Estamos numa era de mudanças de paradigmas

Maurício Roscoe*

É claro que a Engenharia Brasileira evoluiu, mas a um ritmo lento se tomamos outros países como referência. Hoje, com a internet, as análises de custos de estradas, viadutos, pontes etc., estão mais fáceis de acessar e nos deixam em situação desconfortável. Nas áreas de edificações, saneamento etc., a situação é assemelhada. Estamos com um gap em custos e tecnologias.

Acredito que o desenvolvimento de novos materiais e equipamentos que facilitam a execução das obras e os sistemas construtivos inovadores são os pontos fortes. Mas devemos manter o equilíbrio e evitar os ufanismos, pois há muito que fazer.

Estamos numa era de grandes mudanças de paradigmas tanto tecnológicas como, especialmente, gerenciais, onde o foco são os macrossistemas e sua produtividade global mais do que pequenas mudanças incrementais. Exemplificando:

Para atender à agricultura o foco não deve ser apenas a construção de boas estradas, armazenagens, silos e portos eficientes, mas as soluções que otimizem não apenas a produtividade de todos os recursos utilizados, mas produtividade global, com a boa logística do sistema como um todo, em seu futuro funcionamento, incluindo até o sistema de financiamento dos estoques reguladores. A engenharia pode e deve dar grande contribuição participando das equipes de planejadores com visão mais estratégica.

Sobre normas. Não vejo problema algum em se adotar uma norma estrangeira, desde que útil e atualizada. O importante, de fato, é que se note que vivemos em um mundo em evolução permanente, hoje cada vez mais rápida. Assim, as normas podem e precisam ser revistas com mais frequência, especialmente quando há inovações ou avanços tecnológicos. Caso contrário podem inibir o desenvolvimento. Aliás, pesquisas inovadoras, pela própria natureza, não devem se submeter a normas, salvo as de natureza ética.

As universidade, apesar da etimologia da palavra, estão formando, de fato, pessoas especializadas, com pouca visão global e sistêmica. Daí, a meu ver, as disfunções citadas. Além disso, a eficácia e produtividade de todo o sistema de ensino, estão abaixo do desejável. Também os empresários, de modo geral, usam pouco a colaboração das universidades. São mundos estanques em termos de diálogo e colaboração, o que prejudica a engenharia e o País.

Há urgente necessidade aí, não mais apenas de pequenas melhorias de processos e novos congressos sobre assuntos especializados, mas, realmente, de uma grande mudança de paradigma: o importante é desenvolver a percepção e o pensamento mais global para visualizar os macro sistemas e buscar sua eficácia e continuidade de bom funcionamento. A metodologia da Qualidade Total, que ensina a buscar a causa fundamental dos problemas, ajuda muito – quando bem praticada.

*Maurício Roscoe, empresário e escritor

Fonte: Revista O Empreiteiro

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