Engenharia ajusta as peças para desviar o rio em setembro

A usina hidrelétrica de Estreito, dimensionada para uma potencia instaladae 1.087 MW é considerada peça imprescindível para garantir a continuidade e normalidade no fornecimento de energia do País. É um dos maiores aproveitamentos do rio Tocantins. e está entre as maiores hidroelétricas em construção no país. Recentemente, após visitar as frentes de trabalho, o presidente do Consórcio Estreito Energia (Ceste), responsável pelo empreendimento, José Renato Ponte, garantiu que, como previsto, a usina entrará em operação comercial em outubro de 2010 e que, em razão das obras em andamento, tudo mudou na área de influência da hidrelétrica.
Em 2007, quando os serviços começaram, a cidade de Estreito possuía cerca de 15 mil moradores. Hoje, as obras empregam mais de 6 mil pessoas (70% são mão-de-obra local), número que deverá aumentar para 7 mil ainda esse mês. Em decorrência do empreendimento houve melhoria na infraestrutura de serviços não só em Estreito, mas em outras cidades da região, tais como Carolina (MA), Aguiarnópolis, Babaçulândia, Barra do Ouro, Darcinópolis, Filadélfia, Goiatins, Itipiratins, Palmeirante, Palmeiras do Tocantins e Tupiratins, no Estado de Tocantins. Especialmente em Estreito, as melhorias disponibilizam para a população novos postos policiais e do Corpo de Bombeiros, ampliação da capacidade hoteleira e hospitalar, além de outros serviços.
"As obras", disse o presidente do Consórcio Estreito Energia, formado pelas empresas Suez Energia, Companhia Vale do Rio Doce, Alcoa Alumínio e Camargo Corrêa Energia S. A., obedecem a um rigoroso planejamento, para não sofrer atrasos, inclusive no período chuvoso". O engenheiro Yuchi Fukurozaki, Diretor de Construção na obra pela Construtora OAS, que responde pelas obras de terra e concreto, corrobora aquele raciocínio e afirma que "construir uma hidrelétrica desse porte, no prazo contratual de 36 meses, e em condições logísticas reconhecidamente adversas, não deixa de ser mais um teste para a engenharia brasileira em empreendimento do gênero".
O sítio do aproveitamento está a montante da ponte que transpõe o Tocantins, na interligação das rodovias federais Belém-Brasília (BR-010) e Transamazônica (BR-230). Compreende uma área de 12,77 km², assim distribuídos: margem direita do Tocantins: 8,85 km²; margem esquerda: 1,30 km² e, sobre o rio: 2,62 km². O aproveitamento foi identificado quando da realização do inventário da bacia do rio Tocantins na década de 1970. A definição final do eixo da barragem de núcleo argiloso, com face de enrocamento, das estruturas da casa de força e vertedouro, considerou os aspectos geológicos das ombreiras tendo em vista as condições de construção, operação e segurança necessária para o empreendimento. O comprimento do barramento, incluindo as estruturas de concreto localizadas nas margens, é da ordem de 1.300 m.
A área de canteiro mencionada, inclui as estradas de acesso, as jazidas de areia e bota-fora, os pátios industriais para a produção das peças pré-moldadas, o estoque de materiais e de máquinas e equipamentos e as demais instalações do canteiro.
Pelos estudos, o desvio do rio foi planejado em duas fases: na primeira, o Tocantins prossegue em seu leito natural, enquanto são executadas as instalações do circuito de geração – casa de força, tomada d´água, áreas de descarga e montagem e canal de fuga – na margem direita, e do vertedouro na margem esquerda. Para isso, foram executadas nas duas margens ensecadeiras em forma de U. Na segunda etapa, prevista para setembro, o rio será desviado para o vertedouro, constituído de 14 vãos, dos quais seis são rebaixados para este fim..

