O Brasil precisa de 27,7 milhões de unidades residenciais para eliminar seu déficit habitacional até 2020. É o que indica estudo da FGV Projetos para o Sinduscon-SP. “Deste total, 21,8 milhões são para atender ao crescimento familiar”, observa João Cláudio Robusti, presidente do sindicato, advertindo “se não começar agora, antes de 15 anos não se resolve este problema”, até porque a esta cifra tem que se adicionar o déficit atual de 8 milhões de moradias. Ele lembra ainda a necessidade da produção em larga escala para atender ao segmento da chamada habitação de interesse social para famílias cuja renda não ultrapasse cinco salários mínimos, um contingente carente de subsídios.
Hoje o crescimento acontece em nível de Brasil, conforme assevera Robusti. Segundo ele, há cerca de ano e meio atrás estava concentrado em algumas regiões e principalmente em São Paulo. “Agora o crescimento é difuso. A infra-estrutura habitacional brasileira está em todo território nacional. Diria inclusive que, em termos relativos – e não absolutos – a infra-estrutura fora de São Paulo está recebendo mais investimento”.
De seu lado, o mercado imobiliário percebeu a concentração primeiramente em São Paulo, depois na região metropolitana e aí rapidamente – a partir do começo do ano passado – começou a procurar outros nichos. E hoje já está em atividade no Distrito Federal, Vitória, Salvador, Recife, Fortaleza, Pará e no sul. “As empresas de ponta tiveram que começar a atuar em âmbito nacional, como por exemplo, Gafisa, Klabin e Cyrela. Muitas já deixaram São Paulo e algumas inclusive se internacionalizaram”, informa Robusti.
Um nicho, bem longe
Criada pelo grupo WTorre ano passado, a Guanandi nasceu com a vocação de projetar a primeira comunidade planejada fora dos grandes centros do País, batizada de ‘Viver Bem Parauapebas’. Construído pela WTorre, o empreendimento é financiamento do Bradesco, e deverá estar concluído ainda este ano.
O nicho encontrado fica na distante Parauapebas, no sudeste do Pará, uma extensa província mineral cortada pela ferrovia de Carajás, que atravessa 22 cidades em dois Estados, transportando riquezas para portos maranhenses de onde serão exportadas. Os trens transportam ferro, ouro e manganês, níquel, cobre, outros minerais, além de soja, fertilizante e combustível. As atividades econômicas provocaram crescimento desordenado, transformando a pequena cidade em pólo populacional, com forte fluxo migratório e impactos decorrentes do crescimento, inclusive com o inchaço da periferia com suas moradias precárias.
Além das mais de duas mil casas para atender um perfil de clientes com renda familiar a partir de 6 salários mínimos, a proposta prevê o desenvolvimento de completa infra-estrutura para comunidades de grande porte, com estruturas planejadas de moradia e trabalho, priorizando percursos a pé e paisagismo de qualidade em todo o sistema viário, além de áreas de lazer – como parques, praças, quadras poliesportivas e ciclovias – e de serviços, com escolas, hospitais e comércio. A empresa não construirá condomínios.
“Todos os projetos desenvolvidos pela Guanandi levam em conta os conceitos de sustentabilidade, considerando aspectos sociais, econômicos e ambientais. Desenvolvemos um sistema que possibilita efetuar uma obra limpa, com emprego mais racional de mão-de-obra e redução de custos”, resume Walter Torre Jr., presidente do Grupo WTorre.
Serão construidos prevê mais de 2 mil casas – em seis diferentes tamanhos disponíveis, variando entre 51m² a 142m², que serão entregues até o final de 2008, para atender a previsão de crescimento expressivo da região que já se expande a taxas de 19% ao ano. Há uma grande demanda reprimida por habitação no interior do País. Por conta disso, a Guanandi desenvolveu uma tecnologia de construção modular e em larga escala, que permitirá entregar as casas num ritmo de até 480 unidades por mês – ou 24 por dia.
Rio de Janeiro
No Rio, bairros que há muitos anos não recebiam novos investimentos em moradias, incluindo Lapa, Catete, São Cristóvão, Méier, Cachambi, Campo Grande, toda a região de Jacarepaguá, as Vargens e muitos outros já estão recebendo lançamentos de porte e qualidade. A informação é de Rogério Chor, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ). Também surgem como nichos para abrigar os chamados bairros planejados locais como Jacarepaguá, Barra e municípios do interior.
A Cytec – joint-venture da Cyrela e dois sócios da Tecnum, Ricardo Luna e Yorki Oswaldo Estefan – foi criada para atuar nos segmentos econômico e super-econômico, em 12 cidades, no interior de São Paulo e Rio de Janeiro. “Estimamos o faturamento nestes 12 empreendimentos em fase de execução e projeto de R$ 120 milhões”, calcula o diretor da empresa Yorki Estefan. E comemora o sucesso: os dois últimos lançamentos foram completamente vendidos em menos de 30 dias. A boa infra-estrutura, condomínio baixo, área de lazer e prestação baixa em financiamento de 25 anos foram os principais atrativos. O financiamento bancário via construtora que negociou taxas mais palatáveis, certamente influenciou positivamente o comprador.
Pernambuco
Novos bairros fora da rota tradicional de investimentos, como Afogados, por exemplo, estão sendo apontados como áreas de interesse para a construção de condomínios populares, na capital.
Projeto para a construção de 448 moradias populares, com investimentos de R$ 11,6 milhões, está sendo implementado pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, município litorâneo vizinho da capital. Distribuídas em dois condomínios playground, área verde, quadra esportiva, centro comunitário e centro de educação infantil, as casas terão 37 m2, com sala, cozinha, banheiro, dois quartos e área de serviço e vão receber desabrigados pela enchente.
A expectativa de que a influência das obras de expansão do Porto de Suape chegue a Jaboatão, despertou o interesse de empresas da construção civil que reivindicam investimentos governamentais em infra-estrutura. Empresas como Queiroz Galvão e Tenda, por exemplo, já tem projetos ou empreendimentos na cidade. Há previsão de construção de 2.500 unidades nos bairros de Piedade e Candeias, tidos como os mais valorizados.
A Queiroz Galvão projeta o lançamento de 384 apartamentos distribuídos em 12 torres. As unidades de 60 metros quadrados terão três quartos, sendo uma suíte. São quatro apartamentos por andar. Para a construtora, o empreendimento deve repetir o sucesso dos edifícios lançados no Jardim São Paulo, no Recife. A Tenda projeta dois edifícios co
m área de lazer completa para o bairro de Candeias. Serão apartamentos de dois ou três quartos, com previsão de entrega para o final do próximo ano.
Rio Grande do Sul
A taxa de velocidade de vendas de imóveis novos no mercado imobiliário de Porto Alegre foi de 20,68% em abril último, resultado superior ao registrado no mês anterior. Centrado em habitações populares, o mercado ganha a atenção das construtoras que comercializam casas e apartamentos de dois quartos com preços entre 50 e 70 mil reais e prestações de R$ 350,00 a R$ 400,00, na capital gaúcha.
Rio Grande do Norte
Natal está recebendo grandes incorporadoras nacionais da construção civil e mesmo grupos internacionais, como a portuguesa Eurogreen e as espanholas Promaga, Sanchez e Casa Azahar.
O maior projeto, no Cabo de São Roque, prevê a construção de oito hotéis e 16 condomínios de baixa e média densidade, num complexo que ocupará área de 1,2 mil hectares. A construção do primeiro hotel, do campo de golfe, do primeiro condomínio e da cidade típica com centro comercial deve começar no segundo semestre.
Além deste, existem outros cinco projetos com licença para implantação. O mercado imobiliário local também está otimista com a possibilidade de atender a classe média e mesmo as classes populares no longo prazo, assegurando-se do crescimento numa economia fortemente impulsionada pela exploração do petróleo e pelo turismo.
Fonte: Estadão