Uma cidade planejada segundo o conceito das smart cities da Ásia, Oriente Médio e da Europa seria viável em Pernambuco? O governo estadual diz que sim.Trata-se da Cidade da Copa, que deverá puxar o crescimento pernambucano para a região oeste do estado
Nildo Carlos Oliveira – Recife (PE)
Um grupo privado informa que já arregaçou as mangas para começar a construção. O planejamento está sendo elaborado e a área urbana dessa cidade moderna, que assimilará o conceito das smart cities, a exemplo de Masdar (Emirados Árabes Unidos) e Songdon (Coreia do Sul), ocupará área aproximada de 250 ha.
Ela nascerá ao pé do estádio Arena-PE, ao lado do município de São Lourenço da Mata, e ocupará 50 ha daquele espaço urbano. A construção se desenvolverá em várias etapas, ao longo de um período de 25 anos, e resultará de uma parceria público-privada, da qual o governo pernambucano participará com o terreno e com uma contrapartida financeira que dependerá da oscilação da receita da operação da Arena-PE.
O secretário estadual da Copa-PE, Ricardo Leitão, diz que a decisão para essa iniciativa foi adotada levando em conta critérios urbanísticos e econômicos. Nunca, segundo ele, a região oeste do estado teve tal oportunidade para crescer. Ela será, provavelmente, o quarto polo de crescimento em Pernambuco.
Ele informa que a região metropolitana do Recife, onde vivem mais de 3,5 milhões de pessoas, é formada por 14 municípios liderados pela capital. Ali está o polo central formado por Recife, Olinda e Jaboatão, no qual gravita tradicionalmente um conjunto de atividades empresariais, comerciais, administrativas e universitárias, e onde se formou e se fortaleceu o núcleo tecnológico local.
A partir daquele polo central, outro se desenvolveu rapidamente no entorno do Complexo Industrial e Portuário de Suape e no qual vem se registrando “um notável e intenso adensamento populacional”. Atualmente está ganhando corpo o terceiro polo. Fica na região Norte da região metropolitana e vem sendo impulsionado pela indústria automobilística, mais especificamente pela nova unidade da Fiat, ao lado da indústria farmoquímica, que está se transferindo para lá. A construção da unidade da Fiat já atraiu para a região mais de 60 outras fábricas afins, além de instalações de fornecedores de componentes diversos.
O governo, ao analisar a localização desses polos econômicos no mapa do estado, constatou ali uma imensa lacuna a ser preenchida: a região oeste, exatamente onde se situa o município de São Lourenço da Mata e, agora, o estádio Arena-PE. É uma região que está a pouco mais de 20 km do marco zero do Recife, do Aeroporto Internacional Gilberto Freyre (Guararapes) e do centro hoteleiro da cidade. Por ali se estende uma ampla área, propriedade estadual, favorecida por um sistema viário razoável, que poderá ser melhorado, em especial por causa das obras em andamento para a Copa do Mundo de 2014.
Ao examinar, com a sua equipe, o vazio econômico da região referida, o governador Eduardo Campos, neto do ex-governador Miguel Arraes, disse aos seus assessores: “Essa é a hora. Chegou a hora de puxarmos o crescimento pernambucano para o oeste”. Não houve quem discordasse.
A Cidade da Copa
O plano diretor da Cidade da Copa prevê a construção de 4.500 residências, unidades comerciais e empresariais, centro de convenções, hotéis, campus universitário e um complexo de entretenimento com cinemas, teatros, bares e restaurantes. Ela será dotada de um sistema de circulação pelo qual qualquer um de seus polos de atividades se tornará acessível, a pé, em menos de cinco minutos. Terminais integrados de ônibus e metrô permitirão que se chegue à cidade com facilidade.
O grupo privado, formado pelas empresas Odebrecht Participações e Investimentos e Odebrecht Infraestrutura, acredita que cerca de 100 mil pessoas circularão por ali diariamente. Marcos Lessa, diretor-presidente da Arena-PE, diz que aquele contingente populacional vai dispor de internet wi-fi em qualquer local. A cidade, segundo ele, será 100% cabeada com fibra ótica. Semáforos serão ajustados automaticamente conforme o fluxo de veículos, que também terão controle de posicionamento em tempo real.
Ricardo Leitão analisou o master plan que lhe foi apresentado pelo grupo privado. Ele acha que a Cidade da Copa não terá o caráter de uma cidade-dormitório. Ao contrário, ali seus habitantes poderão morar, trabalhar, estudar e praticar atividades de lazer. “Somente a Universidade de Pernambuco (UPE)”, explica, “deverá levar para lá um contingente de 15 mil a 18 mil pessoas, todos os dias. Assim, o campus dessa universidade, hoje disperso, estará juntando nossa população universitária em um só local”.
“É uma saída”, salienta o secretário, examinando dados fornecidos pelo engenheiro José Ayres de Campos, diretor de investimentos da Arena-PE. Ambos concordam com o fato de que a população atual do Recife, de 1,7 milhão de habitantes, não tem para onde se expandir. Apesar disso, continua a aumentar, estimulada pela situação econômica do estado, que apresenta índices de crescimento superiores às taxas do crescimento nacional.
A Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco (Condepe/Fidem) informa que a construção civil alavancou, sozinha, a atividade econômica estadual, com um crescimento de 10,2% nos primeiros seis meses do ano passado. Na contramão desse desempenho, a agropecuária sentiu os efeitos da seca e registrou queda de 12,8% no semestre. Mas, além de contar com uma construção civil fortalecida pelo trabalho nas obras públicas, em especial aquelas da área da infraestrutura, o desempenho industrial também foi confortável: registrou crescimento de 6% nos primeiros seis meses do ano. Enquanto isso, o País, como um todo, amargava a retração de 1,2% na atividade industrial.
Esses dados, no entendimento do secretário Ricardo Leitão, justificam a iniciativa de se puxar o crescimento do estado para a região oeste, onde, por causa da Copa, o governo estará investindo, até abril próximo, R$ 710 milhões.
Em função dos eventos esportivos que estão no calendário, incluindo a Copa das Confederações, o estado corre para duplicar, por delegação do governo federal, a BR-408; constrói nova estação do metrô a 2 km da Arena-PE; está executando dois terminais integrados de passageiros para ligar a operação de ônibus estaduais com ônibus metropolitanos e municipais; e constrói um ramal que atravessará área da futura Cidade da Copa, a fim de conectar-se com aquela estação do metrô. O plano de obras viárias inclui os corredores de transporte para a ligação da região metropolitana com as regiões norte-sul e leste-oeste, de modo a atender, também, os usuários nas áreas próximas ao aeroporto.
Ricardo Leitão afirma que, hoje, “não há nenhuma obra, vinculada aos eventos esportivos internacionais, que não esteja em fase avançada de execução” e que a Cidade da Copa, tendo ao lado a Arena-PE, vai eliminar a lacuna que o governo pernambucano identificou no mapa do estado.
Fonte: Revista O Empreiteiro