Crise na engenharia

Revisão da Lei 8.666, melhoria na formação dos jovens engenheiros e a necessidade do crescimento econômico do País foram, entre outros, temas explorados na mesa-redonda “O momento atual da engenharia brasileira”, organizada pela Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), motivada pelas questões técnicas que cercam o desastre ocorrida no dia 12 de janeiro último na Estação Pinheiros do metrô-sp. Se o poder público deve reavaliar os melhores procedimentos para o planejamento e execução de grandes obras, a engenharia também tem de repensar em como melhorar a qualidade das obras e das condições de trabalho dos profissionais que trabalham nelas. Pensando nisso, mais de 300 engenheiros debateram a situação, da engenharia no País, dia 7 de março, no Instituto de Engenharia (IE), em São Paulo. Entretanto, em nenhum momento, durante as seis horas de duração dos debates, das 14 às 20 horas, foi sequer mencionada a tragédia que provocou sete óbitos e tumultuou a vida da metrópole. Apesar da diversidade da platéia e dos debatedores, agregando representantes de associações de engenheiros e de entidades tais como o Confea e os Creas de São Paulo e Rio de Janeiro, as discussões giraram sobre temas mais abrangentes, sem tocar diretamente na ferida, ou seja, na “cratera” aberta na obra do metrô em São Paulo. “A situação da engenharia hoje é reflexo da situação do Brasil: não cresce”, afirmou o presidente do Instituto de Engenharia, Eduardo Ferreira Lafraia, abrindo os trabalhos. “Tivemos o apagão de energia, temos o apagão aéreo e corremos o risco do apagão da água. Há até um certo apagão dos valores morais”, disse ele, que defende uma mudança estrutural do País. “E a engenharia é um instrumento do desenvolvimento”, completou. A mudança estrutural defendida pelo presidente do IE passa pela reorganização e reestruturação das obras públicas. Um dos eixos para essa reestruturação passa pela revisão da Lei 8.666, a Lei de Licitações. A discussão sobre uma nova legislação, espinha dorsal em qualquer empreendimento público, é antiga e mobiliza todos os setores da sociedade e dos governos, mas ainda não avançou na prática. “Ainda se trabalha com o menor preço na licitação e não na conclusão da obra, o que é muito cômodo para o poder público”, disse Lafraia. “A contratação pelo poder público não deve ser pelo menor preço e sim pelo melhor preço”, disse o engenheiro Roberto Kochen, diretor do Departamento de Engenharia do IE. Na prática, isso significa melhor análise da qualidade e durabilidade do projeto a ser executado. Kochen lembrou que os acidentes, como o da Linha 4, são muito mais percebidos pela mídia do que os sucessos. “É necessário buscar a excelência do projeto, formar bons engenheiros e adotar boas práticas, aprimorando procedimentos e criando no Brasil uma cultura de segurança”, explicou.
Fonte: Estadão

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