Não se abre um jornal, uma revista; nem sequer um e-mail; ou, deixando os veículos da imprensa doméstica de lado e consultando algumas publicações do exterior, em especial o espanhol El Pais, que não encontremos, com monótona e repetitiva frequência, o palavrão da moda: corrupção.
Difícil fugir a isso. Ou à análise das causas que criaram essa situação de arrepiar consciências. Antes, era divulgada sob subterfúgios, camuflada sob vocábulos imprecisos. Era o escapismo da dubiedade. Malfeitos, aditivos, sobrepreço. O poder, invariavelmente mágico das palavras, induzia a suspeitas, a suposições. A verdade ainda parecia distante. Como se não se quisesse acreditar no possível.
Até que algumas autoridades, diante das evidências claras, resolveram tratar do assunto sem punhos de renda. E a palavra carrancuda veio à tona: corrupção.
Alega-se, ainda na tentativa de acalmar consciências ou de se procurar reduzir responsabilidades, que ela sempre existiu. E, existe mesmo, desde que o mundo é mundo. Mas isso não invalida a carência absoluta da falta de vergonha com que ela tem sido praticada.
Ela sempre esteve incrustada no País, às vezes como resultado do patrimonialismo explícito. A confusão entre o que é público e o que é privado tem sido um meio por onde ela costumeiramente se insinua.
Lembro, a propósito, as diversas vezes em que entidades da engenharia se rebelaram contra ela. Contra o palavrão e sua prática. Há alguns anos, um documento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), enunciava: “Abominamos a corrupção, qualquer que seja o nível em que ela se instale. E abominamos a miséria que avilta o homem e a sua dignidade”.
Sempre é hora de se pensar em erradicar a palavra cabeluda e, sobretudo, as mazelas que comprometem tantas obras, em especial as da maior estatal brasileira.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira