Cristiano Kok*
Os acidentes aéreos se transformam em lições aprendidas, e se buscam soluções que os evitem. Infelizmente, nos acidentes da engenharia não são realizadas investigações que tenham o caráter de prevenção de novos eventos similares. Acreditamos que os conselhos regionais deveriam ter Comissões de Investigação de Acidentes permanentemente constituídas, que se dedicassem a investigar e propor medidas que mitigassem a ocorrência de novos acidentes similares.
O que ocorre, e não é somente no Brasil, é a negligência do poder público e a omissão da engenharia. Há muito a fazer para escapar deste círculo vicioso.
Um exemplo de atuação da engenharia foi a ação do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) ao denunciar a falta de manutenção de pontes e viadutos em várias capitais de estados brasileiros, com a campanha “Prazo de validade vencido”. Esta mobilização resultou em uma consciência do poder público e muitas estruturas foram reparadas.
Se observarmos as construções das periferias das grandes cidades, nota-se uma ocupação irregular de áreas de risco e a precariedade das próprias construções, em geral sem nenhum apoio técnico. A exemplo da advocacia gratuita, entendemos que deveria ser oferecida uma engenharia gratuita, que minimizasse o risco de construções populares.
Existem cadastros detalhados de habitações em áreas de risco, mas a tragédia se repete a cada ano. O máximo que se obteve foi a instalação de sirenes para evacuação da população. Entendemos que processos de Parcerias Público Privadas, permitiriam que fossem construídas habitações próximas aos locais de habitações em áreas de risco, com contratos de locação firmados com o Poder Público, que se encarregaria de sublocar estas habitações para permitir a retirada de pessoas para locais seguros e dar solução permanente à área desocupada.
Em resumo, o novo milênio reserva para a engenharia um papel vital que envolve prevenção e remediação de catástrofes, melhoria da saúde da população mediante obras de saneamento básico e ambiental, gestão consciente de obras, visando reduzir ao mínimo os acidentes de trabalho na construção, e a consciência ambiental impregnando todas as ações da engenharia. O novo milênio deverá ser o da humanização da engenharia, colocando-a a serviço da população.
*Cristiano Kok, engenheiro e presidente da Engevix
Fonte: Revista O Empreiteiro