Esses paradoxos inaceitáveis

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Esses paradoxos, conquanto enraizados na realidade brasileira, são inaceitáveis. A notícia está ali, amplamente reproduzida e divulgada, nos informando olhos adentro que o Brasil é autossuficiente na produção petróleo. Se fôssemos ufanistas a Afonso Celso, sairíamos à rua anunciando essa conquista, obtida já há alguns anos e que continua a ser apregoada como a maior glória nacional contemporânea.

Se, hoje, o Brasil já é autossuficiente, imagine-se o que vai acontecer quando a Petrobras começar a operar a produção de petróleo abaixo da camada do pré-sal. Acaso a autossuficiência será observada na boca das bombas de gasolina e seus efeitos serão revertidos em favor do bolso do consumidor brasileiro? Será difícil, muito difícil.

Até hoje, a cada conquista da Petrobras para consolidar a autossuficiência, o preço da gasolina, para o consumidor interno, continua o mesmo ou aumenta mais um pouco. Esta é uma de nossas contradições, conquanto os executivos da empresa encontrem mil e uma explicações para justificá-la. Aquela conversa de que "o petróleo é nosso", não teria ficado enterrada no tempo, se possível, naquela época do heroísmo do Monteiro Lobato?

Outra contradição está em nossas estradas. Elas continuam maltratadas pelas chuvas e, em algumas regiões, pela falta de manutenção permanente. Pontes estão ruindo no Sul e lama soterra as rodas dos caminhões no Centro-Oeste. Leio que isolados pelas chuvas no noroeste de Mato Grosso, "moradores da zona rural pagam até R$ 12,00 por um litro de gasolina". Temos uma Petrobras modernosa, mas, na contramão disso tudo, uma infraestrutura rodoviária – e ferroviária – que empaca o transporte de tantas riquezas geradas no País. Na terra da autossuficiência do petróleo, esse é o cenário que nos angustia.

Sidnei Basile

Sepultado hoje, no Cemitério Gethsêmani, em São Paulo, o corpo do jornalista Sidnei Basile. Ele faleceu vítima de um tumor cerebral. Foi um dos companheiros da redação da FSP naqueles anos da ditadura, agravada em 1968 com a edição do AI-5. Lembro-me dele como um colega muito solidário, ponderado e atencioso.

Fonte: Estadão


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