Nildo Carlos Oliveira

São, conforme o autor destaca na apresentação, ensaios e pequenos esboços sobre autores certamente preferenciais que se empenharam e se especializaram em explicar as condições em que ocorreu a formação do Brasil urbano e rural do ponto de vista político, social, econômico e também religioso. Alguns desses estudos foram elaborados com um toque mais acadêmico e outros, em tom mais confessional, por conta da proximidade e intimidade que o autor manteve, em sua trajetória de aluno e professor, com algumas das personalidades analisadas, como foi o caso dos ensaios sobre Florestan Fernandes e Antonio Cândido.
De Joaquim Nabuco a obra salienta o perfil do diplomata erudito que colocou em primeiro plano a luta contra a escravidão, qualidade que o distingue, apesar do conservadorismo que o caracterizou na fase mais avançada da maturidade. Enfoca o engenheiro, jornalista e escritor Euclides da Cunha, como o estudioso que mergulhou no chamado Brasil profundo: o Brasil das carências rurais, da miséria e da constatação, de uma população marginalizada, de que não poderia contar com o Brasil oficial, como de fato não contou. A tragédia de Canudos é o registro desse descompasso.
Fernando Henrique oferece um perfil muito rápido de Paulo Prado. Mas se aprofunda no trabalho sobre o autor de Casa-Grande&Senzala. Gilberto Freyre foi, dentre todos, o que deu maior relevo à interpretação e análise dos valores da sociedade brasileira patriarcal. Ao lado de Sérgio Buarque de Hollanda, mergulhou fundo nas raízes do Brasil.
O livro analisa a trajetória de Caio Prado Júnior, a partir de sua obra Formação do Brasil Contemporâneo. Ele é o autor que expõe, em suas nuanças, a estrutura social do Brasil Colônia.
Fernando Henrique Cardoso estuda com o mesmo empenho e objetividade a obra do crítico literário Antonio Cândido, chamando a atenção para o trabalho que ele elaborou sobre o caipira em Os parceiros do Rio Bonito. E conta da contribuição de Florestan Fernandes para as ciências sociais brasileiras, na condição de pesquisador persistente e homem combativo, que nunca recuou um centímetro na defesa de suas idéias e da universidade.
Pensadores que inventaram o Brasil descreve a personalidade e o pensamento de Celso Furtado e sua contribuição para a interpretação da economia dentro da estrutura da realidade brasileira, sinalizando os meios para modificá-la. Reconhece que Furtado colocou o seu pensamento a serviço do planejamento de longo prazo para o País e que o seu trabalho teve desdobramentos práticos com o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek e com a criação de órgãos impulsionadores do desenvolvimento nacional, como a Sudene. O último dos “inventores” a ser analisado é Raymundo Faoro, o grande crítico do estado patrimonialista brasileiro – um traço nacional que vem nos perseguindo desde Cabral e que perdura obsessivamente até hoje, como um vício de difícil erradicação.
Óbvio que a relação daqueles dez construtores do pensamento nacional poderia incorporar outras personalidades, dentre as quais Alberto Torres, Oliveira Viana, Octavio Ianni, Guerreiro Ramos, Alberto Passos Guimarães, Victor Nunes Leal, Nelson Werneck Sodré, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e por aí em diante. Mas, os dez já são um número por demais suficiente nesse livro de 304 páginas, sem dúvida uma janela aberta para o conhecimento do pensamento nacional, na linha do tempo da evolução brasileira.
Fonte: Revista O Empreiteiro