No centro da sala de reuniões da embaixada brasileira em Pequim há uma coleção de miniaturas dos modelos da Embraer. O embaixador não esconde o orgulho ao descrever características técnicas de cada modelo. Faz questão de lembrar que o milésimo ERJ 145 foi construído e entregue na China, um exemplo da projeção de poder da indústria brasileira, como ele afirma. Porém, o orgulho não inibe a compra da briga ao analisar os investimentos brasileiros na China : “alguns disseram que estamos exportando empregos para cá. Não estamos não. Estamos preservando os empregos existentes no Brasil”.
Professor no curso de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Castro Neves, argumenta que é a falta de oportunidades no Brasil que faz o empresário nacional pensar em offshore na China, em busca de “maior competitividade, menor carga tributária, encargos trabalhistas mais favoráveis e melhor infra-estrutura logística e exportadora”, abrindo espaço para a internacionalização das empresas.
A provocação é quase natural: então, não há risco para o Brasil no crescimento chinês? Com menos ímpeto, o embaixador lembra que a China produz quase tudo e “está entrando em todos os mercados, inclusive naqueles em que o Brasil tinha posições muito confortáveis”. Ele lembra que até no Paraguai, que não reconhece a República Popular da China, o Brasil perdeu a condição de principal parceiro comercial para os chineses. E, segundo Castro Neves, essa agressividade comercial de Pequim não esquece o Brasil. Nesse ponto, a crítica do comportamento comercial brasileiro é especialmente dura. Para Castro Neves, o embaixador da China no Brasil está certo quando diz que “não é o Brasil que vende para a China, é a China que compra do Brasil”. E Castro Neves não deixa de criticar a aversão ao risco do empresário brasileiro.
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Nesse quadro, seria impossível diversificar a pauta de exportação do Brasil para a China? Estamos condenados a vender só o que os chineses querem comprar?
Castro Neves reconhece que basicamente a exportação brasileira é de produtos primários, mais da metade, soja e minério de ferro, “e agora petróleo, produto que já alcançamos, ainda no primeiro semestre deste ano, a cifra de US$ 1 bilhão vendido”. Porém, ele insiste que a busca de diversificação, de maior valor agregado nas exportações implica “em explorar certas deficiências da China”.
Castro Neves muda de tom quando insiste nas deficiências chinesas “no que diz respeito às limitações deles”, enumerando, escassez de energia, de água e alimentos.
O raciocínio do embaixador é claro: na medida em que a população chinesa se tornar mais urbana, a demanda por alimento importado “cresce em quantidade e qualidade”. A busca de produtos mais sofisticados abre uma “janela de oportunidades fantásticas”, porque na opinião dele o Brasil é o país mais equipado “em termos de recursos naturais” para atender a futura demanda chinesa.
É nesse quadro que o embaixador propõe diversificação da pauta exportadora: “por exemplo, carne, de ave ou bovina, que não é produto primário, é produto processado” desde que cortada segundo as normas chinesas.
Ele aponta que isso envolveria uma logística e uma complementaridade na atividade do agronegócio desenvolvendo significativa cadeia produtiva.
A possibilidade de diversificar a pauta é uma decisão só brasileira? Nesse caso, porque a China compra tão pouca carne brasileira? A ênfase volta e o embaixador garante que a China compra pouco “pelo simples fato que nós não respondemos aos questionários fitosanitários chineses” que são pré-requisito para concessão de licenças de exportação. Castro Neves contou que foram assinados protocolos de intenção para a compra de carne do Brasil mas “os questionários chineses ficaram dormindo nas gavetas do Ministério da Agricultura”.
Ele lembrou que enviou questionários em maio de 2005 e só começou a recebê-los de volta no final de 2006 e início de 2007 “e isso porque em um de meus retornos ao Brasil eu fui muito incisivo, até malcriado, em minha ida ao Ministério da Agricultura”.
Mas isso é outra conversa, garantiu o embaixador.
Fonte: Estadão