Empresas brasileiras de engenharia vêm aprofundando, a cada dia e a cada projeto e obra, a experiência obtida no campo, invariavelmente delicado, do gerenciamento. Conquanto essencial, pois há quem defenda a necessidade dele até mesmo antes do pré-projeto da obra, esse tipo de trabalho especial enfrenta uma série de dificuldades. É que em algumas áreas persiste a resistência à ideia de que gerenciar é uma prioridade. Alguns empreendedores chegam a argumentar que, dependendo da boa elaboração e condução dos projetos de arquitetura, cálculo e outros, complementares, o gerenciamento pode até ser descartado ou, na melhor das hipóteses, deixado para outra fase do processo – fase final.
A resistência é motivada, a rigor, pela expectativa de que o trabalho vai significar maior desembolso, não se atentando para os benefícios que ele pode proporcionar, na medida em quem identifica falhas eventuais e previne riscos futuros, às vezes de consequências irreparáveis. Além disso, dependendo do porte da obra a ser realizada – ou do propósito cliente -, o contratante resolve radicalizar de um lado ou de outro. Então negligencia a empresa brasileira, por mais experiência que ela possua no segmento específico de sua atuação, e contrata empresa estrangeira. Claro que tanto em um quanto em outro caso cria-se uma situação de insegurança.
É por esse motivo que muitas empresas dessa área costumam incluir o gerenciamento apenas como um item da relação de suas atividades, só ampliando os quadros técnicos respectivos a partir da garantia de que vão realizar, mesmo, determinados empreendimentos. Em resumo: elas ampliam ou reduzem o quadro técnico, à medida que as necessidades e as obras vão aparecendo.
Apesar dessas idas e vindas, a história da engenharia brasileira registra valiosa tradição em gerenciamento. E se mais não faz não é por culpa das empresas, mas do mercado, que às vezes prefere o improviso, em detrimento de soluções baseadas em valores e experiência profissionais.
Do passado ao presente
A história da engenharia brasileiranesse campo está cheia de exemplos importantes. Basta apontar o caso da Themag Engenharia, quando do advento de Jupiá e Ilha Solteira, ou de outras obras, quando lhe coube a tarefa de desenvolver os projetos e realizar o respectivo gerenciamento e acompanhamento, passo a passo.
Da mesma forma é o caso da Promon, que paralelamente aos projetos de sua autoria gerenciou, fiscalizou e exerceu o controle de qualidade de inúmeras obras. Entre os exemplos de obras de sua responsabilidade incluem-se as hidrelétricas da Marimbondo, Água Vermelha, Itaipu, Colbún (Chile) e tantas outras, além de campos diferentes, como os Ciesps projetados por Niemeyer, obras metroviárias, a Linha Vermelha e Passarela do Samba, no Rio de Janeiro, etc.
Está aí também o exemplo da Guimar Engenharia, que responde por diversas obras nessa área, incluindo o projeto de expansão da Aracruz Celulose, considerando o maior e mais bem-sucedido projeto privado, nessa área. O grupo de engenheiros que se reuniu em torno desse empreendimento, no começo dos anos 90, prosseguiu atuando em conjunto, somando as suas experiências em gerenciamento, e disso resultou a consolidação da Guimar, que demonstrou eficiência em obras, tais como Mineração Rio do Norte (ampliação); CVRD (pelotização São Luiz e obras portuárias no Espírito Santo); Valesul (expansão da área de fundição); Petrobrás (gerenciamento de contratos em Macaé) e Edise, no Nordeste. A Guimar registra atuações em muitas outras áreas, incluindo saneamento, energia, transporte, telecomunicações e edificações.
Há, igualmente, a Enerconsult, com tradição em projetos de termelétricas, de que é exemplo a do território do Amapá e da Cesp, conforme contratos firmados pela empresa com essas concessionárias, além de obras para a Siemens do Brasil, Votorantim Celulose e tanto outras. A Enerconsult compreende um acervo de experiência da ordem de quase 40 anos no campo energético e em outras áreas. Em fins de 1999 a empresa foi contratada pela PB Power para supervisionar a implantação das obras civis e elétricas de uma turbina a vapor de 17 MW para a Petroquímica União e, mais recentemente, conduziu a supervisão da implantação do canteiro de obras da TermoBahia e TermoRio, para ABB Alstom Power.
Não se pode deixar de incluir, também, entre as empresas experientes do segmento, a Engineering, fundada em 1975 e que conta, em seu acervo, com obras como o World Trade Center de São Paulo, Centro Empresarial Centenário Plaza, Ambev-Brahma – unidades de Estância, Viamão, expansão da unidade Rio, do Paraguai e de outras regiões. Ela cuidou também da construção do Call Center da Vésper, em Macaé, da recuperação histórica e cultural do Santander Cultural, em Porto Alegre (RS), a cargo da Método Engenharia, e do Teatro Abril (antigo Paramount), obra a cargo da Racional Engenharia, em São Paulo (SP). A empresa tem ainda inúmeras obras em seu currículo, como a reforma do Copacabana Palace e Hotel Le Meridien, no Rio de Janeiro.
Da mesma forma, está o rol das empresas do setor a EPC Engenharia Projeto Consultoria, pioneira na utilização do método NATM na abertura de túneis em Minas Gerais. Essa empresa participou também da implantação de Açominas; de projetos para aproveitamento de ouro da CVRD; da UHE Carvalho, da Acesita, e da implantação da Albras e a Alunorte, no período de 1986-1995.
Outra empresa que, além de gerenciamento, tem desenvolvido outras atividades afins, é a projetista Enit, responsável por obras como o Müller Shopping, Morumbi Shopping, Center Vale Shopping, edifício-sede da Telemig, Diamond Mall, Projac (Rede Globo), Alphaville – lagoa dos Ingleses – e outras inúmeras obras em diversas regiões do País.
Cabe destaque também para a Jaakko Pöyry, fundada no Brasil em 1974 com 100% de capital finlandês, Para executar serviços de engenharia destinados à instalação da primeira planta para a produção de celulose a partir do eucalipto. Desde sua fundação, a empresa participou de outras importantes fábricas de celulose e papel, entre as quais a Klabin (1974), a Celulose da Bahia (1974), Cenibra (1975), Riocel (1975), Ripasa (1975), Melhoramentos (1977), Jari (1977), etc. Em 1978, a então Jaakko Pöyry Engenharia, foi nacionalizada com a aquisição de 60% do capital pelos diretores brasileiros da época, liderados por Reinaldo Conrad.
Constitui nome de prestígio no campo do gerenciamento a Maubertec Engenharia, com obras realizadas em São Paulo e em diversas regiões do País. Entre obras de sua responsabilidade, nesse campo, incluem-se o gerenciamento do plano de expansão da Comgas; trecho da rodovi
a Carvalho Pinto; gerenciamento de obras do Pequeno Anel Rodoviário de São Paulo; obras da CDHU; expansão do porto de Santos; trecho do Rodoanel e gerenciamento de obras rodoviárias na Argentina.
Além da Maubertec, a Logos e a Ductor têm desempenhado também importante papel nessa área.
Em resumo: no campo do gerenciamento da engenharia, o Brasil dispõe de empresas consistentes, calibradas na experiência e na prática do dia a dia. Elas precisam apenas da ampliação do mercado, para crescer mais.
Fonte: Padrão