A exemplo do que vem ocorrendo em outras
cidades-sede do Mundial de 2014,a capital baiana se prepara para dar início às obras previstas na expectativa de deixaro legado de mobilidade urbana que a população espera
Representantes do governo da Bahia e da prefeitura de Salvador, e presidentes de três entidades da engenharia local, participaram, dia 25 de agosto último, do encontro regional promovido e organizado pela revista O Empreiteiro, em parceria com a Totvs, para debater programas de obras de infraestrutura, sobretudo de mobilidade urbana, especificadas para garantir o êxito da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. |
Nildo Carlos Oliveira, editor da revista, que a representou na abertura dos trabalhos no Fiesta Bahia Hotel, destacou que historicamente o Brasil apresenta déficits nos transportes urbanos, nas rodovias, ferrovias, portos e aeroportos e que o cronograma estabelecido pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) para as obras da Copa, pode ajudar no esforço em favor da redução das carências na área da infraestrutura.
Hoje, com a construção do estádio Fonte Nova avançando (ela está a cargo do Consórcio Arena Fonte Nova, formado pelas empresas OAS e Odebrecht, com projeto da Setepla Tecnometal Engenharia), Salvador enfrenta uma de suas maiores dificuldades: a mobilidade urbana. A linha 1 do metrô, que se arrasta há cerca de 12 anos, tem apenas 6 km construídos e ainda não entrou em operação. Ao mesmo tempo, terá de ser construída a linha 2, para a interligação com o aeroporto. E está em projeto uma série de obras viárias destinadas a eliminar os pontos de estrangulamento do tráfego urbano, que se torna caótico nas horas de rush.
Sérgio Costa, administrador de empresas e coordenador de projetos do Escritório Municipal da Copa do Mundo em Salvador, fez um relato pormenorizado das providências já em andamento no que diz respeito ao legado físico (infraestrutura, arena Fonte Nova, mobilidade urbana, sinalização turística e hotelaria); legado social (democratização do esporte, sustentabilidade ambiental, qualificação profissional, inclusão social e fortalecimento cultural) e legado institucional (governança, fórum da Copa e monitoramento da parceria articulada entre governo federal e governo estadual).
Ele destacou que haverá investimentos de R$ 41 milhões para a construção de rotas acessíveis e microacessibilidade, incluindo obras de terraplenagem, drenagem, pavimentação, sinalização e iluminação e construção de quatro viadutos, que deverão estar prontos até janeiro de 2013.
A construção de um terminal de passageiros no porto de Salvador, orçado em R$ 36 milhões, a ser entregue até maio de 2013, e uma série de reformas no aeroporto, mediante liberação de recursos que vão de R$ 45 milhões a R$ 127 milhões, se incluem entre outras obras previstas. Sérgio Costa garantiu que o estádio deverá ser entregue entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013 e que, no âmbito de responsabilidade do Escritório Municipal da Copa, todo o monitoramento está sendo realizado para o emprego criterioso dos recursos, dentro dos prazos fixados.
Márcio Lima, coordenador de promoção e eventos da Secretaria Estadual para Assuntos da Copa (Secopa-BA), interveio para dizer que Salvador não desistiu da possibilidade de receber a seleção brasileira no jogo inaugural, sustentando que a capital baiana estará preparada, sob todos os aspectos, em especial do ponto de vista da infraestrutura, para aquela cerimônia, uma vez que o estádio de Fonte Nova terá plenas condições para isso. Caso a Fifa dê um sinal afirmativo, naquele sentido, a arena em construção será de imediato adequada para 60 mil lugares, a capacidade mínima exigida para que ali seja realizado o jogo de abertura.
Mobilidade urbana
Luiz Hebert Silva Motta, diretor da Companhia de Transporte de Salvador (CTS), fez um relato histórico dos equipamentos de mobilidade urbana da capital, lembrando que o sistema de trens urbanos, da antiga Rede Ferroviária Federal S. A., foi transferido para a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em 1988 e que só em 2005 acabou colocado sob a responsabilidade da CTS.
Disse ele que atualmente Salvador está implantando a Rede Integrada de Transporte (RIT), com a qual pretende ajudar na solução da mobilidade urbana para a Copa e com um objetivo mais amplo: deixá-la, ampliada, como um legado para a capital e região metropolitana.
O sistema integra os meios de transporte disponíveis – ônibus, trens urbanos e metrô. O sistema atual de trens urbanos ficou parcialmente prejudicado com a interrupção da ponte São João, que liga os subúrbios de Lobato e Plataforma. Construída em 1860 e reconstruída em 1952, em concreto e ferro, ela integra a linha férrea Calçada-Paripe. Ela está sendo totalmente restaurada e deverá constituir, pelo valor histórico e funcional, um novo ponto de referência urbana.
O diretor da CTS discorreu sobre os planos para a retomada das obras da linha 1 do metrô e construção da linha 2, que terá 22 km de extensão. Essa linha vai conectar-se aos 6 km já construídos.
Alguns dias depois da palestra de Luiz Hebert Motta, no evento OE/Totvs, o governo baiano ratificou a escolha do sistema metroviário como prioritário para melhorar as condições de mobilidade urbana em Salvador. Segundo ele, o modal ferroviário substituirá a opção pelo Bus Rapid Transit (BRT), que fora previsto no PAC da mobilidade urbana em janeiro de 2010. Pelo plano do governo baiano, haverá um esforço concentrado voltado para a revitalização do sistema ferroviário das áreas mais afastadas da região central. No conjunto, as obras previstas nesse plano estão estimadas em R$ 3 bilhões.
Técnicos do governo do Estado e da prefeitura enfatizam que a Via Expressa Baía de Todos os Santos, atualmente em construção, e que ligará a BR-324-BA ao porto local, com 4,3 km de extensão, também vai melhorar bastante o tráfego urbano. Ela evitará que o transporte de cargas pesadas continue a sacrificar o sistema viário tradicional. A via expressa (OE 498) deverá estar concluída, pelos cálculos da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), em 2012.
Expansão do PIB da Construção
Petrus Júnior Evangelista, da Totvs, que fez a palestra inicial, havia realizado um trabalho de pesquisa com base no qual desenhou um panorama da macroeconomia brasileira, a partir de dados de 2010. Afirmou ele que o resultado do PIB naquele ano foi o maior das últimas duas décadas, chegando a 7,49%. E acentuou que a expansão da indústria (10,1%) e dos investimentos (21,8%) também f
oi considerada a maior no período mencionado.
Ele falou das perspectivas para 2010, destacando que a necessidade de investimentos em infraestrutura e transportes em geral alavanca o mercado da construção. E informou que, com a continuidade das obras do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, “e a preparação para a Copa de 2014 e para a Olimpíada de 2016, espera-se uma expansão do PIB da construção da ordem de 5,7% e 6,9% em 2011 e 2012, respectivamente”. Mas salientou que o aumento da taxa de juros impactará diretamente na oferta de crédito, devendo restringir a aquisição de imóveis a um grupo menor de consumidores.
Muita falação
Três debatedores – Carlos Alberto Matos Vieira Lima, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado da Bahia (Sinduscon-BA); Claudemiro Santos Júnior, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva do Estado da Bahia (Sinaenco-BA) e João Batista Paim, presidente do Clube de Engenharia – debateram as questões suscitadas nas palestras.
Eles consideraram que Salvador está atrasada nos projetos e nas obras para a Copa, mas entendem que está havendo um empenho grande, por parte do Estado e da prefeitura, a fim de que as expectativas, com as iniciativas para o evento esportivo internacional, não se frustrem.
O questionamento mais incisivo foi levantado pelo plenário. Um dos diretores do Clube de Engenharia chegou a dizer: “Em realidade, há muita falação. Mas, onde estão os projetos?”.
Fonte: Estadão