PLANEJAMENTO É A PALAVRA DE ORDEM

O engenheiro Ricardo Sampaio, Diretor do Contrato da obra pela Construtora OAS diz que em obras desse tipo – e considerando o cronograma estabelecido – o planejamento é a palavra de ordem. Para qualquer lado que se olhe, no canteiro das obras, o que se vê é o reflexo de um planejamento levado até o limite do possível. Todos os cuidados foram adotados considerando as diversas interfaces impostas pela localização – região Norte do País – as condições geológicas locais, o regime hidrológico do Tocantins e o período chuvoso, que invariavelmente surpreende até os estudiosos mais identificadoscom a situação regional.
Esses cuidados levaram em conta o layout do complexo e a necessidade de situar cada frente de trabalho no momento e nas condições próprias, uma vez que qualquer falha no planejamento poderia interferir no andamento do conjunto dos serviços.
Dentre algumas das medidas adotadas em função das interfaces previstas, o planejamento previu a liberação das áreas para as montagens eletromecânicas; o estudo do modelo hidráulico para avaliação precisa de todas as variáveis para a construção da barragem no Tocantins; a execução de estacas tangentes para a proteção da obra à jusante do maciço sob a bacia de dissipação; a especificação e aquisição corretas dos equipamentos, com a checagem do ingresso de todos eles e dos materiais necessários dentro de um cronograma pormenorizado e hierarquizado dos serviços.
O planejamento considerou também alguns aspectos da engenharia voltada para obras hidrelétricas, toda vez que empreendimento desse tipo sai do papel para se converter em realidade. Há algumas décadas, obra pesada desse gênero pressuponha o emprego natural de máquinas e equipamentos também os pesados. Essa idéia vem mudando ao longo do tempo. E, hoje, obras pesadas podem ser feitos com equipamentos não necessariamente tão pesados, mas especialmente máquinas e equipamentos flexíveis e que permitam mobilidade segura e rápida.
Segundo esse raciocínio, o planejamento previu um canteiro limpo, num layout que inclui quatro centrais de concreto com capacidade para 96 m³/h cada uma; quatro centrais de gelo para o lançamento do concreto refrigerado; pátios de pré-moldados; duas centrais de armação; duas centrais de carpintaria; uma central de britagem com capacidade para 100 t/h e centrais de ar comprimido.
Paralelamente aos cuidados para a montagem de um canteiro técnico eficiente, capaz de prover a obra em todas as suas exigências, os cuidados se voltaram também para dar tranqüilidade, segurança e lazer ao contingente
de trabalhadores da obra. Com esse fim foram construídos alojamentos para mais de 3.300 pessoas (outros trabalhadores e integrantes do corpo técnico ocupam acomodações em cidades próximas, sobretudo em Estreito); dois refeitórios para uma demanda de 20 mil refeições/dia, incluindo café, almoço e jantar; dois ambulatórios com quatro ambulâncias, duas das quais equipadas com UTI´s móveis; área de lazer compreendendo cinema, biblioteca, academia de ginástica, salão de jogos, lanchonete, salão de beleza, sala de TV, dois campos de futebol, duas quadras poliesportivas e salas de aula para da 1ª à 4ª séries primárias. Além do mais, os alojamentos são providos de instalações para uso de internet.
A partir desses cuidados, destinados a atender às necessidades do trabalho e das equipes, o planejamento orientou as diversas frentes de trabalho considerando as datasmarcos de maior impacto na obra.
Na fase inicial, entre janeiro e maio de 2007, o esforço da Construtora OAS, que responde pelo conjunto das obras civis, concentrou-se com maior ênfase na execução dos acessos, na construção das edificações mencionadas, incluindo o prédio da administração, e na instalação das redes de energia elétrica e das redes de abastecimento de água tanto para a obra quanto para o contingente de trabalhadores. Depois, de maio daquele ano a maio de 2008, foram construídas as ensecadeiras das margens esquerda e direita e, em outubro do ano passado foram implantadas as áreas industriais e de apoio.

CONCRETO REFRIGERADO E PEÇAS PRÉ-MOLDADAS

As estruturas em execução, incluindo o vertedouro, agregam uma combinação de diversas técnicas construtivas, tais como lançamento de concreto refrigerado e o emprego de peças pré-moldadas, uma solução que se verificou eficiente considerando o cronograma de 36 meses.
O vertedouro possui largura de 335 m, altura dos pilares de 42,50 m e 14 vãos de comportas de 19,10 x 30,0 m cada. O volume de concreto por pilar é da ordem de 8.000 m³.
Os estudos definiram para essa obra o lançamento de concreto a temperaturas entre 15º e 25 º graus centígrados, quando refrigerado. A operação de lançamento de concreto é efetuada utilizando-se mastros lançadores; bombas-lança e estacionária; caçambas pneumáticas e telebelts; Simultaneamente foi prevista a utilização de formas deslizantes na execução dos pilares do vertedouro, bem como o uso da pré-armação de aço. A combinação dessas técnicas teve em vista reduzir o prazo de execução e, ao mesmo tempo, introduzir melhorias no sistema de segurança durante os trabalhos. A construtora recorreu também à técnica da cura a vapor nas vigas da ponte do vertedouro. A otimização obtida na pré-moldagem e com a movimentação das peças do pátio de concretagem refletiu-se na redução do prazo na linha de produção.
No conjunto, o vertedouro absorveu um volume da ordem de 315 mil m³. A bacia de dissipação, com 106 m de comprimento, 330 m de largura e 1,50 m de altura, absorveu mais de 55 mil m³ de concreto.
O circuito de geração, que inclui as estruturas da tomada d´água, casa de força, área de descarga e montagem e canal de fuga, tem 360 m de extensão e é constituído de oito unidades de geração. Serão pré-moldadas as lajes da galeria mecânica e da tomada d´água e do pórtico rolante.

A BARRAGEM

A barragem de enrocamento, com núcleo de argila, tem 600 m de comprimento. O volume de enrocamento é da ordem de 775.000 m³ e o volume do material para transição soma 182 mil m³. Ali serão aplicados 188.000 m³ de argila. Nesse serviço serão utilizados caminhões fora de estrada CAT 777; escavadeiras Liebherr 984; tratores de esteira D6, D8 e D9; caminhões basculantes de 20 m3 e motoniveladora 160 H e 140 H .
O mesmo material, que será usado na transição, será empregado também na base da ensecadeira. É previsto um volume da ordem de 755.000 m³. A barragem central possui 510 m de extensão e 45 m de altura, considerando a cota de 115 a 160. Ela tem 143 m na base inferior e 8 m de plataforma acabada.
Levando-se em conta a área do conjunto dessas grandes estruturas de concreto, bem como a área da construção das ensecadeiras, a terraplenagem ali realizada movimentou um volume de 11.336 milhões de m³. Para essas frentes de trabalho foram mobilizadas 10 tratores de esteira, 20 caminhões fora de estrada CAT 777 , 15 caminhões basculante de 20 m³ e 11 escavadeiras hidráulicas .
Para a segunda fase do desvio do rio quando haverá a necessidade da remoção das ensecadeiras, o serviço de terraplenagem alcançará um volume de cerca de 12 milhões de m³. A área total, objeto desse serviço, soma 1.155.707 m².
Operam na atual fase das obras sete gruas de 330 t/; três gruas de 550 t e 1 grua de 630 t; há quatro mastros distribuidores de concreto, três Telebelts com 276 m³/h de capacidade nominal; 10 caminhões dumper cret; 19 caminhões betoneira; 10 bombas estacionárias de 50 m³/h de capacidade; 12 guindastes móveis de 30 a 110 t , oito caçambas de concreto e três bombas lança.
Embora a etapa do segundo desvio do rio esteja prevista para setembro, o Engenheiro Ricardo diz que, considerando o cronograma geral, o pico da mão-de-obra já chegou e que o contingente de trabalhadores já está ultrapassando o número de 7 mil pessoas. Uma frota de 75 ônibusopera, todos os dias, no transporte do contingente.

LAGO ESTIMULARÁ ATIVIDADES LOCAIS

Pelo andamento das obras, o lago a ser formado pela usina de Estreito, que acumulará um volume da ordem de 5.400.000.000,00. m³ de água, e ocupará uma área da ordem de 555 km2, começará a ser enchido ainda no segundo semestre de 2010. A expectativa é de que ele se transforme em mais um elemento de estímulo ao desenvolvimento da economia regional, beneficiando as cidades da área de influência. Serão incentivadas as atividades turísticas, com aproveitamento das praias que ele proporcionará, atraindo empreendedores para a construção e exploração de hotéis, pousadas e restaurantes.
O consórcio da usina tem planos para dotar as praias do lago de satisfatória estrutura de energia elétrica, saneamento e telefonia, e motivar as comunidades lindeiras à prática da agricultura familiar e da pecuária de pequeno porte. Os moradores da região serão estimulados a se capacitarem com esse fim.

