegando por corredor exclusivo, o monotrilho foi o sistema escolhido pelas autoridades de São Paulo como a panaceia para o crônico problema de acesso via transporte público ao Aeroporto de Congonhas.
*Perspectiva mostra transposiçãosobre o rio Pinheiros
Quem mora ou visita São Paulo e precisa passar por esse aeroporto conhece bem as dificuldades de chegar ou partir dele por meio do atual sistema de transporte público paulistano.
No início deste ano, o governo estadual prometeu colocar fim às constantes queixas sobre esse precário acesso a Congonhas. Também estipulou uma data para o fim do martírio: 27 de julho de 2014. É o dia previsto, em contrato assinado entre o estado e o consórcio de empresas, para a inauguração do primeiro trecho da linha 17-Ouro do Metrô.
Se ficar pronta dentro do prazo, a entrega da obra, a mais importante de mobilidade urbana da cidade para receber a Copa do Mundo de 2014, ocorrerá ao final da primeira fase da competição, quando São Paulo abrigará somente mais dois duelos da competição – um pelas oitavas de final (dia 1º de julho) e outro pela semifinal (dia 9). Sem mencionar que para a ocasião o monotrilho deve operar em caráter experimental – segundo o contrato, por um período de 180 dias de operação assistida.
A princípio, a estação do Aeroporto de Congonhas ficaria na Avenida Washington Luís, em frente ao terminal. Mas houve veto do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp), o que levou o Metrô a redefinir localização.
A companhia estuda construir um acesso dentro do saguão de Congonhas que o conecte até a futura estação, mas ele pode ser comprometido por causa do processo de tombamento aberto pelo Conpresp em 2004. Abrigo de painéis de artistas renomados e elementos arquitetônicos art decó, qualquer interferência na área pelo Metrô teria de ser submetida ao conselho.
Cronograma de obras
Depois de idas e vindas, com direito a ações populares na Justiça, o projeto para integrar Congonhas ao sistema metroviário da capital paulista começou a sair do papel em abril passado. Após o aval do Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Cades), órgão vinculado à Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, uma das cinco faixas da Avenida Roberto Marinho foi interditada para dar início às obras.
Ali serão elevados os trilhos dos primeiros 7,7 km do ramal, ligando o aeroporto à estação Morumbi da Linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Esse trecho contará com oito estações: Jardim Aeroporto, Congonhas, Brooklin, Vereador José Diniz, Água Espraiada, Vila Cordeiro, Roberto Marinho, Chucri Zaidan e Morumbi.
Já existe autorização para as primeiras desapropriações, que atingirão 51 imóveis (81,1 mil m² de área) em quatro distritos (Jabaquara, Vila Andrade, Morumbi e Vila Sônia), onde serão feitos os dois trechos restantes previstos para o monotrilho. O segundo compreenderá 6,5 km de trilhos elevados, com mais cinco estações (Panamby, Paraisópolis, Américo Maurano, Estádio Morumbi e São Paulo-Morumbi) e previsão de entrega para 2016.
Quanto ao último trecho, 3,5 km que conectarão o Jardim Aeroporto à estação Jabaquara da Linha 1-Azul (com as futuras estações: Jardim Paulista, Vila Babilônia, Cidade Leonor, Hospital Sabóia e Jabaquara), não há ainda previsão para a entrega.
Além da integração com a estação Morumbi da CPTM, a Linha 17-Ouro terá conexões com as linhas 1-Azul (Jabaquara), 4-Amarela (São Paulo/Morumbi, em construção) e 5-Lilás (Água Espraiada, também em obras). O deslocamento entre o aeroporto e a região central (a 9,5 km de Congonhas) ou a Avenida Paulista (a 7,5 km) deverá sobrecarregar a estação Jabaquara da Linha 1-Azul, por onde já passam diariamente 90 mil usuários (só perde para Sé e Luz na rede metroviária).
Cada trem estará capacitado a atender até 400 passageiros – índice que representa cerca de um quinto da possibilidade das seis composições de um metrô convencional (totalizando 132 m de extensão). Se a demanda aumentar, o monotrilho da linha receberá mais dois vagões, e o veículo leve poderá carregar até 600 passageiros.
A estimativa do Metrô é que a Linha 17-Ouro atenda 43,2 mil passageiros por dia na abertura do primeiro trecho e 252 mil usuários diariamente até a sua conclusão.
Consórcio do monotrilho
A responsabilidade das obras do sistema na cidade será do Consórcio Monotrilho Integração, formado por Andrade Gutierrez, CR Almeida, MPE e Scomi Engineering (Malásia). O empreendimento foi estimado em R$ 3,2 bilhões, entre recursos provenientes dos governos do estado, do município e empréstimo do governo federal (Caixa e BNDES), sendo que R$ 1,1 bilhão será aplicado nas obras civis e R$ 250 milhões se referem à fabricação dos trens.
O monotrilho da Linha 17-Ouro trafegará sobre uma estrutura elevada entre 12 m e 15 m (dependendo do trecho) acima das ruas e avenidas da região, sustentada por vigas de concreto posicionadas a intervalos de 30 m ao longo de 17,7 km de extensão. Será movido a energia elétrica e terá um total de 24 trens, cada um com três vagões que se movimentam sobre pneus, com 34 m de comprimento. Para o Metrô, esta é uma das vantagens do sistema, que torna a operação silenciosa e menos poluente.
Trens serão fabricados no Rio de Janeiro
De um antigo galpão em um terreno de 50 mil m², localizado em um dos principais logradouros do Rio de Janeiro, virá a produção dos futuros vagões do monotrilho da Linha 17-Ouro. Mais de R$ 15 milhões foram investidos na reforma e ampliação do espaço às margens da Avenida Brasil, na zona oeste do Rio, que abrigará a nova fábrica da MPE – Montagens e Projetos Especiais. A unidade deve entrar em funcionamento em agosto deste ano.
Segundo Adagir Salles Abreu, diretor-superintendente da MPE, será efetuada nessa fábrica toda a parte de caldeiraria, como a montagem da estrutura do carro do monotrilho
, que será fabricada com alumínio. Para o executivo, a fabricação dos carros com alumínio será o principal diferencial tecnológico do monotrilho. “Isso faz com que seu peso total seja reduzido, gerando um menor consumo de energia”, garante.
Além dos trabalhos de montagem mecânica, elétrica e eletrônica dos equipamentos dos 72 vagões previstos para o projeto, na fábrica também serão realizados testes de estanqueidade, estáticos e dinâmicos.
Se tudo correr conforme planejado, a primeira composição deverá ser entregue ao Metrô de São Paulo em março de 2013. O contrato de R$ 250 milhões com o Metrô prevê a entrega dos 24 trens em 30 meses.
A linha de montagem deve operar em um turno e terá capacidade para a produção de 60 carros por ano. Se houver outra demanda, serão constituídas mais duas linhas de produção na fábrica, estimadas em R$ 10 milhões.
A MPE integra o consórcio vencedor do novo eixo de transporte coletivo rápido paulistano, ao lado das construtoras Andrade Gutierrez e CR Almeida, além da Scomi Engineering BHD, da Malásia. Enquanto a MPE responsabiliza-se pela fabricação dos vagões e a montagem do monotrilho, a Scomi fornecerá o projeto.
O grupo MPE é um embrião do Departamento de Serviços Industriais da General Electric. Inicialmente, prestava serviços de manutenção, testes, calibrações, start up e comissionamentos, voltado principalmente para produtos fabricados pela empresa dos Estados Unidos. Na década de 1980, a GE desvinculou-se da prestadora de serviços e a gerência do setor negociou diretamente a aquisição da divisão. O acordo foi firmado em 1988, e se constituiu a MPE.
Fonte: Padrão