Conjunção de fatores provoca os atrasos

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Para o professor Vicente Daniel Vaz da Silva, da PUC-Minas, um especialista em setor ferroviário, as obras em curso para a expansão da malha ferroviária brasileira sofrem com atraso por causa do caráter político de órgãos que a regulamentam. Mas ele acredita que se forem entregues, essas vias férreas proporcionarão desenvolvimento econômico nas áreas pelas quais qual passarão. Confira entrevista à revista O Empreiteiro.

Sobre os três grandes projetos ferroviários em andamento no País (Norte-Sul, Oeste-Leste e Transnordestina), qual é sua avaliação?
São obras estratégicas quanto à exploração e crescimento regional, melhor escoamento de produtos e melhor mobilidade das pessoas considerando a inclusão de transporte de passageiros. A ferrovia Norte-Sul interliga o sistema Norte, onde se situa a ferrovia dos Carajás, com as ferrovias centrais com acesso ao Sudeste brasileiro, uma região industrializada. A Região Norte é um centro de mineração, tem um polo industrial em Manaus, portanto uma demanda atrativa comercialmente. A ferrovia Oeste-Leste é um trecho para a integração das duas costas do continente, acessa uma extensa região do nosso território, área com potencial agrícola e também pecuário, o que viabiliza exploração pela iniciativa privada. A Transnordestina reativa e amplia o segmento ferroviário na região, integra sobre os trilhos um território com uma expressiva população, além de riquezas naturais e atrações turísticas.
Sabe-se que as obras estão atrasadas, mas o quanto esses projetos poderiam estar contribuindo para o desenvolvimento se os prazos estabelecidos para operação tivessem sido cumpridos ou já estivessem concluídos?
São obras que dependem de decisões políticas e de recursos públicos, portanto não se evoluem com rigor de uma obra privada. A contratação se dá por trechos e uma particularidade da ferrovia é depender do próprio trecho concluído para escoamento do material sobre os trilhos. Pode-se citar brita, dormentes e trilhos. Em épocas de chuva as obras não progridem satisfatoriamente. O progresso vigoroso encoraja a população, dá visibilidade ao governo nesse segmento que é vital para a nação e presta decisivas melhoras na vida dos habitantes locais mais afastados dos centros urbanos.
Qual seria a solução para que as obras caminhassem de acordo com o cronograma?
Eu imagino que se a gestão fosse direcionada para um órgão com postura, sem caráter político, com multas estabelecidas, com facilidade de direcionar pessoas e equipes com pulso firme, que se estabelecessem orçamentos e contratos com alinhamento da evolução físico-financeira, assim as empresas se adequariam ao ritmo imposto.
Qual a contribuição de cada um desses projetos para a economia do País?
Redução do custo do frete, ainda mais esse de longo percurso. É um atrativo para o desenvolvimento das regiões mais afastadas. É um impulso à agricultura nas regiões Norte e Oeste do País, uma imensidão ainda a ser desbravada. É a inserção de uma expressiva parte da população ao consumo, pois os produtos chegariam a essas regiões em maior escala, a um preço mais atraente e inspirariam essa população a incluir no hábito outros produtos. Impulsiona o comércio nos bens essenciais e nos segmentos de menor necessidade.
Qual desses projetos é mais premente entrar em operação e por quê?
A minha visão aponta para a ferrovia Norte-Sul, pois está em fase mais adiantada, liga um eixo vertical extenso, corta a região central e interliga regiões industrializadas.
Esses projetos ferroviários atenderão realmente às demandas para as quais foram encomendados?
Entendo que não. A ferrovia no Brasil tem caráter de escoamento de carga para exportação. A disponibilidade de material rodante, estações e vagões para passageiros é que sustenta o desenvolvimento, pois encontra as necessidades das pessoas dessas regiões afastadas.

Fonte: Padrão


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