Empresa tenta retomar caminho da autossuficiência

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Historicamente a estatal tem revitalizado e estimulado o crescimento da cadeia produtiva da indústria brasileira

Petrobras recicla programa de investimentos e obras para recompor imagem construída no mercado ao longo de décadas. Quer retomar a autossuficiência na produção de petróleo ainda em 2014, um patamar que perdeu com a queda da produção e o aumento da demanda, entre outros fatores

Nildo Carlos Oliveira

Não será tarefa fácil. Mas o empenho, segundo a diretoria da empresa, é muito grande. José Formigli, diretor de exploração e produção, acredita que a companhia retomará a autossuficiência na produção de petróleo em 2014. E, para o diretor de abastecimento, José Carlos Consenza, a autossuficiência em derivados de petróleo poderá ser alcançada entre 2018 e 2020.

Quando, em 2006, a luz da autossuficiência se acendeu, e a empresa começou a difundi-la, prevendo para o segundo semestre daquele ano a chegada àquele patamar, a revistaO Empreiteiroelaborou matéria na qual salientava:“O futuro, então, depois da autossuficiência, dependerá dos investimentos, da engenharia e da política de gestão para assegurar e ampliar essa conquista”(grifo nosso).

Lastimavelmente houve equívocos na política de gestão, que a presidente Maria das Graças Silva Foster, com a experiência e a vivência que tem dentro da empresa, está procurando recolocar nos trilhos. Engenheira química e funcionária de carreira, que integra os quadros da companhia há mais de 30 anos, ela acredita que, enfim, vem alcançando êxito nesse trabalho.

Como resultado dos equívocos, que empresários e alguns políticos passaram a chamar de “desmandos” – afinal, a Petrobras jamais deveria ter sido usada politicamente como o foi nos dois mandatos do presidente Lula -, a estatal tem buscado superar uma série de obstáculos.

Ela precisou resolver, por exemplo, um problema com a fiscalização, por conta de antigas operações internacionais; teve de fazer gestões complexas a fim de conseguir recursos para o financiamento de seu programa de investimentos no período 2013-2017 e registrou, no segundo trimestre deste ano, prejuízo da ordem de R$ 1,3 bilhão, contra lucro da ordem de R$ 10,9 bilhões, há um ano.

Essa série de fatores, além de outros, levou Graça Foster a afirmar que tais problemas não se repetirão nos próximos trimestres: “Essa conjunção de fatores não deverá voltar a ocorrer com a mesma magnitude. Estamos trabalhando dedicadamente para melhorar a rentabilidade da companhia”, disse ela.

Dentre outros problemas que provavelmente provocaram aquele prejuízo estão a desvalorização do real diante do dólar, uma vez que parte dos custos da empresa é atrelada à moeda norte-americana; o aumento da importação de gasolina e de gás natural liquefeito para atendimento da demanda de usinas termelétricas; a defasagem nos preços de combustíveis cobrados pela companhia, em relação ao mercado internacional, durante os meses de abril, maio e junho últimos e a parada de produção do campo de Frade, por causa de um grande vazamento de petróleo ali registrado em novembro de 2012.

Graça Foster diz que o lucro líquido já cresceu 72% no primeiro trimestre deste ano

Em recente audiência pública na Câmara dos Deputados, Graça Foster afirmou que aqueles problemas estão sendo equacionados e que o lucro líquido da empresa, no primeiro trimestre deste ano, cresceu 72% em relação a igual período de 2012. Ela atribui esse crescimento aos reajustes nos preços do diesel e da gasolina em janeiro e março deste ano, à maior produção de derivados no parque de refino nacional e à maior rigidez com que passou a tratar as despesas operacionais.

Rebatendo críticas à perda de valor de mercado, da empresa, em razão da crise financeira internacional, disse que, de 2000 a 2012, a Petrobras conseguiu aumentar sua produção em 44%, enquanto as quatro maiores petroleiras internacionais – Exxon, Chevron, British Petroleum e Shell – reduziram, segundo ela, sua produção no mesmo período.

Sobre a criticada aquisição da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), lembrou que a compra seguiu orientação considerada positiva na época (2006) e que as perdas resultantes desse negócio devem-se à crise financeira mundial de 2009. Mas admitiu que, se fosse hoje, não endossaria tal operação.

Contudo, o pré-sal está aí, ativo, e aviva todas as esperanças. Há, na empresa, a expectativa de que, com a exploração do pré-sal, se chegue ao ano 2020 com uma produção da ordem de 5,2 milhões de barris. Quando isso acontecer, todos os problemas até aqui detectados desaparecerão. Mas isso só ocorrerá se a companhia não voltar a ser a usada como carta marcada no jogo político.

O compasso dos investimentos em 2013

Em documento elaborado especificamente para a revistaO Empreiteiro, a direção da Petrobras informa que a previsão de investimentos totais da empresa, ao longo deste ano (2013), para o seu programa de atividades, é de R$ 97,754 bilhões. Desse volume de recursos, 53% se destinam às operações de exploração e produção de petróleo e gás, principalmente nas bacias de Campos (RJ) e Santos (SP); e 33% correspondem aos recursos para a área de abastecimento, a maior parcela dos quais para a ampliação do refino.

A produção de petróleo, segundo a empresa, deverá manter-se nos mesmos níveis de 2012, como consequência de paradas programadas para manutenção de diversas plataformas de produção. Até o final de 2013 deverão entrar em operação mais sete unidades marítimas de produção nas bacias de Campos e Santos, o que compensará a queda de vazão dos campos mais antigos e a interrupção temporária das plataformas em manutenção.

O diretor de Exploração e Produção, José Formigli, prevê que, no período de 2013 a 2017, 25 daquelas unidades entrarão em produção. E, no período de 2013-2020, 38 novas unidades passarão a produzir petróleo e gás. “Pouquíssimas empresas no mundo t&ecir
c;m essa demanda de unidades novas. E isso é porque elas não dispõem do portfólio que possuímos”, afirma o diretor, destacando o índice de sucesso exploratório de 82% no pré-sal (a média mundial é de aproximadamente 30%).

José Formigli crê que até o final deste ano mais sete unidades marítimas estarão em operação

A produção de óleo, hoje de 2 milhões de barris/dia (bpd), deverá passar para 2,5 milhões de barris em 2016, para 2,750 milhões em 2017 e 4,200 milhões barris diários em 2020. Já a produção em barris de óleo equivalente (petróleo e gás) será ainda maior e atingirá 3 milhões de barris/dia em 2016, chegando a 3,400 milhões em 2017 e a 5,200 milhões barris/dia em 2020.

O pré-sal terá parcela crescente nesse aumento de produção. A marca de 1 milhão de barris/dia operada pela Petrobras no pré-sal será superada em 2017 e atingirá 2,100 milhões barris diários em 2020. “No ano passado, o pré-sal respondia por 7% da produção. Em 2017, chegará a 42%”, comparou o diretor de Exploração e Produção da Petrobras.

Plano de negócios e gestão até 2017

O Plano de Negócios e Gestão para o período 2013-2017 prevê investimentos totais de US$ 236,7 bilhões, conforme quadro demonstrativo.

A Petrobras – é o empenho geral da empresa – deverá dobrar de tamanho até 2020. A produção no Brasil, de 2,2 milhões de barris equivalentes (petróleo e gás natural) por dia em 2012, chegará a 5,7 milhões naquele ano, levando-se em conta a produção própria e de empresas parceiras, para as quais a companhia brasileira é operadora.

A diretoria da empresa garante que ela tem potencial para ampliar aquele volume e atingir até 31,5 bilhões de barris de óleo equivalente (petróleo e gás) nas próximas décadas. Na área de refino os principais projetos em implantação são a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro – Comperj.

Também está em fase de avaliação a construção de mais duas refinarias: Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará. Com isso, a produção de derivados, hoje em torno de 2 milhões de barris/dia, crescerá para 2,4 milhões de barris/dia em 2016 e para 3 milhões de barris/dia em 2020.

Programas de apoio ao Plano de Negócios

O programa de negócios (PNG) 2013-2017 dará continuidade às ações estruturantes, iniciadas em 2012, e vai incorporar novas iniciativas, totalizando cinco programas que lhe possibilitarão sustentabilidade e contribuirá para a lucratividade da companhia. Os programas em que tal plano de negócios está subdividido são os seguintes:

a) Programa de Aumento da Eficiência Operacional da Bacia de Campos (Proef). Ele aumentará a confiabilidade de entrega da curva de óleo através da melhoria dos níveis de eficiência operacional e da integridade dos sistemas de produção antigos da Bacia de Campos e minimização de riscos de perdas de eficiência dos sistemas mais recentes.

b) Programa de Otimização de Custos Operacionais (Procop). Prevê aumento da geração de caixa, da produtividade e reforço do modelo de gestão voltado para a excelência em custos, com meta de economia em custos operacionais (opex) de R$ 32 bilhões no período de 2013 a 2016.

c) Programa de Desinvestimento (Prodesin) – Contribui para financiar o plano através da venda de ativos no Brasil e no Exterior com previsão de entrada de caixa de US$ 9,9 bilhões em 2013, principalmente.

d) Programa de Otimização de Infraestrutura Logística (Infralog). É um planejamento integrado, que prevê acompanhamento e gestão de projetos e ações para atender às necessidades de infraestrutura logística da Petrobras até 2020. Por meio da busca de soluções logísticas mais simples e capturando sinergias entre as áreas de negócios da companhia, já foram incorporadas no PNG 2013-17 reduções de investimento, com destaque para US$ 2,6 bilhões em exploração e produção (E&P).

e) Programa de Redução de Custos de Poços (PRC-Poço). Prevê a redução dos custos unitários dos poços (capex), otimização dos escopos de projetos e ganhos de produtividade, através de 23 iniciativas, devido ao aumento significativo da frota de sondas em operação e da relevância da construção de poços no orçamento do E&P entre 2013 e 2017 (38%). Já identificados ganhos de US$ 1,4 bilhão incorporados ao PNG 2013-17, decorrente de iniciativas relacionadas à redução do tempo de construção de poços e otimização do sequenciamento operacional.

A P61 entrou em fase de teste e integra o grupo de unidades que neste segundo semestre começará a operar na Bacia de Campos

Recursos para exploração e produção de 2013 a 2017

A Petrobras informa que o segmento de exploração e produção no Brasil investirá US$ 147,5 bilhões, no período de 2013 a 2017. O volume representa um crescimento de US$ 15,9 bilhões em relação ao plano de negócios de 2012-2016, devido principalmente à inclusão dos investimentos de 2017 em níveis compatíveis com a aceleração da produção planejada entre 2016 e 2020. Do total de investimentos, 73% serão alocados para desenvolvimento da produção, 16% para exploração e 11% para infraestrutura. Os investimentos no pré-sal e cessão onerosa correspondem a 68% do valor total investido em desenvolvimento da produção.

Além destes investimentos, a execução dos projetos do plano 2013-2017 demandará de empresas parceiras da Petrobras o emprego de US$ 39,7 bilhões nas atividades de E&P no Brasil, conforme demonstrativo aqui publicado.

Projetos e obras

Em maio último, a diretoria da Petrobras aprovou três grandes projetos de investimento na Unidade de Operações de Exploração e Produção da Bahia. Os projetos preveem, além da ampliação de instalações da companhia na região, a perfuração de 26 novos poços de produção e 227 intervenções em poços já existentes, a fim de aumentar o fator de recuperação de petróleo em campos maduros da área.

As principais características dos projetos aprovados são, segundo a empresa, o baixo tempo de retorno e a rápida geração de caixa, que contribuirão para aumentar a produção de petróleo e gás de concessões maduras, abrangendo os campos de Miranga, Água Grande, Taquipe e Candeias, dentre outros do Recôncavo Baiano.

Candeias foi o primeiro campo de petróleo com produção comercial no Brasil. O poço descobridor daquela jazida foi o Candeias-01, que começou a produzir em 14 de dezembro de 1941. Esse poço está em produção até hoje e opera de forma automatizada.

Esses projetos fazem parte do Plano de Negócios e Gestão para o período 2013-2017 (PNG), que prioriza a continuidade da atividade exploratória nas áreas das concessões vigentes, buscando incorporar reservas e produção.

De acordo com esse plano, a carteira em implantação prevê investimentos de US$ 43,2 bilhões nos projetos da área de abastecimento, envolvendo refino, transporte e comercialização.

As refinarias

Na área de refino, os principais projetos em implantação são a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Também está em fase de avaliação a construção de mais duas refinarias: Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará. Com isso, a produção de derivados, hoje em torno de 2 milhões de barris/dia, crescerá para 2,4 milhões de barris/dia em 2016 e 3 milhões de barris/dia em 2020.

A primeira fase de produção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, está prevista para novembro de 2014. A partir dessa data, ela terá capacidade para produzir 116 mil barris. A segunda fase está prevista para maio de 2015, quando ela acrescentará mais 116 mil barris ao volume de sua produção.

E para abril de 2015 está prevista a entrada em operação da primeira fase do Comperj, cuja capacidade de produção será de 165 mil barris.

A Premium I deverá produzir em sua primeira fase, prevista para outubro de 2017, 300 mil barris/dia; e, em sua segunda fase, prevista para outubro de 2020, mais 300 mil barris. Já a Premium II (Ceará), que deverá começar a operar em 2017, terá capacidade para produzir 300 mil barris. E o Comperj, em sua segunda fase (janeiro de 2018), terá capacidade para produzir 300 mil barris.

Vista de uma das principais unidades do Comperj, que está sendo preparado para operar já a partir de abril de 2015, com capacidade para produzir 165 mil barris

Na área de Gás e Energia

Na área de Gás e Energia, os principais projetos em implantação, para o período 2013-2017, são a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN III), em Três Lagoas (MS), a Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) de Cabiúnas (Rio de Janeiro), a Usina Termelétrica (UTE) Baixada Fluminense (Rio de Janeiro) e o terminal de regaseificação de GNL (gás natural liquefeito) da Bahia.

Em fase de avaliação estão duas unidades de fertilizantes nitrogenados: a UFN IV, no Espírito Santo, e UFN V, em Minas Gerais.

Investimentos em 2012

Os investimentos totais da Petrobras ao longo do ano passado (2012) foram de R$ 84,137 bilhões, 16% a mais do que em 2011. A maior parcela dos recursos foi destinada aos segmentos de exploração e produção (51%) e de abastecimento (34%). Em E&P, os investimentos focalizaram o desenvolvimento da produção dos campos do pré-sal e do pós-sal, principalmente nas bacias de Campos e Santos; a manutenção da produção nos campos mais antigos e a melhoria da infraestrutura logística e tecnológica.

Dos valores aplicados na área de abastecimento, a maior parte, R$ 21,7 bilhões, foi investida em projetos de refino, como a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e a implantação da primeira fase de refino do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Os investimentos no exterior, em 2012, foram da ordem de R$ 5,98 bilhões, dos quais 91% em exploração e produção e 9% em atividades de refino, petroquímica, distribuição, gás e energia.(Veja tabela ao lado, que especifica os investimentos por atividade.)

Análise

A autossuficiência, em 2006, e a perda dessa conquista, recentemente, comprovam, prognóstico aqui registrado, segundo o qual o mais importante da vitória obtida, não seria a vitória propriamente dita, mas a capacidade de mantê-la e de ampliá-la. Mas, além desse aspecto, a evolução industrial e urbana do País impôs à Petrobras a necessidade de um portfólio capaz de abranger a redifinição dos campos maduros; uma guinada em favor dos aprimoramentos da petroquímica; enfoque maior na infraestrutura do gás; ampliação das possibilidades da empresa quanto à expansão das energias alternativas e o aumento do conteúdo nacional em projetos que agregassem o potencial dos fornecedores brasileiros, sem prejuízo dos fornecimentos buscados em outras praças externas. A presidente Graça Foster, pelas medidas até aqui adotadas, está reposicionando a empresa no caminho de seu crescimento natural.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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