DESAFIOS NA EXECUÇÃO DA CORTINA DE JET GROUTING NA UHE ESTREITO PERFURAÇÕES DE
ATÉ 60M E SEDIMENTO ARENOSO DE 40M DE ESPESSURACOM PRESENÇA DE CASCALHO

A NOVATECNA S/A foi a empresa escolhida pelo CESTE – Consórcio Estreito Energia

S/A para encarar o desafio da execução de 600 m de cortinas (montante e jusante) de jet grouting para a construção da UHE Estreito, em 3 etapas realizadas de acordo com o período de estiagem do rio Tocantins, divididas nos anos de 2007, 2008 e 2009.
Para encarar empreendimento de tal porte a Novatecna destacou equipes e equipamentos altamente especializados, sendo que 3 destes equipamentos foram projetados e construídos especialmente para atender à obra.
Para a etapa dos serviços a ser realizada no ano de 2009 está prevista a disponibilização de 8 conjuntos de equipamentos perfo-injetores.
As cortinas são formadas por colunas de jet grouting justapostas dentro do solo sedimentar arenoso, altamente permeável da fundação das ensecadeiras de montante e jusante, visando a uma redução sensível de sua permeabilidade para permitir o esgotamento seguro e controladoa área ensecada e a remoção parcial do solo sedimentar necessária para a execução da barragem à seco.
Os serviços das cortinas estão em andamento, sendo vencidos diversos desafios durante a obra, como descrito a seguir.

PRIMEIRO DESAFIO: PEDREGULHOS, SEIXOS E BLOCOS: As ensecadeiras de montante e jusante da UHE Estreito estão apoiadas em solo de origem sedimentar, constituído de areia limpa, com granulação muito heterogênea, variando desde areia fina até areia muito grossa. Destaca-se ainda que entremeando a espessa camada arenosa ocorrem também camadas irregulares de pedregulho, seixo e bloco de dimensão decimétrica, ou até métrica de arenito na região mais próxima ao contato com maciço rochoso, bastante irregular, em arenito.

SEGUNDO DESAFIO: A PROFUNDIDADE E ESPESSURA DAS CAMADAS: A espessura desse sedimento varia até 40m, segundo sondagens do leito do rio até o momento e sua espessura é afetada pelo regime do rio. A lâmina d’água do rio Tocantins na região das ensecadeiras chega a 20m, valor este que corresponde a altura de aterro argiloso lançado na água para formação da plataforma de trabalho, o que resulta em perfuração total de até 60m.

TERCEIRO DESAFIO: EQUIPAMENTOS: Houve a necessidade de dispor de equipamentos perfo-injetores de mastro longo e de grande torque com cabeçote passante para enfrentar as perfurações tão profundas em sedimento incoerente e espesso como no caso de Estreito. A Novatecna dispõe de equipamentos perfo-injetores com características adequadas, sendo que 3 foram construídos especificamente para esta obra. Foram desenvolvidos em paralelo diversos acessórios fundamentais à obra e soluções de engenharia para o bom andamento do serviço e uma avaliação segura da qualidade das cortinas em construção. Como exemplo pode-se citar: determinação de verticalidade de cada furo de coluna executada dentro de hastes especiais, bem como, um programa especialmente desenvolvido pela Empresa para visualização em 3D dos blocos de colunas formadas, entre outros.

QUARTO DESAFIO: O VOLUME DO EMPREENDIMENTO: As cortinas de montante e jusante totalizam cerca de 600m de extensão e são formadas, em geral, por 3 filas de colunas de jet grouting, que penetram no arenito e engastam no aterro lançado. Para vencer esse desafio o Consórcio Projetista (Intertechne e CNEC) viabilizou a execução dessas cortinas em 3 etapas de estiagem do rio. A construção foi iniciada em 2007, continuou em 2008 e tem finalização prevista em 2009, pois o desvio do rio está programado para setembro de 2009.

META: SUPERAÇÃO: Este trabalho na visão da Novatecna, líder de mercado nessa tecnologia, representa um novo marco de inovação tecnológica para o uso do jet grouting neste tipo de obra no Brasil e no exterior. Estes desafios estão sendo enfrentados com o apoio e estímulo de toda a equipe técnica envolvida na obra.


Fonte: Estadão

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