Entre Londres e Rio os contrastes das propostas são evidentes

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A mobilidade faz a diferença no complexo londrino, enquanto a capital fluminense pulveriza eventos no espaço urbano para diminuir gargalos

Augusto Diniz

Com a definição do Plano Urbanístico do Parque Olímpico dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, e a proximidade da Olimpíada de 2012, em Londres, pode-se a partir de agora avaliar com mais clareza as especificidades das obras propostas para as duas cidades-sede. A identificação dos contrastes é inevitável.

O Parque Olímpico do Rio 2016, na Barra da Tijuca, com 1,18 milhão de m², deverá ter como principal meio de acesso – ou quase único no que se refere a transporte coletivo – os BRTs (Bus Rapid Transit), com duas linhas disponíveis: Transcarioca (Aeroporto do Galeão-Barra da Tijuca) e Transolímpica (Deodoro-Barra da Tijuca). O metrô deverá chegar a Barra antes do megaevento, mas não passará próximo ao Parque Olímpico. Por conta dessas condições, haverá uma respeitável área de estacionamento para carros e ônibus dentro do espaço dos Jogos.

Já o Complexo Olímpico de Londres 2012, com 2,46 milhões de m², se centra no acesso ao local de metrô e trem, com opções diversas de chegada ao parque. A estação de metrô de West Ham (servida por três linhas de metrô subterrâneo e um de superfície) será o ponto de chegada de parte expressiva do público — a caminhada até o complexo levará de 10 a 15 minutos.

Outra parte considerável do público tem a estação de Stratford — esta localizada dentro do complexo olímpico – como ponto de acesso. Stratford é uma espécie de hub do transporte de massa. Ela é servida por três linhas de metro subterrâneo e um de superfície, além de linha de trem regional e internacional. Espaço para ônibus e carros ocupam áreas periféricas do complexo.

Londres 2012 terá importantes equipamentos esportivos. Isso inclui arenas para diversas modalidades, principalmente o Estádio Olímpico, que será palco da abertura e encerramento dos Jogos. Com 80 mil lugares, receberá também provas de atletismo. Após a Olimpíada, terá parte de sua estrutura desmontada e seu espaço reduzido, passando a ser sede das partidas do time local West Ham na primeira divisão do campeonato de futebol inglês.

No Rio 2016, a abertura e o encerramento dos Jogos será no estádio do Maracanã – este sim mais bem serviço de transporte, com acesso de metrô e trem -, na Zona Norte, e as provas de atletismo serão no Engenhão, também na Zona Norte e servido hoje por linha de trem.

A vila dos atletas se localiza dentro do Complexo Olímpico de Londres. No Rio, a vila dos atletas fica em área próxima ao Parque Olímpico. Assim como fica próximo também o Riocentro (principal centro de exposição do Rio), que sediará algumas modalidades esportivas. O Parque Olímpico do Rio abriga em sua área dois equipamentos esportivos que foram feitos para o Pan-Americano de 2007: Parque Aquático Maria Lenk e a Arena Olímpica. No complexo londrino, todos os equipamentos esportivos foram construídos para os Jogos.

Na cidade do Rio, receberão ainda atividades esportivas, durante os Jogos, outros lugares, como a Lagoa Rodrigo de Freitas, Praia de Copacabana, Marina da Glória, Aterro do Flamengo, Sambódromo, estádio de São Januário e o Maracanãzinho. Fora do Rio, haverá somente jogos do torneio de futebol. Em Londres 2012, na cidade-sede se espalham também várias atividades esportivas. Há ainda outras modalidades – além do futebol – acontecendo fora da capital.

O Rio prevê a construção de uma Vila da Mídia, que seria uma hospedagem para a imprensa (principalmente para quem pagou direitos de transmissão dos Jogos), em local próximo ao Parque Olímpico. Não foi prevista obra desse tipo em Londres.

