A velha engenharia – velha não no sentido de arcaica ou conservadora, mas naquilo que julga serem os seus princípios éticos e espaço conquistado pelas obras que tem construído em favor do País – enfrentou representantes do governo no recente 84º Encontro Nacional da Indústria da Construção, em Belo Horizonte, MG.
De início, criticou os atrasos das obras do Programa de Aceleração do Crescimento. E, alguns de seus representantes, na Comissão de Obras Públicas da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), consideraram falaciosas as informações de um vídeo que o secretário daquele programa, Maurício Muniz, apresentou, para mostrar o andamento dos empreendimentos em várias regiões brasileiras.
A partir da manifestação de líderes setoriais ficou evidente que o clima em relação ao governo, embora mantido naquele ponto de equilíbrio que o relacionamento civilizado recomenda, revelava um desgaste prejudicial para as ambas as partes. A peroração burocrática do governo, no embate verbal, não demorou para tornar a situação mais delicada. Ele disse, a certa altura, que os atrasos das obras se deviam à má qualidade dos projetos. Foi quando o engenheiro José Roberto Bernasconi (Sinaenco-SP), rebateu imediatamente: “A má qualidade do projeto é consequência direta da má contratação”.
Mas os ânimos se agitaram ainda mais com a interferência de José Alberto Ribeiro, presidente da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor), lembrando que o governo acabara de zerar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, conhecida como Cide-Combustível, que destina recursos especificamente para obras rodoviárias federais e estaduais.
Toda vez que a malha rodoviária brasileira apresentou melhorias mais significativas, de Sul a Norte, de Leste a Oeste, foi quando contou com recursos específicos para obras de conservação, manutenção ou construção de novas rodovias. Haja vista, o exemplo do antigo Fundo Rodoviário Nacional (FRN), na fase de operação do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
Mas as coisas na COP não ficaram por aí. O representante do governo bem que tentou defender o RDC – Regime Diferenciado de Contratações. Luiz Roberto Andrade Ponte, que fez história setorial e política na defesa da engenharia e da categoria dos construtores, insurgiu-se contra esse modelo de contratação de obras, dizendo que ele é uma volta ao passado – ao pior passado. O governo, em vez de cuidar dos aperfeiçoamentos da Lei 8.666/93, preferiu regredir, marginalizando um trabalho demorado, cuidadoso, realizado em favor de regras claras e objetivas para contratar melhor.
Ao final, Bernasconi – e outras lideranças setoriais ali presentes – reconheceram: está na hora da velha engenharia – a engenharia, segundo eles, moldada em princípios e com base na tradição das obras realizadas em todas as suas modalidades – mostrar que não pode ser desqualificada. Tem um patrimônio amplo demais dentro do cenário da economia e das conquistas do País para ser desconsiderada pela burocracia de plantão.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira