Correa ordenou que a construtora brasileira suspendesse as operações no Equador devido a reclamações do governo de que uma hidrelétrica nova, a San Francisco, tinha sido mal construída. O presidente equatoriano enviou tropas para confiscar o terreno ocupado pela construtora, onde estão sendo desenvolvidos projetos no valor de US$ 650 milhões.
Correa afirmou que revisou na noite de terça-feira o relatório final das principais dívidas externas do país com a finalidade de determinar quais empréstimos serão quitados. "Nós estamos pensando seriamente em não pagar o crédito do BNDES, que foi concedido por meio da Odebrecht para construção da hidrelétrica San Francisco", declarou Correa durante entrevista televisiva. A quantia de quase US$ 200 milhões, continua o presidente, tem "inúmeras irregularidades.
O dinheiro foi dado à companhia, mas aparece como um empréstimo do Brasil ao Equador". Os projetos da construtora no Equador incluem um pequeno aeroporto regional, a instalação de duas hidrelétricas e um projeto de irrigação rural.
Procurado pela Gazeta Mercantil, o BNDES disse que não faria declarações sobre o assunto. Porém, de acordo com uma fonte de mercado, os empréstimos feitos pelo BNDES para empreendimentos a serem instalados em outros países tem como seguro um mecanismo chamado de Convênio de Crédito Recíproco (CCR). Segundo a fonte, trata-se de um mecanismo de financiamento que prevê a garantia do pagamento do empréstimo pelo Bancos Central do país que recebeu a verba do BNDES.
Desde que assumiu a presidência em janeiro de 2007, Correa tem preocupado investidores com a ameaça de não pagar alguns débitos estrangeiros que ele considera que foram estabelecidos sob termos injustos por governos anteriores. No entanto, analistas disseram que a ameaça de Correa de não pagar o empréstimo brasileiro faz parte de um discurso popular antes do referendo de domingo para ampliar seus poderes presidenciais. Pesquisas mostram que ele deve vencer. "Correa está apenas tentando fazer da Odebrecht um exemplo. É uma manobra política e eleitoral", disse Enrique Alvarez, chefe de estratégias de dívida para América Latina do IDEAglobal em Nova York. "Não acredito que ele queira concretizar qualquer dessas ameaças", acrescentou.
No ano passado, o ex-ministro da economia lançou uma auditoria no governo sobre as dívidas do país para determinar créditos "ilegítimos", ou empréstimos que ele diz estarem cheios de irregularidades.
A divulgação do relatório final foi adiada por semanas, mas auditores encontraram indicações de "ilegitimidade" nos bônus globais do país em 2012 e 2030. Os bônus globais para 2015 não foram avaliados, disseram auditores. Os três bônus somam US$ 3,8 bilhões, de acordo com dados do Ministério da Fazenda.
Fonte: Estadão