Contradições

O arquiteto Ricardo Corrêa, da TC Urbes, empresa especializada em mobilidade e projetos urbanos, avalia que o Complexo Olímpico de Londres tem conectividade com a cidade. “Há várias linhas de metrô e trem. Vê-se permeabilidade. Há uma conexão entre pedestres, ciclistas e meios de transporte”, explica.

No Parque Olímpico do Rio, o arquiteto observa, ao contrário, segregação. “Existe uma grande avenida (a Embaixador Abelardo Bueno) separando o local da cidade. Não sei se foi proposital por questão de segurança ou um equívoco”, expõe. De acordo com Corrêa, é a integração com a cidade que se vai garantir o sucesso efetivo do legado. “Deve-se pensar não somente na dinâmica do visitante, mas do morador da cidade após os Jogos”.

A área de estacionamento dentro do Parque Olímpico carioca é um demonstrativo do privilégio ao carro em detrimento a outros meios de transporte. “Essa concentração cria bolsões de lugares que não tem uso”, afirma. O estacionamento do Parque Olímpico do Rio será após os Jogos, inicialmente, área verde, de acordo com o projeto. Depois, serão construídos prédios residenciais. Dada as características de mobilidade ao local, pode-se imaginar no espaço um grande condomínio.

“O espaço urbano é um reflexo da sociedade. E o Brasil é uma sociedade segregada”, conclui o arquiteto.

Gerenciamento
de projetos

O engenheiro Pablo Ibañez, diretor de Operação no Brasil da CH2M Hill, a mesma empresa que junto com a Laing O´Rourke PLC e Mace, criou o consórcio CLM para gerir os projetos dos Jogos Olímpicos de Londres, alerta para a importância do legado. O executivo explica que antes de sua empresa começar a trabalhar para a Olimpíada 2012, havia um planejamento que não contemplava a questão da sustentabilidade a longo prazo.

“O legado tem toda uma conceituação. Foi preciso discutir com governo, Terceiro Setor, comunidades e entidades esportivas sobre a questão. Foram dois anos para definir as obras que poderiam ser executados”, explica, ressaltando que nesse período somente foram realizados trabalhos que não tinham interferência direta com o planejamento estratégico.

Entre os conceitos que Ibañez cita como crucial para o desenvolvimento de projetos como o Rio 2016 estão o de empregabilidade, inclusão social e viabilidade econômica. “Esses itens são mais complexos do que construir”, afirma. A preocupação com o tema se deu principalmente depois que nos últimos Jogos os custos orçados e os custos reais gastos apresentaram diferenças exponenciais. Em Londres, o consórcio CLM chegou a
gerir mil contratos de projetos e obras.

Sobre a diferença de Londres 2012 e Rio 2016, Pablo Ibañez cita o fato da capital inglesa ter erguido seu Parque Olímpico em uma região degradada da cidade, com 90% dos equipamentos esportivos reunidos no mesmo local. “No Rio, parte dos equipamentos já está pronto. A questão maior é a infraestrutura”, lembrando que Londres não teve esse tipo de problema.

Guadalajara 2011 preocupada com a segurança

Os 26º Jogos Pan-Americanos, que se realizarão em Guadalajara, México, de 14 a 30 de outubro, teve outro tipo de preocupação, além da conclusão das obras para receber 6,6 mil atletas e comissões técnicas de 42 países do continente. É que a guerra entre o narcotráfico e as forças de segurança mexicana – que já provocou a morte de 41 mil pessoas desde 2006 – tem sido o principal foco de notícia no País. Não à toa que o Exército e a Marinha mexicanos tenham sido convocados para garantir a segurança do estado de Jalisco, onde está a cidade de Guadalajara, durante os Jogos Pan-Americanos.

Com isso, as obras para o megaevento ficaram em segundo plano, mas não se perdeu de vista. Houve atrasos na entrega do estádio de atletismo devido à falta de verba. Além disso, houve também estouro de orçamento total das obras previstas para o Pan-Americano 2011.

Fonte: Estadão


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