Copa, Olimpíada, TAV e as prioridades do País

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Não vamos chegar ao cúmulo do reducionismo ao colocar o dedo na importância das obras previstas para a Olimpíada Militar do ano que vem, no Rio de Janeiro; a Copa de 2014, que polarizará as atenções e a emoção do Brasil e do mundo, em especial de 12 cidades-sede, e a Olimpíada de 2016, na capital carioca. São eventos cuja magnitude pode ser avaliada pelo interesse imbatível, dentre outros eventos nacionais e internacionais, no calendário esportivo.

Tampouco, devemos desfocar a importância de uma obra, proposta para ser o espelho de um empreendimento ferroviário aos olhos do mundo, como o Trem de Alta Velocidade (TAV), conectando três pólos aeroportuários internacionais – Viracopos e Guarulhos, no Estado de São Paulo, e Tom Jobim, no Rio de Janeiro. No conjunto, são temas a que a revista O Empreiteiro vem-se dedicando em reportagens e encontros técnicos como os que já realizou em parceria com a Totvs, em diversas capitais, e de que o Fórum que ocorrerá em outubro próximo, em São Paulo (SP), deverá ser o maior exemplo.

O que não temos feito é considerar que tais obras, algumas da maior complexidade do ponto de vista da engenharia e do cronograma, uma vez que já vêm etiquetadas com prazo fixo, dadas as razões óbvias, se destacam por si mesmas. Elas serão importantes na medida em que constituam uma extensão do esforço do Brasil em favor de sua infraestrutura, da melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos e do que elas representarão, como legado, ao nosso desenvolvimento.

Seria cômica, não fosse trágica, a repetição do que vem acontecendo mundo afora, em termos de irresponsabilidade, com a aceitação e cumprimento de uma relação de obras, unicamente porque são ditadas pelo interesse do oportunismo e da oportunidade, na embalagem dos que ditam as exigências para a realização de eventos esportivos cuja importância, reafirmamos, está fora de discussão.

As obras, sobretudo aquelas relacionadas às arenas esportivas, acessos, equipamentos urbanos e rede hoteleira, devem ser feitas nas especificações previstas, mas tendo em conta a extensão do que elas vão significar, em termos efetivos, dentro da logística e equação das soluções urbanas e turísticas para o desenvolvimento de nossas cidades e possibilidades de melhoria futura. De ineficiência e "elefantes brancos", várias das cidades que receberam esses eventos esportivos, estão cheias. A exceção fica com Barcelona, que soube aproveitar, com sabedoria, a oportunidade da Olimpíada de 1992, para se remodelar, reurbanizando-se, tornando-se modelo do que precisa ser feito, com investimentos expressivos, em termos de revitalização e de redesenho urbano. Ela é atualmente um dos destinos de turismo mais procurado do mundo, carreando um fluxo continuo de investimentos empresariais.

Já o TAV corre solto e em alta velocidade, sem nos oferecer segurança em termos de partida e de chegada. O projeto começou com estimativa de custo anunciada, em 2008, de R$ 20 bilhões; de repente, passou a R$ 33,1 bilhões, nos estudos finalmente aprovados pelo Tribunal de Contas da União (TCU); e agora vem sendo divulgando, insistentemente, que o custo pode alcançar o patamar de R$ 50 bilhões.

O Brasil não pode esquecer as suas prioridades. E, estas, não se encontram, apenas, naquelas obras com data marcada, nem são representadas pelos interesses políticos que as rodeiam. Elas continuam a estar onde sempre estiveram: nos Morros do Bumba espalhados por diversas áreas de risco do País; nas cidades destruídas pelas enchentes ocasionadas pelas mudanças climáticas, no Norte, Sul e nas demais regiões brasileiras; na carência do transporte público, que continua a ser uma vergonha nacional em nossas metrópoles; na habitação, educação, saúde, saneamento e em outras necessidades básicas.

Temos a convicção de que as obras que se anteveem para a garantia do futuro do País precisam transcender prazos e estar na dimensão de nossa capacidade de organizar a economia, a sociedade e a capacidade de nossas atividades produtivas, incluindo as da Engenharia. Resumindo: elas precisam integrar um Projeto de Nação.

Hoje, na diversidade brasileira, chegamos a mais uma edição 500 Grandes da Construção, em que a revista difunde o Ranking da Engenharia Brasileira. Perto de completar 50 anos de atividades, O Empreiteiro completa um ciclo sinalizando, em suas edições futuras, mudanças marcantes. Temos certeza de que o mercado nos acompanhará nessas mudanças que refletirão a nossa filosofia de trabalho que é a visão de nossos clientes, amigos, colaboradores ao longo dos anos e também a nossa leitura do País e das diversas áreas da engenharia. A propósito, Joaquim Cardozo, o mago da engenharia estrutural, na época da construção de Brasília, é nosso homenageado, na premiação do Ranking da Engenharia Brasileira.
Fonte: Estadão


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